Wilson Araújo abre os poemas da semana com versos sobre o Rio de Janeiro
Poeta maranhense de alma pernambucana tem suas poesias publicadas semanalmente no Portal Folha de Pernambuco
EMBRUTECIDOS PELA VIOLÊNCIA
O Rio de Janeiro continua lindo.
O Rio de Janeiro continua sendo
o Rio de Janeiro, fevereiro e março
o ano inteiro.
Mas até quando fim do ano
o desumano demasiado desumano?
Quanta crueza bandida
na vida da Cidade Maravilhosa!
Como dói tanta violência
naquele fascínio perene!
Como é bonito o Pão de Açúcar
visto daquele ângulo alongado
que insere o Morro Dois Irmãos,
a Pedra da Gávea e o Redentor
com suas pálpebras de neblina
derramando lágrimas!
E o futuro fruto da elástica
estatística que aponta
um crescimento de 325%
das autorizações para o uso
de armamento?
Como pregou aquele Arcebispo
em Aparecida:
falar Brasil Pátria Amada
se o estímulo oficial
é o de uma Pátria Armada?
Brasil, Brasis, Brasília:
Brilha uma estrela guia!
Wilson Araújo de Sousa (WAS)
CRISTOCOMUNISTA
“...ler o signo-Jesus como o de um
subversor da ordem vigente,
negador do elenco dos valores
de sua época e proponente de
uma UTOPIA”
Paulo Leminski, na mira
da rima em Trotski?
(também biografado por ele)
Cristo: mudando como um deus
o curso da História.
Marx: mudando, como ateu,
o discurso da História.
Ateus na mira
da rima em Deus.
Comunista em Cristo,
por Cristo, com Cristo insurrecto.
Wilson Araújo de Sousa (WAS)
ÁGUA DE FRONTEIRA
Anjo Tor(qua)to
da (van)guarda.
Lendo uma terzina
de Dante, durante
a cajuína cristalina em Teresina:
Tristeresina, não!
“Eh Parnaíba passando
separando a minha rua
das outras do Maranhão”.
As outras do Maranhão,
ruas de Timon
de onde este timoneiro parte
para o Capítulo da Paixão Maranhense.
Wilson Araújo de Sousa (WAS)
MOMO SAPIENS
Invenção de Orfeu
Orfeu da Conceição
e outros orfeus
carnavalizando
o eu profundo
e os outros eus
ARTEVIDA ATREVIDA
Jomard Muniz de Britto
e rito e ritmo do mito
de Orfeu
do carnaval
do eu profundo
e dos outros eus
e dos outros orfeus:
Orfeu Orftu Orfele
Orfnós Orfvós Orfeles.
Murilozei-me
numa pletora de alegria
dos maracatodos.
Orfeu Negro!
BURILO MURILO MENDES
“Webernizei-me. Joãocabralizei-me.
Francispongei-me. Mondrianizei-me”
Rimbaudelairezei-me
Drummondrianizei-me
Joaocabralcristalizei-me
JOÃO cabral de melo neto
joão CABRAL de melo neto
joão cabral DE MELO neto
joão cabral de melo NETO
João Cabral de Melo Neto
o nome mais belo do verso
o verso mais belo do elo
entre o sol a pino
e o silêncio a pino.
P.S. Aguarde ensaio com insights
sobre o nome mais belo do verso.
Wilson Araújo de Sousa (WAS)

