Presidente do Fed, banco central dos EUA, indica possibilidade de manter juros altos
Mesmo diante das perspectivas de uma recessão no país, Jerome Powell diz que um mercado de trabalho forte depende da estabilidade de preços. Ações aprofundam queda após discurso
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, voltou a enfatizar que a instituição, equivalente ao banco central dos EUA, precisa garantir que as tarifas sobre importados impostas pelo governo de Donald Trump não provoquem um aumento mais persistente da inflação.
— Nossa obrigação é manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas e assegurar que um aumento pontual no nível de preços não se transforme em um problema inflacionário contínuo — disse Powell hoje, lendo um discurso preparado para o Economic Club de Chicago.
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A afirmação indica que ele vai priorizar o combate à inflação, o que deve adiar a redução da taxa de juros no país, mesmo diante dos riscos de uma recessão penalizar o mercado de trabalho.
O Fed tem como mandatos não só manter a inflação em 2% ao ano. Também tem metas relacionadas ao emprego na maior economia do planeta. O problema é que as previsões apontam uma estagnação com inflação em consequência das tarifas.
Os integrantes do Fed cortaram os juros três vezes consecutivas no fim de 2024, mas começaram 2025, quando Trump assumiu, sinalizando uma abordagem mais paciente diante da inflação persistente.
Muitos da cúpula da instituição destacaram a necessidade de minimizar o risco de que as tarifas levem a um aumento contínuo da inflação e das expectativas de longo prazo dos americanos sobre o crescimento dos preços.
Enquanto isso, as demissões e o desemprego — que ficou em 4,2% em março — continuam baixos. Os empregadores dos EUA criaram 228 mil vagas no mês passado, superando as previsões.
Equilíbrio delicado e ações em queda
Powell afirmou que os formuladores de política monetária equilibrarão suas duas responsabilidades — promover o máximo emprego e a estabilidade de preços — “tendo em mente que, sem estabilidade de preços, não podemos alcançar longos períodos de condições favoráveis no mercado de trabalho que beneficiem todos os americanos”.
Com a perspectiva de juros altos por mais tempo, as ações nos EUA ampliaram as perdas e o dólar caiu após os comentários de Powell. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos recuaram levemente.
As declarações reforçam uma mensagem que Powell vem enfatizando repetidamente, como no último dia 4 de abril: os dirigentes do Fed não têm pressa para mudar a taxa básica de juros da instituição.
Enquanto buscam maior clareza sobre como as políticas econômicas do presidente Donald Trump — especialmente no comércio — afetarão a economia dos EUA, Powell e outros dirigentes do Fed têm demonstrado apoio à manutenção das taxas inalteradas.
— Por ora, estamos bem posicionados para aguardar maior clareza antes de considerar qualquer ajuste em nossa postura de política monetária — disse Powell.
Na sessão de perguntas e respostas após o discurso, Powell afirmou que espera que o desemprego e a inflação sigam se afastando das metas do Fed “provavelmente pelo restante do ano”.
Mandato em Conflito
O presidente do Fed reconheceu que uma economia em desaceleração e uma inflação elevada podem eventualmente colocar em conflito os dois objetivos da instituição.
— Podemos nos encontrar em um cenário desafiador no qual nossos objetivos de duplo mandato estejam em tensão — disse ele. — Se isso ocorrer, consideraremos o quão distante a economia está de cada meta, e os diferentes horizontes de tempo em que se espera que essas lacunas sejam fechadas.
Trump continua a alterar drasticamente seus planos de imposição de novas tarifas sobre importados, principalmente os da China, deixando empresas, consumidores e mercados financeiros globais em alerta diante da constante instabilidade.
Ele recuou das chamadas tarifas recíprocas anunciadas em 2 de abril, depois que os planos causaram turbulência nos mercados. Em seguida, avançou com uma tarifa global básica de 10% e encargos superiores a 100% sobre a China, depois enviou sinais contraditórios sobre criar isenções para smartphones e outros produtos tecnológicos.
O presidente dos EUA também impôs tarifas sobre importações de automóveis, aço e alumínio, e sinalizou que medicamentos e semicondutores podem ser os próximos.
Muitos analistas estimam que as tarifas impulsionarão a inflação e desacelerarão o crescimento econômico — uma visão que Powell compartilha.
A inflação, medida pelo indicador preferido do Fed, foi de 2,5% no acumulado de 12 meses até fevereiro, bem abaixo do pico pós-Covid, mas ainda persistentemente acima da meta de 2% do banco central americano. No discurso, Powell disse que as estimativas apontam que esse índice será de 2,3% em março.
Expectativas de Inflação
Powell reiterou nesta quarta-feira que o nível de aumento tarifário anunciado até agora é significativamente maior que o previsto. Ele acrescentou que os encargos provavelmente gerarão, no mínimo, um aumento temporário da inflação — mas que os efeitos inflacionários também podem ser mais duradouros.
— Evitar esse resultado dependerá da magnitude dos efeitos, do tempo que levará para que eles sejam totalmente repassados aos preços e, em última instância, de manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas — disse.

