"Vale Tudo" ganha repercussão ao combinar boas adaptações com cenas clássicas
Manuela Dias deu um refresh no roteiro original e conquistou o público
Leia também
• Snoop Dogg critica casal LGBT+ em filme da Pixar: "Tenho medo de ir ao cinema"
• Veneza recebe estrelas para seu festival de cinema
É preciso coragem para mexer em um clássico. Realizar muitas alterações pode descaracterizar a obra a ponto de perder o sentido. Já apostar em uma simples adaptação, sem qualquer mudança, pode criar versão um tanto anacrônica e distante do público atual.
Disposta a mostrar toda a autonomia oferecida pela Globo e ciente de que mesmo as novelas mais incríveis têm cenas que envelheceram mal e resoluções que não funcionam mais, Manuela Dias vem equilibrando “Vale Tudo” entre o passado e o presente de forma muito certeira.
Uma das principais alterações positivas da novela afeta diretamente a trama de Odete Roitman, de Débora Bloch.
No original de 1988, um dos grandes segredos da personagem residia no acidente que vitimou o filho da vilã, Leonardo, o qual responsabilizava Heleninha para se livrar da culpa.
Sabendo que tem uma boa história em mãos, Manuela expande o enredo ao não matar Leonardo que, por conta das graves sequelas sofridas no acidente, é mantido escondido.
Bem-sucedida
Fugindo de uma solução simplista, a novelista consegue despertar a curiosidade do público em uma trama inédita e ainda fazer deste novo segredo mais um ponto de fraqueza frente ao poder da antagonista.
É certo que na teledramaturgia é necessário deixar um espaço para a imaginação do telespectador. Porém, alguns buracos no enredo poderiam custar caro em um mundo onde as redes sociais estão atentas a tudo.
Ciente da importância de ser mais coerente e coesa, sem deixar de lado a criatividade, “Vale Tudo” tem feito questão de dar mais estofo aos personagens secundários, aumentando assim a importância deles dentro da história.
É o caso do Poliana, de Matheus Nachtergaele, que desenvolve uma trama própria para ir além da função de melhor amigo da protagonista. E, de forma ainda mais forte, foi o caminho escolhido pela autora para dar mais ênfase à Celina, de Malu Galli.
Na adaptação, Celina surge mais independente, explorando as nuances de ter caráter e ser irmã de Odete, e ainda desenvolvendo melhor suas aspirações românticas.
Estratégia
Depois de um início com repercussão tímida, “Vale Tudo” aos poucos foi seduzindo a audiência. A tática, é claro, envolveu toda a força midiática da Globo, com participação das principais estrelas do elenco nos programas da emissora, muitas inserções de chamadas nos intervalos comerciais e ampla cobertura de cenas clássicas, como a nova versão da sequência envolvendo a sabotagem da maionese de Raquel, de Taís Araújo.
Desta forma, o remake não só melhorou seus números de audiência como também invadiu as redes sociais com memes e edits.
Com previsão de exibição até outubro, a produção está longe de ser o sucesso arrasa-quarteirão previsto pela direção de teledramaturgia da Globo, mas faz um bom trabalho ao homenagear e mostrar uma boa versão de um dos grandes clássicos nacionais para um novo público.
SERVIÇO
“Vale Tudo” - Globo - de segunda a sábado, às 21h.

