Galípolo minimiza cobrança de Haddad por queda de juros
"Acho um luxo ministro da Fazenda comentar política monetária com gentileza", afirmou
Após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizer que a taxa Selic "nem deveria estar em 15%", o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse que não viu as declarações de forma pejorativa e que considera "um luxo" ter comentários do ministro da Fazenda sobre política monetária com tamanha "gentileza, cuidado e elegância".
— No caso específico da fala de Haddad e estendo também ao Ceron, pessoalmente acho um luxo que tenhamos um ministro da Fazenda e um secretário do Tesouro que façam comentários sobre política monetária com a gentileza, cuidado, elegância da forma que eles fizeram. É absolutamente legitimo que o ministro da Fazenda faça uma análise sobre o que o BC deveria fazer, assim como o mercado — disse, Galípolo nesta quinta-feira.
Galípolo ainda disse que a autoridade monetária praticamente "gabarita" as condições para levar os juros para o patamar atual e mantê-lo nesse nível.
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A taxa atual é a maior desde julho de 2006 e o BC indicou que pretende manter a Selic parada por período "bastante prolongado" para alcançar o objetivo de colocar a inflação na meta de 3,0%. A projeção do BC para o horizonte relevante (prazo com o qual trabalha para colocar a inflação na meta) é de 3,4%.
— O papel do BC é um pouco mais difícil do que de outras autarquias e secretarias, porque às vezes tem que desagradar um pouco. Nesse caso específico, mesmo com a Selic em 15%, praticamente se gabarita no livro-texto as condições de contorno para ter feito uma elevação 15% e manter a taxa de juros em uma condição contracionista.
Galípolo citou a mínima histórica na taxa de desemprego, com renda na máxima histórica, assim como recordes em importações e viagens como termômetros de uma atividade aquecida.
— Se 5% não está em pleno emprego, não sei quando o Brasil esteve próxima do pleno emprego. É a taxa mais baixa da série histórica, com renda na máxima da série histórica. Com as viagens batendo recorde, de importações batendo recorde. Por onde você olhar, é difícil reunir condições de contorno, pela teoria econômica que você decidir se apoiar, que, em um cenário de inflação fora da meta e com o desemprego tão baixo, a reação da política monetária não deveria ser essa.
O presidente do BC ainda reforçou que o controle da inflação é melhor caminho para proteger a renda do trabalhador.
— A coisa vai convergindo para uma suavização da atividade econômica, justamente para proteger a renda do trabalhador. O pior cenário para a renda do trabalho é a inflação elevada. Como preserva a renda do trabalhador? Colocando a inflação na meta.
Além de Haddad, outros integrantes da Fazenda manifestaram preocupação com a "dose do remédio" dos juros e com os efeitos no crescimento da economia e da arrecadação de impostos.

