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Superação

Com ajuda da inteligência artificial, atleta paraplégica volta a andar seis anos após acidente

Marta Dombi sofreu lesão medular completa em 2018, mas contrariou prognóstico de médicos e tornou-se pioneira em tratamento com implantes conectados ao cérebro e à medula

A triatleta Marta Dombi sofreu uma lesão cerebral e ficou paraplégica em 2018 após um grave acidente de bicicletaA triatleta Marta Dombi sofreu uma lesão cerebral e ficou paraplégica em 2018 após um grave acidente de bicicleta - Foto: Reprodução / Instagram

Em 2018, durante uma prova de Ironman, a triatleta Marta Dombi sofreu um grave acidente de bicicleta que a deixou paraplégica.

A lesão medular completa, uma das mais severas, comprometeu toda a mobilidade e sensibilidade da cintura para baixo. Na época, os médicos foram taxativos: ela jamais voltaria a andar. Mas Marta recusou-se a aceitar o diagnóstico.

Seis anos depois, de acordo com a CNN de Portugal, ela voltou a caminhar com o auxílio de implantes ligados a um sistema de inteligência artificial.

— Sou um filme de ficção científica em pessoa — brincou, durante uma conferência sobre medicina e IA promovida pela Fundação Champalimaud, em Lisboa.

O feito é resultado de uma cirurgia experimental conduzida pelo centro de investigação suíço NeuroRestore, ligado à Universidade de Lausana. Apesar de inicialmente não haver ensaios clínicos para pacientes com lesão medular completa, Marta insistiu em participar e acabou selecionada.

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Em setembro do ano passado, passou por uma operação de sete horas, na qual recebeu três implantes — um no crânio, na área do cérebro responsável pelo movimento das pernas, e dois na medula espinal, abaixo da lesão.

Os dispositivos se comunicam por meio de um sistema de inteligência artificial que interpreta os sinais neurais emitidos por Marta quando ela pensa em se mover. Esses sinais são captados, codificados por algoritmos e transformados em impulsos elétricos que estimulam os músculos das pernas. A “ponte digital” entre cérebro e coluna ainda exige o uso de equipamentos externos: um boné com sensores, um transmissor, um computador portátil transportado em um andarilho e conexões via Bluetooth.

— O corpo humano não é como a tecnologia, que funciona logo quando se carrega no ‘enter’ — ironizou.

Marta, que precisou de meses de fisioterapia para recuperar parte da musculatura inativa há anos e calibrar o funcionamento do sistema. Embora ainda experimental — os movimentos são feitos apenas em laboratório ou em sessões limitadas em casa —, o avanço é promissor.

A neurocientista Valeria Spagnolo, da equipe do NeuroRestore, afirma que a experiência de Marta representa “o início de algo muito grande”, embora ainda dependa de ajustes técnicos, como a melhoria dos algoritmos e a miniaturização dos dispositivos.

Apesar dos progressos, Marta continua a usar cadeira de rodas no cotidiano e sabe que não há cura para sua condição. Ainda não consegue sentir que está andando e usa um espelho para acompanhar os próprios passos durante os treinos. Mas mantém o foco em integrar os exercícios à sua rotina e em colaborar para que a tecnologia se torne mais acessível e menos invasiva.

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