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RIO DE JANEIRO

Entidades empresariais alertam para impacto econômico de elevar teto de passageiros no Santos Dumont

Mudança pode afetar não só equilíbrio com o Galeão, mas também as economias fluminense e nacional, argumentam dirigentes de Firjan e Fecomércio-RJ, que apoiam manifestação de Paes

No Aeroporto de Santos Dumont, no Rio de Janeiro, o volume de passageiros está limitado a 6,5 milhões por anoNo Aeroporto de Santos Dumont, no Rio de Janeiro, o volume de passageiros está limitado a 6,5 milhões por ano - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em meio a discussões sobre um aumento do limite máximo de passageiros do Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, que favoreceu revitalização recente do Aeroporto Internacional do Galeão, na Zona Norte da cidade, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) manifestaram preocupação em relação a uma possível flexibilização das regras atuais.

Para as entidades, o aumento no volume de passageiros no Santos Dumont pode impactar não apenas o equilíbrio na distribuição de voos entre o terminal do Centro e o Galeão, mas também as economias fluminense e nacional.

A manifestação das entidades que representam empresas fluminenses da indústria, comércio e serviços, vem logo após o prefeito carioca, Eduardo Paes, declarar que vê em movimento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para iniciar a redução da limitação de passageiros do Aeroporto Santos Dumont uma decisão que vai contra os esforços do governo federal para impulsionar o crescimento do Galeão.

Atualmente, os dois aeroportos do Rio são operados de forma coordenada. No Santos Dumont, o volume de passageiros está limitado a 6,5 milhões por ano. Agora, a Anac iniciou discussões sobre possível mudança nesse teto ao se reunir com companhias aéreas.

A operação coordenada dos aeroportos veio na esteira de longa negociação entre as autoridades fluminenses, a própria Anac e o governo federal para buscar uma solução para o aeroporto internacional do Rio de Janeiro.

Impacto no setor de cargas
Segundo a Firjan, desde a implementação da limitação no Santos Dumont, no fim de 2023, o Galeão registrou aumento na movimentação de passageiros. De janeiro a outubro deste ano, o crescimento foi de 21,6% em relação ao mesmo período de 2023. No transporte de cargas, a alta foi de 46,3% no mesmo intervalo. Os percentuais superam a média nacional.

A possibilidade de ampliação do limite de passageiros pode, no entanto, alterar esse cenário e impactar o transporte aéreo de cargas.

— Hoje, grande parte do transporte de carga aéreo é feito no bagageiro de avião de passageiros. Quando há aumento de voos internacionais chegando ao Rio de Janeiro, cresce a disponibilidade para o transporte de cargas, o que torna o preço do frete mais competitivo. Isso é fundamental para setores da indústria que dependem desse movimento para exportar e importar — explica Isaque Ouverney, gerente de Infraestrutura da Firjan.

Na avaliação da Fecomércio-RJ, a limitação do Santos Dumont mostrou-se adequada para preservar a segurança e a eficiência operacional, mitigar impactos urbanos e assegurar o equilíbrio com o Aeroporto Internacional do Galeão. Segundo a entidade, uma eventual flexibilização comprometeria a coerência da política pública implementada, enfraqueceria o planejamento do setor e geraria insegurança regulatória.

“O equilíbrio entre Santos Dumont e Galeão não é uma pauta local, mas um tema estratégico de interesse nacional, com impactos diretos sobre o turismo, a economia, a geração de empregos e a atração de investimentos”, afirmou a Fecomércio-RJ, em nota.

Na avaliação de Ouverney, da Firjan, é preciso considerar não só o melhor benefício para o aeroporto, mas sim para economia do Rio de Janeiro como um todo:

— Em 2021, fi emos um estudo que mostrava que a melhor coordenação desses aeroportos poderia injetar 4,5 bilhões por ano na economia do Rio, isso seria oriundo de diversos fatores, dentre eles, do melhor desempenho desses setores que dependem do transporte aéreo na logística. E é o que temos visto no. É papel da Anac fazer papel dessa política pública, se a dose é adequada, o ponto que é nossa preocupação é que essa analise leve em conta o melhor benefício não só para o Santos Drumond, mas também para o Rio de Janeiro, de forma coordenada.

Gol defende modelo atual
Procurada, a Gol informou que discussões sobre o atual modelo chegaram ao seu conhecimento na última semana. Segundo a companhia, o modelo atual de operação no Santos Dumont e no Galeão permite aumentar a conectividade aérea, sendo essencial para impulsionar negócios, turismo e geração de empregos.

A Gol informou que tem investimentos na cidade do Rio que totalizam cerca de US$ 1,2 bilhão em ativos — são mais de 30 rotas domésticas e internacionais a partir da cidade. Desde a mudança da política pública, a companhia informou que chegou a 240 operações.

“O sucesso do modelo atual mostra que essa direção é a correta, uma vez que o Rio de Janeiro está maior e conquistou assim a maior oferta (assentos quilômetros) de sua história com a GOL, no que tange tanto aos voos domésticos quanto internacionais”, diz

Já a Latam e a Azul disseram que não comentariam.

"Forças ocultas", diz Paes
Como mostrou O Globo, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, avaliou que o movimento para reduzir a limitação de passageiros do Aeroporto Santos Dumont vai na contramão dos esforços do governo federal para impulsionar o crescimento do Galeão, principal aeroporto internacional do estado.

“Forças ocultas estão se movimentando na ANAC para alterar a política bem sucedida do @govbr de restringir os voos no Aeroporto Santos Dumont para coordenar o sistema de aeroportos do Rio de Janeiro e fortalecer o Aeroporto Internacional do Galeão - que é fundamental para o desenvolvimento do Rio e do Brasil”, afirmou Paes em postagem em seu perfil no X.

O que diz o ministro
Em nota enviada ao Globo no domingo, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, afirmou que as medidas em avaliação não produzem efeitos imediatos sobre a operação dos aeroportos e que eventual ampliação da capacidade de processamento de passageiros no Santos Dumont “está prevista para ocorrer de maneira gradual, com início estimado a partir do último trimestre de 2026”.

No entanto, em entrevista à GloboNews nesta segunda-feira, Costa Filho afirmou que o volume de passageiros do Aeroporto Santos Dumont deverá aumentar entre 1 milhão e 1,5 milhão já no próximo ano.

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