Quando a carga existe, mas falta o caminho
O quarto evento da série Conexões Transnordestina, realizado em Belo Jardim, trouxe constatações desconcertantes sobre a ferrovia
O quarto evento da série Conexões Transnordestina, realizado pelo portal Movimento Econômico na última quinta-feira (25), em Belo Jardim — terra das Baterias Moura e de empresas avícolas como Natto e Frango Favorito — trouxe constatações desconcertantes. A principal delas: se o ramal pernambucano tivesse começado a ser construído de Suape em direção ao interior, a ferrovia já estaria transportando baterias e matéria-prima para as indústrias locais.
Durante o evento, o engenheiro e professor da UFPE Maurício Pina, um dos maiores especialistas em transporte do Nordeste, revelou que há 100 anos Pernambuco contava com 924 km de ferrovias em operação. Hoje, nenhum trem de carga circula no estado.
A ausência da ferrovia ajudou a travar o setor avícola. Pernambuco produz atualmente a mesma quantidade de aves que há 20 anos. O presidente do Instituto Ovo Brasil e vice-presidente da Associação Avícola de Pernambuco, Edival Veras, fez um diagnóstico contundente: o setor enfrenta uma crise de competitividade estrutural, resultado dos altos custos logísticos, da dependência do transporte rodoviário e da falta de infraestrutura para escoar a produção.
O estado é o quarto maior produtor de ovos do Brasil — com 14 milhões de unidades por dia — e a avicultura responde por cerca de 150 mil empregos diretos. Mas, enquanto o Brasil exporta frango para 155 países e é responsável por um a cada quatro frangos consumidos no mundo, Pernambuco exporta quase nada, justamente por não ter custo competitivo.
O transporte de insumos como milho e soja — que representam 75% do custo de produção da avicultura — torna a produção em Pernambuco 30% mais cara do que em São Paulo. “É inviável competir assim”, lamenta Veras. Se houvesse ferrovia, apenas a avicultura já seria capaz de movimentar 48 mil contêineres de matéria-prima por ano, entre milho, sorgo, soja, trigo e calcário.
O Grupo Moura, por sua vez, além de enviar baterias para as revendas, também as recolhe após o fim da vida útil, realizando logística reversa. Em sua apresentação, o diretor de Metalurgia e Compras da Baterias Moura, Flávio Bruno, destacou que a empresa mantém parcerias na Índia, China, Europa e América, e que grande parte dos componentes chega pelos portos. Apenas a LAM, transportadora do grupo especializada em contêineres e sediada no Porto de Suape, movimenta 72 mil toneladas de carga por ano. A LAM é uma das três empresas de logística do grupo.
Patrocínio
O seminário Conexões Transnordestina tem o patrocínio da Sudene, do Complexo Industrial Portuário de Suape e do Grupo Moura.
Ambipar em Noronha
A Ambipar, que entrou em recuperação judicial com dívidas superiores a R$ 10 bilhões, vem, desde abril, prestando serviços de coleta de lixo em Fernando de Noronha. Atrasos, acúmulo de resíduos e usina de reciclagem inoperante levaram o governo do estado a notificar a empresa pela precariedade do serviço, levantando dúvidas sobre sua capacidade de manter a limpeza da ilha para receber a Regata Refeno.
CasaCor
No dia 4 de outubro, no Complexo Níagara (Recife Antigo), tem início a CasaCor Pernambuco 2025, maior mostra de arquitetura e design do Estado. A arquiteta Andréa Calabria participa com o Living Brávia, projeto que valoriza móveis e peças assinadas por grandes nomes do design brasileiro, com elementos e texturas orgânicas inspiradas no Vale do Catimbau.
Ilusionismo
O show de ilusionismo da dupla Henry & Klauss, que acontece neste fim de semana no Teatro Guararapes, tem patrocínio da Brasilprev, empresa de previdência privada da holding BB Seguros.
Hackathon no CESAR
O Hackathon Inova.Ação PCD Acessibilidade 360º acontece neste fim de semana (27 e 28), no Cesar School, reunindo 80 pessoas com deficiência em uma maratona de inovação. O evento pode gerar até 35 contratações em Desenvolvimento de Software, além de oferecer formação gratuita. A iniciativa é uma parceria entre o CESAR e a Télos.
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