"Não amei meus filhos assim que nasceram", diz Alexandre Nero
Intérprete do vilão Marco Aurélio de 'Vale tudo' conta, em entrevista ao videocast 'Conversa vai, conversa vem', sobre como o amor construiu aos poucos o amor paterno
Pai de Noá, de 9 anos, e Inã, de 6 anos, frutos do casamento com a figurinista Karen Brusttolin, Alexandre Nero não amou seus filhos assim que eles nasceram. Em entrevista à jornalista Maria Fortuna no "Conversa vai, conversa vem", videocast do jornal O Globono ar no Youtube, ele conta como o amor paterno foi despertando aos poucos dentro nele.
Leia abaixo:
Você ficou completamente órfão aos 17 anos. O medo da morte te fez ser um pai muito preocupado, tipo "filho, não corre"?
Muito. Essa é uma questão que ainda tenho que lutar muito. Tudo para mim é uma tragédia. Tudo é "não, calma, não faz isso". Fico assustado com as coisas, tudo acho que vai dar merda. Toda vez que vamos viajar, pegar um avião, falo "Meu Deus!". Toda vez que meus filhos fazem algo bacana, falo: "Se meu pai estivesse aqui, ia curtir pra caralho". Dá aquela dorzinha. Mas só sou essa pessoa porque aconteceu isso comigo. Só sou esse músico, esse ator, essa cara que está te dando essa entrevista, o pai do Noá e do Inã porque aconteceu essa tragédia na minha vida. Se não, minha vida teria tomado outro rumo.
Leia também
• Alexandre Nero sobre a perda dos pais na adolescência: "Dormia com a morte, a vida não tinha valor"
• Alexandre Nero fala do papel de galã: "Ninguém é bonito a vida toda... só o Fabio Assunção"
• Alexandre Nero analisa a construção do vilão Marco Aurélio, de "Vale Tudo"
Só foi pais aos 45 anos. Ter perdido pai e mãe te fez retardar a paternidade?
Certamente. Eu não entrava nos relacionamentos, o amor para mim não existia. Estava sempre com um pé lá e outro cá, não botava fé, fugia. Estava sempre tentando provar: "Vamos ver se essa pessoa me aguenta mesmo". E dá-lhe pancada. Karen foi essa pessoa que falou: "A gente tá junto, não vai acabar, não". Ali, falei: "Cara, aqui eu tenho um cais, aqui me sinto seguro".
Já me disse que amor é esforço repetitivo e que não amou seus filhos assim que nasceram.
Tem esse romantismo, e sempre pensei que fosse assim: "Ah, o amor de filho". Quando nasceu, olhei aquela criatura na maternidade e pensei: "Cadê aquele negócio, não estou sentindo nada, é um porquinho". Só consegui entender esse amor com a convivência, o dia a dia. Com Inã, demorei ainda mais para amar. Porque ele é mais espoleta, arredio. Chegou uma hora que eu falei: "Cara, não amo esse moleque, não". Mas aí, você bota pra dormir, troca a fralda, vai pegando o cheiro e o negócio vai explodindo. Vêm as demonstrações de afeto e você começa a falar: "Tá me derretendo, esse moleque tá me pegando". Não tenho dúvida que o amor é construção.

