"A vida vale a pena", disse Cacá Diegues em uma de suas últimas colunas
Cineasta, que morreu nesta sexta-feira, citou a atriz Fernanda Torres e sua interpretação em "Ainda estou aqui"
Em um de seus últimos artigos publicados no GLOBO, o colunista Cacá Diegues homenageou a atriz Fernanda Torres, citando uma das frases ditas pela indicada ao Oscar: "A vida vale a pena".
Para ele, "de todas as expressões de Fernanda Torres sobre seu trabalho como Eunice Paiva no grande sucesso do cinema brasileiro 'Ainda estou aqui', de Walter Salles, essa foi a que calou mais fundo no meu coração. Tenho a impressão de que essa foi também a reação dos outros espectadores que acabaram lhe dando o prestigioso prêmio Globo de Ouro, certamente agarrados às suas qualidades".
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O cineasta, um dos maiores do Brasil, morreu nesta sexta-feira (14) no Rio de Janeiro.
E termina afirmando que "fazer a vida valer a pena não significa acumular riquezas ou status, mas sim viver com propósito, em equilíbrio. A mensagem que fica é que a vida deve ser um palco para a expressão pessoal. Que cada um de nós encontre seu próprio caminho para fazer da vida uma honra".
A seguir, leia na íntegra o a coluna do cineasta publicada na edição do dia 21 de janeiro.
"De todas as expressões de Fernanda Torres sobre seu trabalho como Eunice Paiva no grande sucesso do cinema brasileiro “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, essa foi a que calou mais fundo no meu coração. Tenho a impressão de que essa foi também a reação dos outros espectadores que acabaram lhe dando o prestigioso prêmio Globo de Ouro, certamente agarrados às suas qualidades.
"A vida vale a pena"
“Ainda estou aqui” é um desses filmes capaz de nos comover e indicar os males que nos incomodam e perturbam nossa existência numa determinada situação social cujas raízes não temos como eliminar.
Um filme como o melhor de Martin Scorsese. Ou do grande Billy Wilder de “Cinco covas no Egito” ou “Pacto de sangue”.
O repórter Lucas Salgado nos atualizou sobre a carreira internacional do filme neste jornal, reproduzindo no Segundo Caderno as imagens dos cartazes por diferentes países.
De “Aún estoy aqui” a “Io sono ancora qui”, textos dizem que o filme foi lançado com “direito a críticas elogiosas”.
Ao final, sob o significativo título de “Dissonância”, acaba reproduzindo um texto original: “A interpretação de Fernanda Torres é um tanto monocórdica”, aspas do jornal francês Le Monde, o único que fez restrições ao filme, talvez, tão somente, para brindar Nelson Rodrigues, que dizia que toda unanimidade é burra.
Mas estranho ver que o que gostamos é dar destaque para os que falam mal. Do Libération ao Le Figaro, “Ainda estou aqui” foi posto nas alturas pela rigorosa crítica francesa.
E Walter ainda conseguiu com que Cahiers du Cinéma e Positif concordassem. Milagre puro!
Importa saber da atualidade da obra, sua relação com o cinema brasileiro que está sendo feito agora (a vanguarda é um fenômeno de tempo). E o tempo, pelo menos no cinema, só pode ser tratado como tempo mesmo.
“Não tínhamos ainda aterrissado das nuvens quando os três patetas — Trump, Musk e Zuckerberg — chocaram o mundo com sua prepotência”, escreveu Ruth de Aquino.
O filósofo inglês John Stuart Mill cunhou a “distopia”, em oposição à “utopia”, em 1868. “Em todas essas obras a distopia era imaginária e existia no futuro. Em regimes totalitários, num mundo pessimista, oprimido e insustentável, sem condições de vida humana.”
Eunice Paiva era ícone de resiliência e reinvenção. “A vida vale a pena” é uma reflexão relevante e significa viver plenamente.
Fernanda Torres é parte de uma dinastia artística que simboliza não apenas talento, mas também a transmissão de valores entre gerações. Ela sabe direitinho o que diz e o que faz.
Fazer a vida valer a pena não significa acumular riquezas ou status, mas sim viver com propósito, em equilíbrio.
A mensagem que fica é que a vida deve ser um palco para a expressão pessoal. Que cada um de nós encontre seu próprio caminho para fazer da vida uma honra.

