Seg, 08 de Dezembro

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Ataque dos EUA ordenado por Trump ao Irã ocorre em momento delicado para a economia global

Disparada do preço do petróleo deverá aumentar a inflação ao redor do mundo e pressionar ainda mais a política de juros dos bancos centrais

O presidente dos EUA, Donald Trump, fotografado na Casa Branca na terça-feira O presidente dos EUA, Donald Trump, fotografado na Casa Branca na terça-feira  - Foto: Roberto Schmidt/AFP

Os ataques dos EUA às três principais instalações nucleares do Irã ocorrem em um momento delicado para a economia global, e a perspectiva agora depende da força da retaliação da República Islâmica.

O Banco Mundial, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) rebaixaram suas previsões de crescimento global nos últimos meses, principalmente por causa dos efeitos do tarifaço de Donald Trump.

Quaisquer aumentos significativos nos preços do petróleo ou do gás natural, ou perturbações no comércio causadas por uma nova escalada do conflito, atuariam como mais um freio para o crescimento global.

"Veremos como Teerã responderá, mas o ataque provavelmente colocará o conflito em um caminho de escalada. Para a economia global, um conflito em expansão aumenta o risco de preços mais altos do petróleo e de um impulso de alta da inflação", afirma relatório dos analistas Ziad Daoud, Tom Orlik e Jennifer Welch, da Bloomberg Economics.

No cenário extremo em que o Estreito de Ormuz for fechado, o petróleo bruto pode ultrapassar US$ 130 por barril, estimam Daoud, Tom Orlik e Jennifer Welch.

Cerca de um quinto do suprimento diário mundial de petróleo passa pelo Estreito de Ormuz, que fica entre o Irã e seus vizinhos, como a Arábia Saudita, conectando o Golfo Pérsico com o Golfo de Omã e com o Mar da Arábia.

Isso pode fazer a inflação ao consumidor nos EUA subir para perto de 4% no verão (no hemisfério norte), levando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e outros bancos centrais ao redor do mundo a adiarem um cronograma de baixas em suas taxas básicas de juros, inclusive o Banco Central do Brasil.

Após o ataque americano, um derivativo que permite aos investidores especular sobre as oscilações do preço do petróleo bruto subiu 8,8% no IG Weekend Markets. Se essa tendência se mantiver quando as negociações forem retomadas nesta segunda-feira, o estrategista do IG, Tony Sycamore, afirmou que projeta que os futuros do petróleo bruto WTI abrirão a segunda-feira em torno de US$ 80 o barril.

Muito dependerá de eventos de curto prazo. O Ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, disse que os ataques americanos são "ultrajantes e terão consequências duradouras".

Ele citou a Carta das Nações Unidas sobre disposições para autodefesa e disse que o Irã reserva todas as opções para defender sua soberania, interesses e povo.

A Bloomberg Economics vê três opções para o Irã responder: 1) ataques a pessoal e ativos dos EUA na região visando a infraestrutura energética regional; 2) fechando o ponto de estrangulamento marítimo do Estreito de Ormuz usando minas subaquáticas; 3) hostilizando navios que passam por lá.

Os EUA são um exportador líquido de petróleo. Mas preços mais altos do petróleo bruto só agravariam os desafios que a economia americana já enfrenta. O Fed atualizou as projeções econômicas na semana passada, reduzindo sua previsão para o crescimento dos EUA neste ano de 1,7% para 1,4%, enquanto as autoridades digeriam o impacto das tarifas de Trump sobre os preços e o crescimento.

Como maior compradora das exportações de petróleo iraniano, a China enfrentaria as consequências mais óbvias de qualquer interrupção no fluxo de petróleo, embora seus estoques atuais possam oferecer algum alívio.

Quaisquer interrupções no transporte pelo Estreito de Ormuz também teriam um impacto significativo no mercado global de gás natural liquefeito.

O Catar, que representa cerca de 20% do comércio global de GNL, usa essa rota para exportações e não tem passagem alternativa. Isso deixaria o mercado global de GNL extremamente restrito, elevando significativamente os preços do gás europeu, observou a Bloomberg Economics.

Embora os investidores possam estar preocupados com a interrupção do fornecimento em caso de escalada das hostilidades, os membros da OPEP+, incluindo a Arábia Saudita, líder de fato do grupo, ainda têm abundante capacidade ociosa que pode ser ativada. Além disso, a Agência Internacional de Energia (AIE) pode optar por coordenar a liberação de estoques de emergência para tentar acalmar os preços.

“As tensões no Oriente Médio representam mais um choque adverso para uma economia global já enfraquecida”, afirmou Ben May, diretor de pesquisa macroeconômica global da Oxford Economics, em um relatório antes da recente escalada. “Os preços mais altos do petróleo e o consequente aumento da inflação do IPC dariam aos bancos centrais uma grande dor de cabeça.”

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