'Dança das cadeiras': por que mercado mundial do luxo deve enfrentar pior turbulência em 15 anos?
Tensões militares e comerciais entre países influenciam confiança dos consumidores de alto padrão
O mercado global de luxo deverá desacelerar em 2025, prejudicado pelo contexto geopolítico e pela incerteza econômica, com o risco de vivenciar sua pior turbulência em 15 anos. No entanto, a perspectiva de longo prazo permanece positiva, de acordo com um estudo da consultoria Bain and Company.
As vendas de luxo, "sensíveis à incerteza, estão sob crescente pressão, com a confiança do consumidor de luxo minada por turbulências econômicas, tensões geopolíticas e comerciais, flutuações cambiais e volatilidade do mercado financeiro", alerta o estudo publicado nesta quinta-feira.
Para os autores deste estudo, realizado em parceria com a Fundação Altagamma, que reúne os principais nomes do luxo italiano, esses ventos contrários podem ser os mais fortes que o setor já enfrentou em 15 anos.
China e Estados Unidos, os mercados mais importantes do setor, estão vivenciando um declínio na demanda, causado nos Estados Unidos por flutuações relacionadas às tarifas alfandegárias e, na China, pela atitude de "esperar para ver" da classe média, estima o estudo.
"Estamos em um período bastante incomum em termos de turbulência e volatilidade, seja econômica, geopolítica, etc. Os gastos globais com luxo aumentaram significativamente após a crise da Covid (...) estamos agora presenciando um retorno à normalidade" disse Joëlle de Montgolfier, diretora da área de luxo da Bain & Company, à AFP. — Continua existindo um apetite por luxo no mundo; não estamos em um mercado em colapso, longe disso.
De -2% a -5%
Após atingir € 1,478 bilhão em 2024, o crescimento desse mercado pode desacelerar este ano, especialmente as vendas de bens de luxo pessoais (moda e artigos de couro, joias, relógios), que representam cerca de um quarto do total e podem cair de 2% a 5% "dependendo do cenário mais provável".
"Tínhamos uma perspectiva relativamente positiva para o último trimestre de 2024 e, infelizmente, o início de 2025 foi negativo" explica Joëlle de Montgolfier, referindo-se à "normalização do mercado".
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O estudo considera dois outros cenários, considerados menos prováveis: um otimista, em que as vendas oscilariam entre -2% e +2%, e outro pessimista, com queda na demanda e, consequentemente, queda nas vendas de 5% a 9%.
"Estamos em um período de grande dúvida sobre o valor agregado do luxo, sua atratividade, sua capacidade de convencer os clientes de que tem um preço justo pelo que oferece. E a própria indústria do luxo (os grupos do setor, nota do editor) está com algumas dúvidas quando vemos essa dança das cadeiras entre diretores criativos" analisa Joëlle de Montgolfier.
Nos últimos meses, várias grandes casas de moda mudaram de fato sua direção artística, com a chegada de Matthieu Blazy na Chanel, Jonathan Anderson na Dior, Demna na Gucci.
"Todos sabem que precisam se reinventar um pouco, reintroduzir novidades, inovação e assim por diante. Mas, ao mesmo tempo, agora que fizemos o rodízio de todos, não sabemos realmente qual será o nível de renovação que teremos — enfatiza Joëlle de Montgolfier." Quando todos os diretores criativos e artísticos estiverem no comando e começarem a produzir sua primeira coleção, provavelmente só em 2025 veremos esses esforços se materializarem e se traduzirem em crescimento.
A longo prazo, o estudo da Bain and Company/Altgamma estima que "os fundamentos e as perspectivas permanecem sólidos", argumentando que, nos próximos cinco anos, mais de 300 milhões de novos consumidores, metade deles da Geração Z (nascidos entre o final da década de 1990 e o início de 2010) e da Geração Alfa (nascidos após 2010), entrarão no mercado.
Combinado com o aumento da renda global e as transferências de riqueza entre gerações, espera-se que a base potencial de clientes de luxo cresça, conclui a Bain and Company.

