Executivos da Volks defendem fechamento de fábrica, sob vaias e protestos de 16 mil trabalhadores
Medida será inédita em 87 anos de história da montadora alemã
A Volkswagen reforçou os planos de fechamento sem precedentes de fábricas na Alemanha, afirmando que a queda nas vendas deixou a empresa com uma capacidade produtiva de duas unidades a mais do que o necessário.
O recado foi dado em reunião com a presença de ao menos 16 mil trabalhadores nesta quarta-feira, que se espalharam pelos corredores da principal fábrica da Volks na cidade alemã de Wolfsburg.
Muitos seguravam cartazes ou entoavam "nós somos a Volkswagen — vocês não são" e prometiam lutar para evitar que as fábricas não fossem encerradas.
Eles vaiaram o diretor financeiro Arno Antlitz e o CEO da montadora, Oliver Blume, quando ambos subiram ao palco para conversar com os trabalhadores.
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A demanda por veículos na Europa não se recuperou desde a pandemia, com as entregas de automóveis em toda a indústria na região ficando cerca de 2 milhões abaixo do seu pico, disse Antlitz.
A Volkswagen perdeu as vendas de cerca de “500 mil carros, o equivalente a cerca de duas fábricas”, completou.
—Precisamos aumentar a produtividade e reduzir custos — disse o executivo.
A maior montadora da Europa afirmou nesta semana que está considerando fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez nos 87 anos de história da empresa e romper acordos de garantia no emprego após anos ignorando a supercapacidade e a queda na competitividade.
Os carros de passeio da Volks têm apresentado desempenho abaixo do esperado, com margens de lucro sendo pressionadas em meio a uma transição da indústria para veículos elétricos e a uma desaceleração nos gastos dos consumidores.
As montadoras na Europa também têm de competir com a Tesla, fabricante de carros elétricos de Elon Musk, e novos concorrentes da China.
Daniela Cavallo, principal representante dos funcionários da VW e membro do conselho de supervisão, disse na reunião que lutará contra qualquer fechamento de fábricas, acrescentando que os trabalhadores não deveriam sofrer por erros da administração, incluindo o fraco desempenho da Volkswagen nos EUA.
Embora a marca Volks ainda precise realizar € 3 bilhões (US$ 3,3 bilhões) em economia de custos para atingir um programa de eficiência de € 10 bilhões acordado no ano passado, as despesas trabalhistas representam apenas uma fração dessa lacuna, ela disse.
— A Volkswagen não está em dificuldades por causa de suas unidades na Alemanha e dos custos de pessoal na Alemanha. O problema da Volkswagen é que a diretoria não está fazendo seu trabalho — disse Daniela.
As ações da Volkswagen caíram 0,9% às 11h35 (hora local) de quarta-feira. No ano, o valor das ações caiu cerca de 15%.
A Europa está no centro de uma desaceleração global na transição para veículos elétricos depois que vários países, incluindo Alemanha e Suécia, reduziram ou removeram incentivos.
Com as vendas de carros ainda quase um quinto abaixo dos níveis pré-pandemia, fabricantes como Volks, Stellantis e Renault estão operando fábricas em níveis que os analistas consideram não rentáveis, segundo dados da Just Auto.
No ano passado, a Volkswagen produziu cerca de nove milhões de veículos, em comparação com uma capacidade total de 14 milhões. Aumentar os retornos da marca principal da Volks tornou-se mais difícil devido aos custos mais altos de logística, energia e mão de obra. A margem da marca caiu para 2,3% durante o primeiro semestre, em comparação com 3,8% no ano anterior.
Antlitz disse que a empresa deve trabalhar em conjunto para tornar a marca competitiva novamente e garantir que possa oferecer carros de qualidade a preços acessíveis.
— Ainda temos um ano, talvez dois, para reverter a situação. Mas temos que aproveitar esse tempo — afirmou o CFO.