Copa do Mundo sub-17 começa nesta sexta, com brasileiro naturalizado argentino entre destaques
Felipe Rodríguez-Gentile é o primeiro jogador nascido no Brasil em mais de oitenta anos a defender a seleção albiceleste
Felipe Rodríguez-Gentile acaba de completar 17 anos e conseguiu seu primeiro contrato como jogador de futebol. Nesta quinta-feira, o jovem assinou profissionalmente com o Preston North End, clube da Championship League, segunda divisão da Inglaterra, o que ele revelou estar esperando há muito tempo.
“Feliz por assinar um contrato profissional com este clube incrível. A jornada continua”, publicou o jovem no Instagram, junto com uma foto em que aparece ao lado da mãe e do pai.
“Felipinho”, como ficou conhecido, assinou um contrato de dois anos e meio com o clube inglês, depois de ter sua formação no futebol de maneira pouco convencional: não nasceu nem jogou na Argentina, mas já fez seus primeiros treinos na seleção sub-17 do país, para a qual foi convocado para disputar a Copa do Mundo da categoria, que começa nesta sexta-feira.
Considerado um dos mais promissores da equipe, ele pode se tornar o primeiro jogador, em mais de 80 anos, a defender a seleção principal da Argentina tendo nascido no Brasil. Essa história teve início na crise pela qual o país vizinho passou em 2001, quando os Rodríguez-Gentiles pais de Felipe mas ainda sem filhos, decidiram se mudar para o Brasil, mais especificamente para a cidade de Vinhedo, a uma hora e meia de São Paulo.
Após o nascimento de Felipe e do irmão mais velho Mateo, a família se mudou para a Itália em 2008, quando o caçula teve seu primeiro contato com uma bola.
“Vimos como ele segurava e chutava, e eu e a mãe dele nos entreolhamos. Ele tinha apenas dois anos”, disse o pai, Fernando, ao jornal argentino La Nacion.
Leia também
• Atuação de Suárez e nova virada sofrida pelo Botafogo repercutem na imprensa internacional
• Atropelado pelo Cuiabá, Bahia chega a quase 50% de chances de cair; Santos tem menos de 5%
• Quem é Rodrigo José Pereira de Lima, juiz pernambucano elogiado após apitar Flamengo x Palmeiras
Dois anos depois, eles voltaram ao Brasil, e Felipe se destacou em todos os clubes que atuou pelas categorias de base, sempre como atacante, um artilheiro nato, segundo o pai. Pouco tempo depois, ele já era tratado como Felipinho, fruto do usual nome no diminutivo usado no português, mas também pelo seu porte físico: magro, habilidoso, rápido.
Foi nesse período em que, segundo os pais, mesmo tendo nascido e sido criado no Brasil, ele optou por se identificar como argentino.
“Sempre que pôde, vestiu a camisa argentina. Em um dos torneios que venceu no Brasil, foi à cerimônia de premiação com o prefeito com a camisa 10 de Messi. No Brasil!”, lembrou o pai, destacando que a família mantinha hábitos ligados à Argentina. “Comemos comida argentina, assistimos ao futebol argentino, e os meninos vinham todo verão de férias para a Argentina. Nós nunca mudamos.”
Bola de Cristal: restando cinco times na briga pelo título, o que cada um precisa para ser campeão brasileiro
'Narrativas fantasiosas': em nota, Flamengo e Fluminense anunciam vitória em concessão provisória do Maracanã e criticam o Vasco
De volta ao Brasil, Felipe começaria a despontar em clubes do interior de São Paulo, como Rocinhense, de Vinhedo, Country Club de Valinhos e Paulista, de Louveira. Até que em janeiro de 2020, dois meses antes da quarentena resultado da pandemia de Covid-19, sua família decidiu se mudar novamente.
“Foi um bom momento para ir com os dois meninos. E foi novamente por uma oportunidade de trabalho”, disse Fernando, que levou a família para Liverpool. “Não há tantos estrangeiros aqui como em Londres, por exemplo. Então Felipe foi desde o início 'o brasileiro'.”
Felipe logo mostraria talento com a bola nos pés. O jovem conta que, além de Messi, tem como ídolo Sergio Agüero, maior artilheiro estrangeiro da Premier League. Na Inglaterra, o jovem conquistou títulos e se destacou nos torneios realizados em meio à pandemia e chegou a ser procurado pelo Liverpool, clube pelo qual treinou ao longo de alguns meses, mas acabou não sendo aproveitado, segundo o pai. O destino do jovem seria, então, o Preston North End, clube pelo qual ele estrearia, nas categorias de base, em 2021.
“Chegamos em um sábado às 7 da manhã. Eles lhe deram as roupas, e eu observei. Ele entrou no segundo tempo e marcou dois gols. Foi uma loucura”, lembrou Fernando
Atuando pelo sub-18, Felipinho se destacaria ao marcar cinco gols em uma única partida da FA Youth Cup (e levaria a bola para casa). Na ocasião, o técnico Ryan Lowe (da equipe principal do Preston North End) decidiu o convocar para treinar com o time Em seguida, lesões de outros atacantes fizeram com que o jovem tivesse a oportunidade de ser relacionado para as suas primeiras partidas pelo time profissional — embora ainda não tenha feito a sua estreia.
Felipe não é o primeiro brasileiro a jogar pela seleção argentina, mas os dados sobre esses casos são escassos. Especialistas em história do futebol local consultados pelo La Nacion não se lembravam de casos precedentes, e quase não há registro de Aarón Wergifker, zagueiro paulista que jogou no River e no Platense e que vestiu a albiceleste entre 1934 e 1936.
A Copa do Mundo sub-17 estreia nesta sexta-feira. Panamá x Marrocos e Indonésia (anfitrião) x Equador jogam pelo grupo A, enquanto Mali X Uzbequistão e Espanha x Canadá jogam pelo grupo B. O Brasil, que conta com nomes como Kauã Elias (Fluminense), está no grupo C, com Nova Caledônia, Inglaterra e Irã, adversária da estreia, que ocorre neste sábado, às 9h.

