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SAMBA

Em "Quinhão", seu segundo álbum, Mosquito alça seu nome entre os grandes do samba

Novo trabalho, com produção de Pretinho da Serrinha, sai dez anos após o disco de estreia e celebra parcerias diversas

MosquitoMosquito - Foto: Fernando Young/Divulgação

Figura de renome nas rodas de samba cariocas, Pedro Assad Medeiros Torres, conhecido popularmente como Mosquito, lançou, neste mês de julho, mais uma contribuição sua para o cancioneiro construído pelos bambas deste País: o álbum “Quinhão”, que referenda seu nome entre os grandes do samba no Brasil, representante de uma linhagem que tem Zeca Pagodinho como um dos pontas de lança.

Com produção do requisitado Pretinho da Serrinha, “Quinhão” traz dez faixas em que Mosquito, partideiro dos bons, desfila, com nobreza e elegância – seja no seu canto quanto em suas composições –, não só pelo partido alto, mas por outras vertentes do samba, e se cerca de parceiros diversos, como Teresa Cristina e Mart’nália, além de gravar uma composição de Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Cezar Mendes e Carminho.

Quinhão
Dez anos separam a estreia fonográfica de Mosquito, "Ô Sorte" (2015), e “Quinhão”. “Eu acho que foi um tempo, talvez, de amadurecimento”, conta o sambista em entrevista à Folha de Pernambuco.

“Nesses últimos anos, eu estive na correria, trabalhei bastante, fiz bastante coisas relevantes para minha carreira (...) evoluí bastante e acho que valeu a pena a espera”, completa.

Na Língua Portuguesa, “quinhão” significa “o que cabe ou deveria caber a uma pessoa ou coisa”, ou seja, a parte que cabe a alguém em algo. Podemos dizer que este segundo álbum é um “quinhão” de Mosquito no samba, a parte que lhe cabe na música popular brasileira.

“O que eu tenho dito é que eu não sou herdeiro de nada, mas que deixo minha música como herança. Então, esse disco é um pedacinho da herança musical que vou deixar. Acho que é um disco diferente, não é um disco óbvio pro que tem acontecido”, explica Mosquito.

Sambas e sambas
“A minha paixão pela música se deu pelo samba. Foi o samba que me levou para a música, que me fez um cantor. Digo que sou sambista, e me sinto sambista, acho que samba é a minha praia e onde eu quero fincar minha bandeira, sabe?”, exalta Mosquito o ofício artístico que resolveu seguir há cerca de 20 anos. Hoje, ele tem 38.

Em “Quinhão”, o samba reina soberano, mas, sob várias vestimentas. Apesar de ter o partido alto como seu forte, no álbum, Mosquito também canta samba de roda (“Mãinha Tinha Razão”, que abre o disco, samba de breque (“Vegetariando”), ijexá (“17 de Janeiro”), gafieira (“Vida de Moleque”) e algo entre o calango e o maxixe (“Caranguejeiro”).

“Eu adoro a diversidade, a possibilidade da diversidade… e queria que fosse um disco diverso, até para tentar mostrar alguma versatilidade como compositor, como intérprete”, conta Mosquito.

Parcerias
Em “Quinhão”, a diversidade de possibilidades do/no samba também se reflete nas variadas parcerias que ele arregimentou para as canções que compõem o álbum.

Das dez faixas de “Quinhão”, sete são de autoria de Mosquito. Duas delas, ele assina sozinho: a divertida “Vegetariando” e “Rabo de Saia”, letra atenta ao racismo e ao classismo e que reverencia as conquistas possíveis às lutas ancestrais.

Na lista de parceiros, Mosquito compartilha composições com Gilson Bernini, em “Mãinha Tiha Razão”; Elvis Marlon, em “Quinhão”; Leandro Fregonesi, em “Caranguejeiro”; Claudemir, em “Pega pega”; e Teresa Cristina e Mart’nália, em “17 de Janeiro”.

Como intérprete, Mosquito trouxe para “Quinhão” uma regravação: “Desistiu de mim”, de autoria de Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Cezar Mendes e Carminho, lançada originalmente em 2018, no álbum “RSTUVXZ”, de Arnaldo.

Mosquito conta que ouviu essa música através do violonista baiano Cezar Mendes, um de seus autores – “Sou muito amigo de Cezar, ele é um grande mestre, me ensinou os primeiros acordes de violão, que eu estou aprendendo até hoje”, conta.

De Inácio Rios e Galvão Filho, Mosquito gravou “Banho-maria”. A faixa traz a participação do maestro caruaruense Rildo Hora, na gaita, e do autor Inácio Rios dividindo os vocais com Mosquito.

Encerrando “Quinhão”, Mosquito canta o samba de gafieira “Vida de Moleque”, de autoria de Thiago da Serrinha. 

Com a nobreza de quem representa importante linhagem no samba, Mosquito nos presenteia com um álbum consistente, elegante, que põe o gênero em alto patamar, como ele merece.
 

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