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Setor audiovisual repercute tema da redação do Enem 2019

Para cineastas e produtores, o Brasil ainda precisa avançar em muitos aspectos para garantir a democratização do acesso ao cinema, assunto abordado no Exame Nacional do Ensino Médio

Marcelo Gomes, cineasta pernambucano Marcelo Gomes, cineasta pernambucano  - Foto: Beatriz Masson/Divulgação

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 pegou de surpresa não apenas os candidatos a uma vaga em uma universidade pública, mas também os profissionais do audiovisual. Quem compareceu ao primeiro dia de provas, realizado no último domingo, precisou escrever sobre "Democratização do acesso ao cinema no Brasil", assunto que o setor cultural já discute há bastante tempo.

Para produzirem o texto argumentativo-dissertativo, os estudantes tiveram acesso a três textos de apoio e um infográfico. O material fornecia dados sobre a quantidade de salas de exibição existentes no País e o perfil dos espectadores. Cineastas, atores e produtores renomados recorreram às redes sociais para comemorar a escolha da temática. No Twitter, Kleber Mendonça Filho, um dos diretores de Bacurau, escreveu: "Foi um bom domingo para o cinema brasileiro com o tema central da redação do Enem. Um tema que chama para a discussão em torno da educação, identidade, cultura e indústria".

Para João Vieira Jr., produtor de filmes como "Tatuagem" e "Greta", a proposta da redação ajuda a promover o debate sobre uma questão de grande importância para o setor. "Cinco milhões de jovens fizeram a prova e puderam fazer uma reflexão sobre o cinema", acredita. Sócio da produtora Carnaval Filmes, ele aponta o alto preço dos ingressos e a concentração das salas de cinemas em centros comercias como dois dos fatores que mais afastam o público da sétima arte. "O Cinema São Luiz, ao ser reaberto como sala pública, tem se firmado cada vez mais como um espaço acessível, democrático, com ingresso barato e programação diversificada. É um exemplo que deveria ser replicado", aponta como solução.

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De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), o Brasil fechou o ano de 2018 com 3.356 salas de cinema espalhadas por todo o Brasil, maior número alcançado desde 1975. Apesar do recorde, a quantidade ainda é pequena se compararmos com outros países. O México, por exemplo, possui mais do que o dobro desses espaços, embora a população seja inferior à brasileira.

"É uma contradição absurda o governo colocar esse tema em uma prova no Enem e, ao mesmo tempo, atacar o audiovisual sempre que pode", criticou Marcelo Gomes, diretor do documentário "Estou me guardando para quando o Carnaval chegar". O cineasta pernambucano se refere a atitudes como o corte de verbas da Ancine, cujo orçamento passará de R$ 650 milhões para R$ 300 milhões em 2020. Fora isso, há atraso nos repasses públicos para subsidiar a produção audiovisual, tanto em âmbito nacional, quanto estadual.

Acesso para todos

No que diz respeito ao acesso de pessoas com deficiência à produção cinematográfica, a audiodescritora Liliana Tavares, gestora da “Com Acessibilidade Comunicacional”, afirma que muitos avanços já ocorreram. "Atualmente, todos os filmes produzidos com os recursos da Ancine precisam estar com as três acessibilidades comunicacionais: legendas para surdos e ensurdecidos, audiodescrição e libras. As salas de cinema já estão se adaptando, porque até o dia 31 de dezembro todas elas precisam estar com os equipamentos necessários", afirma a especialista, citando a Instrução Normativa nº 128, que trata da obrigação de provimento de recursos de acessibilidade visual e auditiva nas salas comerciais de cinema.

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