The Veronicas faz três shows no Brasil: "Deixamos o melhor para o final"
Duo australiano reflete sobre os 20 anos de carreira, sua presença em indústria dominada por homens e a 'linguagem única' de irmãs
As australianas Jessica e Lisa Origliasso, do duo The Veronicas, entraram na ligação de vídeo com O Globo rapidamente com uma pergunta.
— Como é que se pronuncia Curitiba? Há tempos que quero saber isso — questionou Lisa.
O motivo do interesse pela capital paranaense é que a dupla começará por lá sua primeira visita ao Brasil, como parte integrante da I Wanna Be Tour (evento da produtora 30e que também terá as bandas Fall Out Boy, Good Charlotte e Yellowcard), no dia 23 deste mês. Depois, elas partem para duas datas em São Paulo: uma no dia 26, no Cine Joia, e outra no Allianz Parque, no dia 30 — na versão paulistana da tour. Animada, a dupla diz que esperou por muito tempo até marcar a data no país.
— Queremos ir ao Brasil há 20 anos. Saber que agora está tão perto nos deixa muito animadas. O país esteve no topo da nossa lista por muito tempo. Houve vários motivos relacionados à indústria da música que nos impediram de conseguir ir antes, mas sentimos que deixamos o melhor para o final — entrega Jessica.
Duas décadas de estrada
A dupla não é iniciante no mercado da música. O álbum de estreia do duo, “The Secret Life Of”, comemora este ano duas décadas. Com um pop rock bastante popular na virada dos anos 2000 e porções de letras centradas nas agruras do amadurecimento, a dupla conseguiu mergulhar no mercado dos EUA, além de tornar-se bastante influente na Austrália. Tudo isso enquanto elas se comunicavam com as primeiras comunidades de fãs on-line.
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— Era o começo da era da internet. Sinto que crescemos diante do nosso público, mas eles também estavam crescendo com a gente — compara Jessica.
A irmã gêmea idêntica Lisa observa como a passagem do tempo mudou os contornos do que a exposição on-line significa.
— Crescer de forma tão exposta em um espaço público era um pouco mais estranho do que é hoje, porque as redes sociais e todo esse mundo ainda não existiam. É preciso ser muito vulnerável, ter aquela plataforma voltada para o público e escrever sobre nossas experiências pessoais e de vida, como fazemos. Mas o que sempre nos manteve centradas e com os pés no chão foi, certamente, uma à outra — declara.
O mais recente lançamento da dupla, o álbum “Gothic Summer” (2024), também reflete a passagem do tempo, porém, em outra perspectiva. O trabalho, contam, tem referência na década de 1980, quando ambas (hoje aos 41 anos) nasceram.
— A gente queria explorar algumas coisas diferentes. A música “Jungle” foi provavelmente aquela pela qual mais nos apaixonamos. Foi onde a gente pôde brincar e trazer a influência do que crescemos ouvindo. Tem um sabor, uma sensação dos anos 80 — diz Jessica.
A irmã complementa que “Gothic Summer” foi um momento de se reunir e de se divertir no estúdio.
— A gente também estava saindo de alguns anos bem intensos — diz Lisa.
Os anos difíceis passados pelas duas inclui a morte de sua mãe, Colleen, em 2021.
Referências femininas
A dupla diz que nunca deixou de inspirar-se em outras mulheres. É um exercício necessário, contam, porque o rock da virada dos anos 2000 foi bastante masculino.
— A gente sempre olhou para modelos femininos muito fortes na indústria da música, como Courtney Love e Chrissy Amphlett, da banda Divinyls. Acho que tiramos muita força dessas mulheres e até do movimento (punk feminista) Riot Grrrl, dos anos 1990. Naquela época, éramos bem tímidas. A gente amava se apresentar, mas nos bastidores éramos discretas. Quando entrávamos no espaço de ser The Veronicas aquilo virava nosso lugar para sermos fortes de verdade, para escrever sentimentos sem censura — analisa Jessica. — Quando chegava a hora de encarar conversas difíceis em uma indústria muito dominada por homens, a gente assumia quase como se fossem as personas dessas mulheres que admirávamos na vida. O que inclui a nossa mãe.
O tempo longo de carreira, afirmam, não arranhou a relação das duas.
— Acho que, pra mim, cantar e escrever junto com a Jessie é a nossa linguagem própria como gêmeas. É um contrato kármico que decidimos trazer para essa vida. O simples fato de poder compartilhar essa experiência juntas é algo profundo e uma bênção. Eu não consigo imaginar viver de outro jeito — declara-se Lisa. — Só existem prós, não há contras.

