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Novo longa de Clint Eastwood não vai além de bom divertimento

Em 'A Mula', ator e diretor permanece na sua zona de conforto

Earl Stone (Clint Eastwood): aventura que se perde no roteiroEarl Stone (Clint Eastwood): aventura que se perde no roteiro - Foto: Warner Bros/Divulgação

No início da faculdade de jornalismo, a professora Stella Maris Saldanha me avaliou. “Sua matéria não tem nenhum erro: nota oito”, disse. Não entendi por algum tempo. Mas, depois de ter pego a ideia, é ela que vem à cabeça quanto à direção e à atuação de Clint Eastwood em seu novo filme.

Eastwood não sai da zona de conforto em nenhum dos 116 minutos de “A Mula”. Mas, talvez não devesse sair. Ele faz sua parte. Interpreta o veterano da guerra do Vietnam ocasionalmente preconceituoso que todos acabam por perdoar, por se tratar de um idoso frágil e simpático.

A vulnerabilidade do corpo contrasta com os erros que comete, tornando-o… fofo. Se o personagem lembra o protagonista Walt Kowalski, de "Gran Torino", não é à toa. O mesmo roteirista, Nick Schenk, é responsável pelos dois filmes. A diferença é que o filme de 2008 é uma obra de arte. “A Mula” é só um ótimo filme para quem quer se divertir.

A direção é eficiente: nota oito. Eastwood não perde a mão. Pelo contrário, as mantêm firme e consegue fazer a aventura de um idoso de 90 anos perder toda a monotonia, sem firulas. O idoso da trama é Earl Stone, uma reformulação de uma pessoa real chamada Leo Sharp.



Ele se tornou uma lenda urbana em 2014, ao traficar milhares de quilos de cocaína para o Cartel de Sinaloa, sob comando de Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo. Earl é um criador de lírios premiado, que abriu mão da família para cuidar das plantas. O problema é que a internet acabou com o seu negócio. Havia perdido tudo.

O perfil de Earl é perfeito para o crime: suas rugas e, principalmente sua etnia, branca, estão acima de qualquer suspeita. Tanto que o filme explora essa sua característica à exaustão.

Sem nenhuma multa e tendo dirigido por 41 dos 50 estados, é cooptado pelo tráfico de cocaína. Deve dirigir por uma rota interestadual. Só. O cartel carrega a camionete e pega a entrega no destino. Ele aceita.

É com o tráfico que ele planeja resolver os problemas com a família. E é aí que se encontram os únicos problemas reais do filme, que são de roteiro. As cenas que que buscam trazer uma motivação para as viagens e as que envolvem a relação de Earl com a família não convencem.

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As primeiras aparecem como um Deus Ex Machina quando o roteiro precisa delas. As outras, com a família, talvez por uma tentativa de apresentar - e às vezes desenvolver - os personagens no menor tempo possível, são extremamente artificiais.

Lembram com frequência "Menina de Ouro" (2004), com o qual Clint venceu o Oscar de melhor filme e melhor direção. Só que elas lembram de uma maneira ruim. Como um filho de cantor que tenta cantar e desafina.

COTAÇÃO: Bom

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