Sáb, 06 de Dezembro

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Um dos mais importantes festivais de quadrinhos do mundo pode ser cancelado após denúncias

Considerado uma espécie de "Cannes do Gibi", festival ocorre desde 1974

Biblioteca da Fundaj conta com acervo de 340 revistas em quadrinhosBiblioteca da Fundaj conta com acervo de 340 revistas em quadrinhos - Foto: Guto Moraes/Divulgação

O Festival de Quadrinhos de Angoulême, considerado uma espécie de "Cannes do Gibi", está no centro de uma série de escândalos que coloca em risco a sua realização em janeiro de 2026. Enquanto a prefeitura da cidade de Angoulême acusa a organização do evento de má gestão financeira, artistas e profissionais do setor debatem a invisibilização da mulher na sua programação e até uma denúncia de violência sexual.

Mais de 2.500 artistas, associações e sindicatos ligados ao mundo dos quadrinhos assinaram uma petição indicando boicote em massa ao evento. Pelo menos três artistas brasileiros participam da manifestação: Laerte, Aline Zouvi e Allan Sieber. Em paralelo, um grupo de 20 ganhadores do Grand Prix do Festival assinaram conjuntamente uma carta aberta exigindo uma "mudança rápida e profunda na gestão do festival".

O festival ocorre desde 1974, mas desde 2008, o evento é organizado pela 9e Art+, uma produtora sediada na cidade de Angoulême, no Sul da França. A empresa é acusada de falta de transparência, exploração de trabalhadores e invisibilização do trabalho feminino.

Estas acusações não são recentes. Em 2016, por exemplo, o Festival foi duramente criticado quando apresentou a lista dos 30 indicados ao prêmio, todos eram homens. Em 2023, o Festival levou mais uma saraivada de críticas ao premiar uma obra de Bastien Vivès, que retratava cenas de pornografia infantil.

Na edição do ano passado, uma questão ainda mais grave: uma ex-funcionária acusou a empresa de demiti-la após ela denunciar ter sido vítima de estupro, envolvendo o uso de substâncias químicas. Diante de toda esta situação, Franck Bondoux, fundador da 9e Art+, foi afastado da gestão do Festival. Ao jornal Le Monde, o empresário declarou: "Não quero ser um obstáculo para o futuro do Festival. Pediram-me para me afastar e é o que estou fazendo."

Pelas redes sociais, o Festival também se pronunciou dizendo que está ciente das questões e tem debatido com representantes de diversas entidades. "Os organizadores esperam que as discussões em andamento levem a uma solução para que a edição de 2026 possa acontecer, em nome do interesse do ecossistema dos quadrinhos e por respeito aos apaixonados dessa forma única de leitura", diz a nota publicada no X, antigo Twitter.

Um novo comitê diretivo será formado por representantes do próprio Festival, financiadores públicos e profissionais do setor. No entanto, o contrato que prevê os direitos artísticos e comerciais do Festival em favor da 9e Art+ segue em vigor até 2027. Ou seja, as medidas só devem afetar a edição de 2028. Até lá, o mais tradicional Festival de Quadrinhos do mundo segue na berlinda.
 

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