Os impactos da inteligência artificial nos processos dentro das organizações
Com ganhos de produtividade estimados em 40%, a inteligência artificial deve movimentar trilhões na economia global nos próximos anos, segundo a Accenture
A inteligência artificial (IA) vem transformando a rotina das pessoas, automatizando tarefas rápidas e liberando tempo para atividades mais complexas, sobretudo nas empresas. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 25% das profissões serão impactadas pela IA nos próximos anos. O dado acende um alerta: mais do que temer a substituição por máquinas no futuro, é preciso se preparar para evoluir com a tecnologia que já molda o presente.
Com o avanço acelerado das ferramentas, quem não acompanhar essa transformação pode perder em agilidade e competitividade. A multinacional Accenture, especializada em serviços de tecnologia da informação e consultoria de gestão, estima que a IA pode elevar a produtividade em até 40% e adicionar US$ 14 trilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) global até 2035.
Dominar plataformas como ChatGPT, Deepseek e Google Gemini já se tornou um diferencial no currículo. De acordo com o relatório Skills of the Future, do Santander, a IA está criando novas demandas no mercado. Para 70% dos brasileiros ouvidos, o domínio dessas tecnologias será essencial para manter a empregabilidade.
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Substituição
A consciência de que as novas tecnologias existem e já começam a moldar o mundo do trabalho não elimina o receio de grande parte das pessoas em relação à substituição da mão de obra humana por assistentes virtuais, por exemplo. Um estudo da Page Interim apontou que 76% dos entrevistados acreditam que a inteligência artificial terá impacto — ainda que parcial — sobre os postos de trabalho em suas áreas de atuação.
Para o presidente do Porto Digital, principal instituição de fomento à tecnologia no Recife, Pierre Lucena, a presença da IA, de fato, pode reduzir a necessidade de humanos em tarefas de “média qualificação”, como revisão e análise de relatórios.
Presidente do Porto Digital, Pierre Lucena afirmou que a IA pode reduzir a força de trabalho, mas que habilidades humanas ainda serão valorizadas como fator essencial. Foto: Léo Malafaia/Folha de Pernambuco. Pierre destacou que profissões de média criatividade, como analista financeiro, arquitetura, designer de interiores e publicidade estão entre as mais impactadas pelo avanço da inteligência artificial. “A IA vai reduzir a força de trabalho, sim. Ela aumenta a produtividade, sendo possível fazer, em minutos, o que antes levava horas. Isso exige menos gente para realizar as mesmas tarefas”, destacou.
Por outro lado, isso não significa que a tecnologia inteligente vai se apossar plenamente dos postos de trabalho, já que a IA deve funcionar no papel de uma espécie de copiloto, precisando de uma presença humana por trás em algumas atividades.
“O fator humano ainda terá papel essencial e, por isso, é muito importante que cada vez mais profissionais entendam e saibam utilizar a inteligência artificial e toda e qualquer nova tecnologia em sua plenitude”, lembrou Pierre.
Rotina
Em um mundo em que a IA está cada vez mais integrada à rotina das pessoas, algumas competências humanas se tornam mais valiosas. “Acredito que o principal é saber fazer perguntas à IA, porque exige cultura geral, repertório, leitura e capacidade de roteirizar problemas”, explicou Lucena.
Para ele, as características de um mercado de trabalho que coexiste com ferramentas de tecnologia avançada, como a IA generativa, devem ficar ainda mais evidentes nos próximos três anos.
Atualmente, um em cada quatro brasileiros já utiliza a IA todos os dias, conforme relatório da empresa Get App. O número, que já representa uma receptividade positiva das ferramentas de IA, deve, como lembrado por Pierre, se expandir ainda mais, já que o interesse dos atuais e futuros trabalhadores por soluções tecnológicas vem aumentando ao longo do tempo.
De acordo com o Relatório Global de Habilidades 2025 — realizado pela plataforma de aprendizado online Coursera — o Brasil apresentou um aumento de 292% nas matrículas em cursos de Inteligência artificial generativa (IA Gen). Com a marca, o país figura entre os maiores adotantes da IA na América Latina.

Potencial
Embora a inteligência artificial muitas vezes opere de forma intuitiva, saber como utilizá-la estrategicamente é fundamental para aproveitar todo o seu potencial. Na internet, há uma variedade de cursos gratuitos que ensinam a aplicar a tecnologia para aumentar a agilidade e a eficiência no dia a dia.
Um exemplo é o curso “Inteligência Artificial e Produtividade”, do Santander Open Academy em parceria com o Google. A capacitação está disponível na plataforma da instituição, de forma gratuita.
A Escola Virtual do Governo Federal (EV.G) também disponibiliza formações on-line abertas ao público, voltadas para o uso da IA em diferentes contextos. Para empreendedores, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) oferece o curso “IA na prática para pequenos negócios”, que ensina como aplicar a tecnologia na gestão e operação de empresas de menor porte. Essas são apenas algumas das diversas opções disponíveis para quem deseja se preparar para o novo cenário do mercado de trabalho.
Prática
Foi pensando na expansão das novas exigências de mercado, em relação à agilidade e atualização de conhecimentos inovadores, que o gerente de Marketing Jonata Cojak começou a se especializar em IA aliada aos processos da sua rotina na empresa em que trabalha.
Com dez anos de experiência na área de marketing e vendas, o profissional, a partir de 2023, viu a necessidade de ampliar os estudos. Para ele, a IA não deve ser encarada como uma ameaça, mas como uma oportunidade de “produzir mais e melhor”.
O gerente de Marketing informou que os maiores ganhos na sua rotina foram comodidade e maior produtividade. Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco. Jonata explicou que, atualmente, cerca de 90% das suas tarefas operacionais têm apoio de ferramentas inteligentes. “Uso a IA para executar atividades repetitivas e rotineiras. Com isso, ganho tempo para focar no que realmente importa: pensar de forma estratégica, tomar decisões com mais clareza e gerar mais valor no que entrego”, afirmou.
Para Cojak, os maiores ganhos foram comodidade e um aumento significativo na produtividade. “Pode até parecer repetitivo, mas é a realidade: quem utiliza IA de forma assertiva e estratégica consegue produzir de 3 a 4 vezes mais do que antes”.
Empregador
Na outra ponta, as empresas também têm mudado o jeito de atender os clientes e de contratar funcionários. A instituição financeira Jota integra a IA tanto no atendimento com os clientes quanto nos processos entre os colaboradores.
De acordo com o diretor-executivo da Jota, Irineu Brito Júnior, a IA transformou a cultura interna e a maneira como todo o trabalho é executado. “Na Jota, usamos IA em todas as frentes, como produto, suporte, financeiro, marketing e design”, afirmou.
Com isso, a organização começou a valorizar perfis de colaboradores curiosos e abertos a novidades. “Passamos a valorizar profissionais curiosos e dispostos a aprender continuamente. A tomada de decisão tornou-se mais orientada a dados em tempo real, o que exigiu requalificação em análise de dados e em fundamentos de IA”, afirmou.
O diretor-executivo ainda informou que as áreas mais impactadas são operações transacionais e atendimento ao cliente, que agora funcionam de forma quase totalmente automática.
Para os clientes, a Jota integrou IA a todos os fluxos bancários: transações, geração de QR codes, pagamentos, agendamentos de boletos, consultas de saldo e extrato. “Tudo acontece dentro do WhatsApp, onde o cliente pode enviar texto, imagem ou áudio; o assistente entende o pedido e executa a operação nos sistemas internos.”

