Alibaba anuncia planos de instalar data centers no Brasil e outros países e parceria com Nvidia
Gigante chinesa pretende ampliar investimentos e lançar produtos em inteligência artificial, o que se tornou uma prioridade para seus negócios em paralelo às operações de comércio eletrônico
A Alibaba revelou planos de expandir sua base global de data centers com a instalação de centrais de processamento de dados no Brasil, na França e na Holanda, além de uma parceria com a americana Nvidia e novos produtos de inteligência artificial, que se tornou uma prioridade central de negócios, em paralelo a sua tradicional operação de comércio eletrônico.
Com o anúncio, as ações do grupo chinês listadas em Hong Kong dispararam quase 10% na quarta-feira, alcançando o maior nível em quatro anos.
Durante a Conferência Anual Apsara, na quarta-feira, o diretor-presidente Eddie Wu previu que o investimento global em inteligência artificial acelere para cerca de US$ 4 trilhões nos próximos cinco anos, ressaltando que a Alibaba precisa acompanhar esse ritmo, aumentando ainda mais seus investimentos em IA. O CEO, no entanto, não especificou valores. Em fevereiro, a empresa anunciou planos de investir 380 bilhões de yuans (US$ 53 bilhões) em infraestrutura relacionada à IA ao longo dos próximos três anos.
— A velocidade de desenvolvimento da indústria superou em muito o que esperávamos, e a demanda da indústria por infraestrutura de IA também superou nossas expectativas — disse Wu na conferência de desenvolvedores em Hangzhou.
Wu apresentou suas projeções ao detalhar planos de lançar os modelos Qwen e uma tecnologia de IA “full-stack”, refletindo as crescentes ambições da Alibaba tanto em desenvolver serviços quanto em construir a infraestrutura — como chips — que sustenta a tecnologia.
Com relação à Nvidia, informou que a parceria com a fabricante de chips de Jensen Huang visa a desenvolver capacidades físicas de IA, como síntese de dados, treinamento de modelos, simulação de ambientes e testes de validação.
Além das primeiras centrais de processamento de dados no Brasil, na França e na Holanda, Alibaba divulgou que há planos para instalações semelhantes em 2026 no México, no Japão, na Coreia do Sul, na Malásia e em Dubai. Isso ampliará a atual rede da Alibaba, que conta com 91 data centers em 29 regiões ao redor do mundo. A companhia não informou se os novos data centers seriam alimentados por chips da Nvidia.
Interesse de investidores
Cathie Wood, fundadora e CEO da Ark Investment Management, empresa de gestão de investimentos, está entre os investidores que aumentaram suas apostas na Alibaba. Dois de seus fundos reabriram posições na empresa chinesa pela primeira vez em quatro anos, de acordo com um relatório de negociações de sua empresa divulgado na segunda-feira.
“A economia de consumo está bastante fraca, há muita concorrência no negócio de consumo deles, mas eles estão na nuvem e estão desenvolvendo LLMs muito interessantes”, disse Cathie em um evento realizado em Helsinque, na quarta-feira.
Ela afirmou que sua gestora está começando a reconstruir posições na China, ao perceber que o governo está se mostrando mais favorável às empresas privadas, ao mesmo tempo em que vê com otimismo os esforços das companhias para se expandirem no exterior.
Da Huawei à Tencent, as maiores empresas de tecnologia da China estão investindo somas sem precedentes em inteligência artificial. Elas se juntam a uma onda de gastos de suas contrapartes americanas, da OpenAI à Meta Platforms, que buscam construir e popularizar uma tecnologia com potencial para transformar economias e alterar o equilíbrio geopolítico mundial.
Os gastos totais de capital em infraestrutura e serviços de IA por Alibaba, Tencent, Baidu Inc. e JD.com Inc. podem ultrapassar US$ 32 bilhões somente em 2025, segundo a Bloomberg Intelligence. É um salto significativo em relação a pouco menos de US$ 13 bilhões em 2023.
Todas as grandes empresas de internet da China estão desenvolvendo modelos e serviços de IA em ritmo acelerado, incluindo o Hunyuan, da Tencent, e o Ernie, da Baidu. Na quarta-feira, a Alibaba apresentou seu novo modelo de linguagem de grande porte Qwen3-Max e uma série de outras melhorias em seu portfólio de ofertas de IA.
Leia também
• Nvidia e Wayve negociam investimento de US$ 500 milhões em startup de carros autônomos
• Bolsas de NY fecham com recordes renovados, com salto de 22% da Intel após acordo com Nvidia
• Huawei mira rivalidade com Nvidia e planeja novos chips de IA nos próximos 3 anos
Redirecionamento de negócios para IA já rende frutos
O redirecionamento dos negócios para a inteligência artificial já começou a dar frutos para Wu e para a Alibaba. No trimestre mais recente, a empresa sediada em Hangzhou registrou crescimento de três dígitos em seus produtos relacionados à IA. Sua divisão de nuvem também apresentou um salto de 26% nas vendas, acima das expectativas, tornando-se a unidade de crescimento mais rápido do grupo. As ações da empresa mais que dobraram neste ano.
— As empresas só ganham confiança para investir mais quando a visibilidade dos retornos melhora — disse Vey-Sern Ling, diretor administrativo do Union Bancaire Privée. — Portanto, quando dizem que estão aumentando os investimentos em IA, isso indica boa demanda dos clientes e bom retorno sobre o investimento (ROI).
Mas, assim como outras companhias chinesas, a Alibaba enfrenta um dilema quanto ao acesso aos processadores de IA da Nvidia, necessários para treinar modelos avançados.
Na conferência de quarta-feira, Wu falou sobre inovações em hardware que a Alibaba está desenvolvendo, incluindo chips, computadores mais rápidos e soluções de rede — todos componentes cruciais de data centers. A empresa já garantiu um cliente de peso para seus chips de IA: a mídia estatal chinesa informou na semana passada que a China Unicom, a segunda maior operadora de telefonia móvel do país, implantará os aceleradores de IA Pingtouge, ou “T-Head”.
Embora pretenda competir com a Nvidia em chips, a Alibaba está aberta a parcerias com a empresa mais valiosa do mundo em outras frentes. A companhia chinesa revelou na quarta-feira que está integrando o conjunto de ferramentas de desenvolvimento de IA física da Nvidia em sua plataforma de software em nuvem, dando aos clientes a chance de criar serviços para produtos do mundo real, como robôs e carros autônomos.
Pequim está pressionando as empresas do país a reduzir sua dependência dos chips de IA da Nvidia, quase todos bloqueados pelos controles de exportação dos EUA. Recentemente, o governo pediu que as companhias não utilizassem a RTX Pro 6000D da Nvidia, uma placa gráfica para workstations que pode ser adaptada para aplicações de IA.
Isso reacendeu a urgência entre os líderes de tecnologia chineses em construir sua própria indústria de chips. A Alibaba vem tentando há anos desenvolver hardware para reduzir a dependência chinesa de fornecedores americanos. Em 2018, adquiriu a empresa chinesa de design de chips Hangzhou C-Sky Microsystems e, no mesmo ano, estabeleceu sua unidade de semicondutores T-Head.
Planos da rival Huawei
A Huawei, principal designer de chips da China, apresentou na semana passada um roteiro de três anos para desafiar a dominância da Nvidia.
O presidente rotativo Eric Xu delineou a próxima geração de chips de IA da empresa, combinados com seus designs atualizados de “SuperPod” — um termo emprestado do próprio vocabulário da Nvidia, que se refere a uma plataforma de data center que engloba computação, armazenamento, redes, software e tecnologias de gestão de infraestrutura.
Resta saber se alguma das afirmações da Huawei se sustentará ao longo do tempo — e se seus designs poderão ser produzidos em escala. A Huawei surpreendeu o mundo da tecnologia ao lançar um chip de sete nanômetros para alimentar seu smartphone Mate 60 Pro em 2023, mas desde então não conseguiu avançar além desse nível. Xu também não detalhou, nesta quinta-feira, como a empresa fabricará os novos chips — um possível gargalo crítico.

