Lenine lança álbum de estúdio após 10 anos com tom de celebração ao Nordeste
Com onze faixas inéditas, "Eita" é um manifesto sobre liberdade autoral
Eeeeeita que é bom avisar sobre as linhas a seguir: contêm pessoalidades, intimidades e sonoridades rigorosamente nordestinas criadas por quem, até então, havia assinado o último disco de estúdio (“Carbono”) há dez anos.
Um ‘tempo’ rompido hoje nas plataformas digitais, com o álbum “Eita”, mais uma das artesanias harmoniosa do cantor e compositor pernambucano Lenine.
A sua mais nova (re)invenção soma-se a um projeto em audiovisual que expõe a mente criativa de um dos nomes mais potentes da música brasileira. E como o próprio reitera ao falar sobre o trabalho, “é um filme para se ouvir e um disco para se ver”.
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Com onze faixas inéditas, “Eita” é um manifesto sobre liberdade autoral. Familiar desde a concepção e íntimo em parcerias, o trabalho chega no momento que deveria chegar, em tempo hábil para atestar o quão primorosa é a obra de um artista que (re)abastece musicalmente a si mesmo e a quem se deleita em conhecer sua obra.
“Eu sempre fui artesão no meu fazer (…) eu mensurava que precisava de um tempo para ir em todos os lugares que eu queria, com o projeto que eu tinha acabado de fazer”, reflete Lenine, em uma conversa com a Folha de Pernambuco movida a ‘eitas’ de lá e de cá, regado a um nordestinês tão arretado quanto as participações especiais da faixa-título.
“Faz um ‘eita”?
“O ‘Eita’ tem simbologia, é uma homenagem ao Nordeste, e eu queria nordestinos incríveis emprestando seus ‘eitas’ para mim”, conta ele, que não hesitou em pegar o telefone e... “Tu faz um eita pra mim’?. E assim, em sotaque alagoano, maranhense, pernambucano e baiano, a canção teve o incremento da interjeição pronunciada por Djavan, Alcione, o presidente Lula e Ivete Sangalo.
Jovens e veteranos
A liberdade criativa seguiu em parcerias com novos compositores e nomes já fincados no universo das preciosidades musicais, entre eles os de Lula Queiroga e Siba, nas respectivas “O Rumo do Fogo” e “Malassombro”.
“Eita” contou com os filhos de Lenine, Bruno Giorgi, inclusive na produção musical, e com João Cavalcanti, com quem assina “Foto de Família” - faixa para ser p-e-r-c-e-b-i-d-a. A propósito, a interpretação é de Maria Bethânia.
“Quando João mandou a letra, quase que simultaneamente fiz a música. (...) De imediato pensei ‘se Bethânia canta isso’’... tem o rasqueado de quem interpreta e dá peso às palavras”, conta ele, ressaltando que a foto existe de verdade. A faixa, aliás, é dedicada à sua mãe. Já o Terreiro Xambá é celebrado em toques, loas e danças em “Boi Xambá”, em memória de Guitinho - cantor e compositor do Bongar, que se foi em 2021, aos 38 anos. A música foi uma encomenda dele.
“Na mosca”
A porta de entrada de “Eita” instiga a degustaro que vem a seguir, e tem assinatura da pernambucana Luíza Morgado. Foi a ela que Lenine entregou a missão de desenhá-la.
“Eu sempre visualizo (a capa). E proponho (...) Os símbolos me estimularam a fazer as canções. Ela acertou na mosca”, enaltece, sobre a capa concebida em linogravura, com fotografia de Flora Pimentel. Para além do ouvir, “Eita” é também para ser visto. Direcionado por Lenine, virou filme. Tal qual o que se ouve, o que se assiste atravessa paisagens, reais e imaginárias, e acessa Lenine em referências, por exemplo, à sua companheira Anna, a quem ele dedica a faixa “Meu Xamêgo”. Mas existem também outros eixos que lhe causam admiração e fundamentam “Eita”.
“A Música Contemporânea Brasileira tem quatro pilares: Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, Letieres Leite e Dominguinhos. Podia botar outros quatro, mas escolhi estes de uma maneira muito passional”, encerra o dono do “Eita” mais poderoso dos últimos tempos no universo musical deste País.

