Obra de Lula Côrtes é transformada em jogo digital
Livro-jogo 'Caminho da Montanha do Sol' adapta texto do encarte do disco 'Paêbirú', de 1975
Artista multifacetado, Lula Côrtes usou diferentes plataformas para dar vazão à sua criatividade. Além de cantor, instrumentista e compositor, ainda foi pintor e publicou livros de poesia. Daria para imaginar que agora, dez anos após a morte do pernambucano, ele também inspiraria o universo dos games?
Criado em parceria pela Rede Lula Córtex e a editora Castanha Mecânica, o livro-jogo “Caminho da Montanha do Sol” resgata o texto do icônico disco “Paêbirú”, lançado em 1975. Parceria única entre o pernambucano Lula Côrtes e Zé Ramalho, a obra em sua edição original é o vinil mais raro e caro do Brasil.
O lendário álbum teve sua trajetória marcada por uma enchente que destruiu 1.000 das 1.300 cópias produzidas pela gravadora Rozenblit. Seu encarte original, uma espécie de livreto, é repleto de imagens e ilustrações, resultado das várias idas da dupla à Pedra do Ingá, na Paraíba. O texto, no entanto, não esteve presente em outras edições do disco. Dar maior visibilidade aos escritos é um projeto que Nemo Côrtes, filho do multiartista e articulador da Rede Lula Córtex, vem alimentando.
Leia também
• 51,5% do público gamer no Brasil é composto por mulheres
• Negros são maioria entre os gamers no Brasil, mas não veem o seu reflexo nas telas
• 'GTA V' e 'MLB The Show 21' entre os títulos do Xbox Game Pass de abril
“A gente já vem, há um tempo, buscando resgatar produções do meu pai e tentando trazê-las para novas mídias digitais. Estávamos trabalhando com a ideia de um e-book de ‘Caminho da Montanha do Sol’, porque vemos esse texto como um manifesto da época que acabou sendo invisibilizado”, explica o herdeiro de Lula Côrtes.
Com a chegada da pandemia, no ano passado, a equipe que trabalhava na adaptação da obra passou a ser provocada por novas formas de interação. Os produtores chegaram a lançar um podcast com o conteúdo, mas queriam ir além. Incentivado pelo lançamento dos editais da Lei Aldir Blanc, transformaram o e-book em uma proposta híbrida entre literatura e game. O jogo digital já está disponível para acesso em computadores e pode ser baixado em smartphones.
“Nossa ideia sempre foi criar um ambiente de imersão. O próprio encarte do ‘Paêbirú’ traz, a partir de tantas imagens, uma vida maior ao texto. Sentimos que, colocando isso em um livro em preto e branco, ficaria faltando algo. Aí a gente começou a refletir sobre como tornar isso interativo. Flávio Lima, nosso programador visual, já tinha uma experiência com gamificação e chegou com a proposta. Achamos incrível, porque traria a interação que a gente queria tanto”, relembra.
À medida que avança nas fases do jogo com um avatar que representa o próprio Lula Côrtes, o usuário lê os escritos e interage com elementos que fazem parte da obra. Referências do texto, como os cogumelos alucinógenos, são representados graficamente ao longo da experiência. “O texto bem lisérgico, fala de uma viagem tanto física como psicodélica. O game entra nesse cenário, repleto também de referenciais dos contos e causos região”, detalha Nemo, que assina a coordenação artística do projeto. A coordenação editorial é de Fred Caju e a produção é de Bruna Mascaro.
Memória preservada
Criada há cinco anos, a Rede Lula Córtex desenvolve outras iniciativas visando preservar o legado e manter viva a memória do artista pernambucano. Ainda este ano, a equipe pretende apresentar o resultado do projeto de pesquisa “Atípicos”, aprovado pelo Funcultura em 2018, relacionado à obra visual do multiartista.
Todas essas criações estão sendo mapeadas e catalogadas. “Vamos digitalizar e lançar tudo em um site, que deve convergir toda a produção artística do meu pai, incluindo música e literatura”, aponta. A previsão é inaugurar o portal no dia 9 de maio, quando Lula Côrtes completaria 72 anos de idade.

