Série 'O Mecanismo' gera polêmica e boicote à Netflix
Repercussão da trama inclui manifestações de diferentes grupos políticos, entre pedidos de boicote e cancelamento das assinaturas e mensagens de apoio
Baseada no Livro 'Lava jato: o juiz Sérgio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil', de Vladimir Netto, a série "O Mecanismo", lançada pela Netflix na última sexta-feira (23), estreou acompanhada de um arsenal de polêmicas. A estreia da produção dirigida por José Padilha (o mesmo de "Tropa de Elite") ocorre em meio ao julgamento do recurso de defesa do ex-presidente Lula sobre o tríplex do Guarujá, em São Paulo, e reações como o apedrejamento da sua caravana na região Sul.
As reações vieram de todos os lados, deixando a série sobre os bastidores da operação que está em vigor desde 2013 envolta em movimentos que variam entre pedidos de boicote e cancelamento das assinaturas da plataforma de streaming a mensagens de apoio.
Em texto compartilhado nas redes sociais e em posts com a hashtag #cancelanetflix, grupos de esquerda pedem para que os telespectadores entrem no site da empresa e concedam classificação negativa à série para que os outros "percam o interesse" pelo produto. Para eles, trata-se de "uma manipulação política criada pela direita para promover as aberrações da Lava Jato". Em nota oficial divulgada em seu site, a ex-presidente Dilma Rousseff afirma que "O Mecanismo" é um "mecanismo de José Padilha para assassinar reputações".
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A professora do curso de Direito da Faculdade de Direito (FDR) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Liana Cirne Lins classifica o boicote como uma forma de protesto pouco praticada no Brasil. Ela, que cancelou a sua assinatura da Netflix no domingo (25), defende o gesto como um instrumento do qual dispõe para se comunicar com quem era sua prestadora de serviços. “Como consumidora, é um dispositivo legítimo que possuo para me manifestar, para dizer que não pactuo com isso e que ela errou, do meu ponto de vista”, disse.
Liana afirma ainda que o seriado afeta o processo eleitoral brasileiro, pois ataca um pré-candidato à Presidência da República. “O Padilha [diretor de “O Mecanismo”] simplesmente inverteu os personagens. Uma fala do Romero Jucá é apresentada como sendo do personagem do ex-presidente Lula. Isso é muito grave”, critica. Ela se refere a uma fala do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre “estancar a sangria”, dita à época do processo do impeachment de Dilma Rousseff, que foi atribuída a Lula na série. “Lula é pré-candidato e esse seriado tem objetivo deliberado de prejudicar a sua candidatura”, completa.
“Se fosse um seriado que tivesse fidelidade aos fatos, até que seria aceitável, mas torturar os fatos e apresentar a mentira como se fosse verdade é inaceitável”, finaliza Liana, que afirma não ter “problema algum em ficar sem Netflix”.
Presidente do grupo Direita Pernambuco, o estudante de História Gustavo Henrique classifica o boicote como uma “babaquice”. “Gritam tanto por liberdade, mas querem restringir a liberdade da Netflix. Se fala tanto de liberdade, mas na hora de exprimir a liberdade sobre a opinião de um determinado fato, eles [a esquerda] cessam a liberdade do indivíduo”, criticou o universitário.
Gustavo afirma que o boicote é um instrumento da democracia e qualquer pessoa tem esse direito. “A série é um mecanismo de produção de informação e o boicote é um direito. Mas, por que restringir as informações sobre a Lava Jato no formato de série?”, questiona. Para rebater a campanha contrária a “O Mecanismo”, o presidente do Direita Pernambuco promete lançar um movimento de apoio. “Tentarei fazer um campanha reversa, para que as pessoas avaliem muito bem a série e venham mais assinantes”, completou.
A série
A sinopse oficial de "O Mecanismo" rotula a série como "inspirada em fatos reais". Protagonizada por Selton Mello, Caroline Abras e Enrique Díaz, tem oito episódios de aproximadamente 40 minutos cada. A produção fala sobre as investigações da Operação Lava Jato de suspeitas de corrupção envolvendo estatais e empreiteiras, no que se tornou um dos maiores escândalos políticos da história do Brasil.
A reportagem entrou em contato com a Netflix Brasil e aguarda posicionamento sobre o caso. Na ação de divulgação da série, a empresa montou, no aeroporto de Brasília, uma loja fake "da Corrução".

