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Referência da música brasileira no exterior, Seu Jorge volta para casa temperado com pimenta e dendê

Cantor apresenta seu "Baile à la baiana" no Rio e em SP: "Não há nada tão mais necessário hoje do que o contágio da alegria no meio de tanta adversidade, incerteza e intolerância"

Seu JorgeSeu Jorge - Foto: Divulgação

Uma referência da música brasileira no exterior. Um artista muito popular no Brasil, daqueles que fazem shows em grandes espaços e arenas.

Um ator cheio de trabalhos, aqui e lá fora. O cara que, no fim do mês passado, representou o Brasil no evento Global Citizen NOW, em Nova York — e a pedido do líder do Coldplay, Chris Martin, seu chapa (“normalmente ele ia fazer esse negócio, mas dessa vez não pôde ir e falou: ‘Pô, tu vai no meu lugar!’”).

Esse é Seu Jorge, um globetrotter que agora traz para o Brasil o show do seu novo álbum, “Baile à la baiana” (dia 17 no Qualistage, no Rio, e 25 no C6 Fest, no Parque Ibirapuera, em São Paulo).

À beira dos 55 anos de idade, e três décadas de carreira (iniciada com o grupo Farofa Carioca), Jorge confessa: o que restou foi “a busca pela beleza mesmo”:

"Porque todas as outras coisas, depois desses 30 anos na profissão, já foram vistas e revistas. E toda a ideia de deslumbramento também, ela já foi cessada. Eu tenho um pouco de discernimento em desobedecer a normativa. Acho que a primeira grande tecnologia que eu desenvolvi foi a desobediência!"

Artista carioca que recentemente andou fazendo participações em músicas do ex-Fundo de Quintal Cleber Augusto ao BaianaSystem, Seu Jorge se imbuiu de uma nova missão com o “Baila à la baiana”, disco inspirado por suas vivências e encontros em Salvador.

"Não há nada tão mais necessário hoje do que o contágio da alegria no meio de tantas adversidades, incertezas e intolerância. A gente propõe uma música para roubar a preocupação das pessoas!" avisa.

"E as pessoas do mundo, quando chegam a Salvador, chegam para deixar todas as preocupações nos lugares de onde elas vieram. O Carnaval é um estado de espírito absurdo, nesses quatro dias você faz na sua cabeça a fantasia que quiser. Eu queria, através desse repertório, até soltar um pouco a mim mesmo"

Seu Jorge se ressente do fato de ninguém mais ouvir música coletivamente, só cada um nos seus fones.

Seu sonho de consumo hoje é aquele cara do Nordeste “que fez um investimento no seu Fiat Uno, botou umas caixas na parte de trás, e vai lá botar pra tocar o pisadão com a galera dele, tomando vodka quente com Red Bull”:

"Você vê que não entra Beyoncé lá, não entra o Jay-Z lá, não entre o Kanye West lá. Os americanos não conseguem entrar naquele lugar!"

Há alguns dias, Seu Jorge chegou ao Brasil de uma série de shows no exterior do “Baile à la baiana”.

É o seu primeiro disco “popular” (como o foram “América Brasil” e os dois “Música para churrasco”) que foi mostrar fora. 

(Recentemente, ele também fez shows na França para comemorar os 20 anos do álbum de orientação internacional “Cru”).

"Fui levando o meu trabalho para o exterior muito baseado no que eu entendia como o gosto desse público, a expectativa dele para com uma música que eu estava fazendo a partir do “Cru”" diz.

"Eu sempre achei difícil o entendimento do público estrangeiro em relação às minhas músicas, por causa das síncopes, da própria barreira da língua. Sempre achei complexo levar para fora o “burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha, só no filé”... eu achava que isso era mais para o público brasileiro"

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Para Seu Jorge, a chegada do “Baile à la baiana” no Brasil é o começo de e um sonho grande: o de ver Salvador como a capital da afrocultura mundial:

"Acho que, no “Baile à la baiana” eu estou me convertendo ao Brasil que tem essas potências, muitas potências pretas. Estou vendo um grande ativo nessas potências que estão surgindo com mais letramento do que eu, com mais sabedoria do que eu e com tecnologias novas. E não é máquina, é tecnologia emocional!"

Jorge pensa em, ao longo do tempo, começar a trazer para o show nomes como Luiz Caldas, Luedji Luna, Carlinhos Brown, Jauperí e Margareth Menezes a fim “de fazer essa junção de Rio e Salvador” que, em última instância, deram no “Baile à la baiana”, disco que ele começou a gravar em 2018, em São Paulo.

"Mas no meio do negócio, eu fiquei um pouco decepcionado com as condições com que estava fazendo o álbum, deu um monte de problema no estúdio. A gente tinha uma banda muito grande e todo mundo tocando ao vivo junto, aquilo foi me dando uma certa angústia. Parei quando tinha seis canções prontas" conta. 

"Voltei para os Estados Unidos para terminar o “The other side” (disco em inglês), já fazia anos que eu estava levando aquilo. Quando foi final de 2019, a gente terminou ele (o lançamento, promete Jorge, acontece ainda em 2025). E aí, muito rápido, eu fui gravar um disco com o Rogê na Holanda (“Seu Jorge & Rogê”). Esse disco saiu, e nós fizemos uns concertos dele no início de 2020, e depois, ainda fiz um show cantando Tom, com o Daniel Jobim, mas logo veio a pandemia"

Das lives da pandemia, veio um show do Alexandre Pires (Irmãos) e os shows da carreira solo, com seu Conjuntão Pesadão.

E só depois de entregar esses shows, Seu Jorge voltou a trabalhar no “Baile à la baiana”. Que, ele bateu pé, tinha que ser mesmo um álbum, não uma sucessão de EPs.

"A era de hoje indica para a gente que muito desse público mais jovem não tem por hábito a audição de álbuns. Quando muito, eles ouvem um EP. Em 2018, eu meio que acompanhava essa mentalidade, mas depois abandonei ela e falei: “Não, espera aí, eu venho de uma geração de antes da revolução digital e acho que isso me permite lançar álbuns!”" indigna-se.

"E o que também me ajudou a me decidir por um álbum foi a oportunidade de trazer Peu (Meurray) e Magary (Lord) pro projeto. Porque, sozinho, eu não conseguiria traduzir o que eles fazem. Ou mesmo falar de Salvador, falar dessa música baiana, falar dessas influências que eles têm. Sem eles, eu não conseguiria trazer o sabor, o tempero, a pimenta, o sal e o dendê"

As músicas que abrem o “Baile à la baiana”, segundo ele, representam o Rio de Janeiro.

"Nelas, eu tento trazer toda a influência que tive da Banda Black Rio, Lady Zu, Sandra de Sá, Tim Maia, Jorge Ben Jor, Bebeto, O Rappa e de todos esses caras do afropop carioca. No “Sábado à noite”, tem muito do quem-não-dança-segura-a-criança, eu queria render uma homenagem à Banda Vitória Régia e à Banda do Zé Pretinho, através do meu Conjuntão" diz.

"As músicas pediam que eu vestisse um pouco de mim e esse eu é toda a influência que eu tenho de Rio de Janeiro. Eu não ia inventar um baiano de nada! Tenho uns caras lá, o Peu e o Magary, que me trouxeram as vestes, através da música, do balanço e do temperamento deles. Esses caras têm um temperamento que é cultivado numa cidade 87% negra!"

Morador de Alphaville, em São Paulo, hoje Seu Jorge é um visitante do Rio.

"Não moro aí há muitos anos, né? E depois, minha família toda veio (para São Paulo)" conta.

"Tenho ido ao Rio a trabalho. Mas toda vez que vou para fazer alguma coisa, eu tento aproveitar um pouquinho que seja. Uma corridinha de uns cinco quilômetros aí na orla, que é tradicional... tomar uma água de coco, passar no BB Lanches... tem umas coisas legais do Rio que que que não acho que não acho em lugar nenhum"

Pai de um filho temporão, Samba Jorge, de “2 anos e 3 meses” de idade, Seu Jorge diz que, por causa dele, quer durar um pouquinho mais Nesse mundo.

(“é um barato, ele chegou ressignificando a minha vida e já está falando tudo. Acabei de chegar em casa, ele me deu um abraço tão gostoso e já almoçamos juntos.”).

"Acho que chegamos naquela idade em que, tendo passado por tantos lugares e por tantas hospedagens em hotéis, você acaba construindo um lugar na sua vida, a sua casa, com o mínimo de conforto, e você não quer outro lugar. Sou muito feliz em São Paulo" diz.

Família musical
As filhas seguem nos Estados Unidos, onde vivem há mais de 10 anos. Maria Aimée em San Francisco, Flor de Maria e Luz Bella em Los Angeles. Há alguns meses, Flor se lançou em carreira musical solo.

"Eu dou muita força, apoio, mas não me meto em absolutamente nada. A Flor, ela definitivamente não quer pular nenhum estágio. Ela está fazendo o caminho dela, com o tamanho dela e com a tranquilidade de ser minha filha. Porque a gente faz música completamente diferente" considera.

"A música que a Flor faz, eu não tenho a menor competência para fazer, muito menos para interferir, mas fico amarradão. Porque ela está tocando em todos os formatos, experimentando e gravando com um monte de gente legal. É um barato, eu gosto de estar perto"

Luz Bella, anuncia Jorge, vai fazer faculdade de ciências políticas.

"Ela passou com muito louvor, foi admitida numa universidade na Inglaterra e uma outra em Nova York, mas acho que ela vai ficar mesmo é com a de Nova York. Ela foi recomendada pelo Partido Democrata, porque trabalhou na campanha (presidencial) da Kamala (Harris)" conta ele, que estava com a filha no Brasil no ano passado, quando se apresentou em um show da volta do Farofa Carioca.

"Tô achando o máximo, inclusive quero contar aqui umas brechas para participar disso. Afinal de contas, fui eu que fundei essa banda, né? Eu ia lá para cantar uma música, acabei ficando o show todo. Aí acabou tudo e tal, a Luz Bella virou para mim e falou assim: “Cara, parecia a volta da Beyoncé ao Destiny’s Child!”"

Nas telas
Ano passado, Seu Jorge foi a voz de Deus na animação “Arca de Noé” e em breve estará também nos “Saltimbancos” de Carlos Saldanha.

Acabou de filmar “Narciso”, de Jeferson De e a série “Irmandade”. Está indo ao Acre para “Geni e o Zepelim”, de Anna Muylaert.

E logo também em “A corrida dos bichos”, de Fernando Meirelles e Ernesto Solis.

"Tem um outro agora que me chamaram para fazer, eu tô olhando e tô achando barato. Uma comédia, vou aprender para caramba com os caras. “Um tira de Itaquera” (risos). Já dá para imaginar" diverte-se Seu Jorge que, além de tudo, ainda gravou um álbum com o violonista Yamandu Costa, um velho amigo, com quem lembra ter encontrado de maneira inusitada certa manhã em 2003.

"Fomos para o Mirante do Leblon umas 9 horas da manhã. Eu embaçando meu irmão de ir para o trabalho, querendo a companhia dele... eu era boêmio, ainda bebia, e fui tomar a última cerveja lá. Daqui a pouco, tô vendo o Yamandu subindo sozinho. Ele já chegou, sentou numa mesa, o quiosque já estava para fechar... aí eu olhei e gritei “Yamandu Costa!” E ele: “Grande bosta!”"

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