Matteo Garrone dirige adaptação mais fiel de 'Pinóquio'
Com Roberto Benigni no papel de Gepeto, filme traz versão sombria do clássico
A história do boneco de madeira que quer ser um menino de verdade já era um clássico bem antes de virar uma animação de sucesso. A versão lançada pela Disney em 1940, no entanto, é a que prevalece no imaginário popular. “Pinóquio”, a mais nova adaptação da obra, chega hoje às salas de cinema brasileiras e promete ser mais fiel ao original.
Escrita por Carlo Collodi, a famosa fábula infantil foi publicada pela primeira vez em 1883. Ela apresenta as aventuras de um boneco que, após ser esculpido a partir do tronco de uma árvore pelo marceneiro Gepeto, ganha vida própria. O novo live-action resgata aspectos da trama que a Disney tratou de suavizar dando um tom mais colorido aos desatinos vividos pelo personagem.
O diretor Matteo Garrone (“Gomorra”, “Dogman”) traz um longa-metragem sombrio, assim como a história criada por Collodi. Partes da obra literária, propositalmente esquecidas em outras versões cinematográficas, ganham destaque no filme. Vemos, por exemplo, Pinóquio (Federico Ielapi) sendo enforcado, jogado vivo ao mar e queimando as pernas por descuido ao dormir perto de uma lareira.
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Todo o contexto social que serve de pano de fundo para o texto de Collodi também é resgatado pelo cineasta. Gepeto vive em um vilarejo da Toscana, na Itália, assolado pela fome e por um rigoroso inverno. Corrupção, pobreza e desigualdade social rondam a jornada do marceneiro e de seu amado filho de madeira. Há uma cena emblemática em que um juiz-macaco, em um tribunal em ruínas, decide prender Pinóquio por ser inocente. É uma crítica do autor à Justiça em seu país e no seu tempo, mas que também encontra conexões com a realidade brasileira atual.
A simplicidade da história é traduzida na tela em cenas sem grandes efeitos especiais. Figurinos e uma maquiagem primorosa é que transformam o elenco em seres fantásticos, alguns com aparência animalesca. Nada das recriações virtuais comuns aos recentes remakes hollywoodianos. O resultado é de uma rara beleza que só habita na genuinidade de obras que não se envergonham de abraçar a singeleza.
Cena de "Pinóquio" (Foto: Divulgação)Garrone tem ainda como grande trunfo a participação de um ator do tamanho de Roberto Benigni, vencedor do Oscar de 1999 por “A Vida é Bela”. Assim como no filme que o consagrou mundialmente, o italiano aqui vive um pai dedicado. Gepeto possui um amor ingênuo que o faz acreditar cegamente no filho e, mesmo decepcionado, não mede esforços para reencontrá-lo.
Essa não é a primeira vez que Benigni adentra o universo criado por Collodi. Em “Pinocchio e a Fada Azul”, filme que ele próprio dirigiu e estrelou, deu vida ao boneco de madeira. Agora ele empresta seus trejeitos farsescos para um Gepeto errante e apaixonante.
Novas versões
Há ainda mais duas adaptações das aventuras de Pinóquio sendo produzidas para o cinema. Uma delas é da Disney, que já revisitou alguns de seus clássicos animados em formato live-action, como “O Rei Leão” e “Cinderela”. O que se sabe até agora sobre o novo filme é que ele será dirigido por Robert Zemeckis (“De Volta para o Futuro”) e terá Tom Hanks como Gepeto.
Outro projeto será lançado pela Netflix, com direção do mexicano Guillermo Del Toro. Será uma animação em stop-motion com estreia prevista ainda para 2021. O cineasta já revelou que tomará algumas liberdades em relação à obra original, transformando Pinóquio em um herói antifa. O elenco conta com nomes como Tilda Swinton, Christoph Waltz e Cate Blanchett.

