Sáb, 06 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Televisão

"Não estou pronto para me aposentar", diz Bonner, recordista na bancada do JN; relembre trajetória

Jornalista sai do Jornal Nacional em novembro e, em 2026, começa no Globo Repórter

 Anúncio da saída de William Bonner foi feito nesta segunda-feira (1º) pela TV Globo, que comunicou também César Tralli como o novo nome da bancada do principal telejornal da emissora Anúncio da saída de William Bonner foi feito nesta segunda-feira (1º) pela TV Globo, que comunicou também César Tralli como o novo nome da bancada do principal telejornal da emissora - Foto: TV Globo/Reprodução

Depois de quase 30 anos de "boa noite", o jornalista William Bonner está de saída do Jornal Nacional a partir de 3 de novembro. Em fevereiro do ano que vem, ele estará no Globo Repórter, programa que vai apresentar com Sandra Annenberg.

O anúncio foi feito nesta segunda-feira pela TV Globo, que comunicou também César Tralli como o novo nome da bancada do principal telejornal da emissora. O Jornal Hoje agora passa a ser comandado por Roberto Kovalick, que também deixa o Hora Um e é substituído por Tiago Scheuer.

Num almoço para imprensa na tarde desta segunda-feira, o jornalista frisou que a decisão foi puramente pessoal. Com dois dos três filhos morando na França, ele quer se dedicar mais à família, sem, no entanto, parar de trabalhar.

— Não estou pronto para me aposentar, só estava precisando mudar de ares e ter uma rotina nova — disse Bonner. — Depois que avisei que gostaria de mudar, a Globo e eu não concordamos de imediato com esse calendário. Eu tinha uma urgência, mas nós entramos num acordo, porque era evidente que uma movimentação dessa natureza deveria ser feita com calma.

Do rádio para a TV
Paulistano de 61 anos, Bonner estudou na Escola de Comunicação e Artes da USP, onde aprendeu o ofício da locução de rádio. A carteira de trabalho, porém, foi assinada em 1985, na TV Bandeirantes, em São Paulo. Tão logo foi admitido na emissora, começou testes para apresentar um telejornal local. Pouco depois, já estava em rede nacional, na bancada do "Jornal de Amanhã".

Na época, o jornalista era ainda William Bohemer Junior. A mudança de sobrenome ocorreu apenas em 1986, quando começou na TV Globo, na função de apresentador do "SPTV – 3ª Edição" e achou melhor se diferenciar do pai, um médico pediatra. Daí para outros programas da casa foi um pulo: "SPTV – 2ª Edição" em 1987, cobertura de férias na apresentação do "Jornal Hoje", quando morreu Chacrinha logo no primeiro dia na função.

— Detesto dar notícia de morte — disse Bonner ao Globo , em 1988, quando entrou no Fantástico, ao lado de Valéria Monteiro e Sérgio Chapelin.

Ele ficou no programa dominical até o ano de 1990 e acumulou a função com a bancada do Jornal da Globo, de 1989 a 1993. Depois, voltou para o Hoje e, em 1996, veio o grande convite: a bancada do maior telejornal do Brasil. Ao site Memória Globo, Bonner contou como foi o convite, feito pelo diretor de jornalismo da emissora na época, Evandro Carlos de Andrade. Bonner voltava de férias e recebeu um telefonema do chefe, que pediu absoluto sigilo sobre o tema da conversa.

“Eu falei: ‘ok, Evandro, (o segredo) só não vale para a Fátima (Bernardes), não é?'", disse Bonner, referindo à jornalista, com quem ele foi casado de 1990 a 2016 e veio a dividir a bancada, de 1998 a 2011. "Mas ele disse que não podia contar nem para a Fátima. Aí fiquei nervoso. Depois, ele me ligou de novo e disse que tinha reavaliado algumas coisas e que eu podia contar para a Fátima".

No dia 1° de abril de 1996, ao lado de Lillian Witte Fibe, com quem ele dividiu a bancada até a chegada de Fátima, em 1998, Bonner fez sua estreia. A manchete lida na primeira escalada foi "acusação de desvio de dinheiro leva banqueiros para a cadeia".

De lá para cá, foram mais de 10 mil edições e milhares de notícias: boas, ruins, surpreendentes, urgentes, esperançosas. Pelo JN, que existe desde 1969, William Bonner informou os brasileiros sobre sete Copas do Mundo (inclusive o pentacampeonato em 2002), três econclaves papais e sete eleições presidenciais no Brasil e sete nos Estados Unidos.

Ele também deu as notícias do 11 de setembro de 2001, do assassinato do colega do Tim Lopes, em 2002; e da morte de Roberto Marinho, em 2003, todas elas já no cargo de editor-chefe do telejornal, que ocupa desde 1999.

Em 2020, William Bonner comandou a equipe durante um dos momentos mais desafiadores da humanidade: a pandemia de Covid 19.

"Nós passamos por isso de uma forma heroica, porque foi o momento em que o jornalismo precisava esclarecer a população sobre questões da crise sanitária, mostrar onde a situação era mais grave, os avanços da ciência e das vacinas", disse o jornalista ao Memória Globo." E aí sobreviveram os escândalos de negligência do governo federal, e em meio a isso tudo a gente tinha ainda que desmentir a desinformação que era criada em redes sociais. Não tem quem tenha passado por isso que não guarde uma memória muito dolorosa, mas um orgulho enorme de quão valentes nós fomos e quão úteis para a sociedade."

Nos quase 40 anos de bancada de telejornais — que seguem agora no Globo Repórter —, Bonner olhou de perto as mudanças sofridas no jornalismo.

— Acabou uma coisa chamada deadline — disse Bonner, no "Conversa com Bial" em abril deste ano. —O deadline é uma ideia segundo a qual, num certo momento do dia, a edição de um jornal ou telejornal está fechada. Depois daquilo, não entra mais naquela edição porque não vai mais dar tempo. Isso acabou. A outra coisa que mudou é que nosso cardápio teve que ser enriquecido ou talvez empobrecido por uma tarefa que não nos cabia. Nossa tarefa sempre foi resumir o que tinha acontecido no Brasil e no mundo. Hoje essa tarefa não faz muito sentido porque no fim do dia todo mundo já viu telinha iluminadas. Entrou um ingrediente a mais que é desmentir o que circulou ao longo do dia.

Veja também

Newsletter