Cirurgiões bucomaxilofaciais entre os mais expostos aos riscos da Covid

Apesar de serem pouco lembrados, os cirurgiões bucomaxilofaciais estão entre os profissionais mais expostos nesta pandemia. Eles são responsáveis por tratar doenças ou lesões da cavidade bucal, rosto, maxilar e região da face. Ou seja, partes do corpo que estão diretamente ligadas à transmissão do coronavírus.

Com o avanço da crise sanitária, em alguns momentos as cirurgias eletivas foram suspensas, no entanto os procedimentos de emergência desta especialidade nunca deixaram de serem feitos. Foi diante de um cenário desconhecido e para muitos até mesmo assustador que estes especialistas tiveram que se reinventar e buscar novos meios para continuarem atendendo seus pacientes.

Referência na especialidade

Em Pernambuco, uma das unidades de saúde referência em cirurgia bucomaxilofacial é o Hospital da Restauração (HR), localizado no Centro do Recife. De acordo com o chefe do setor, Carlos Lago, entre março de 2020, quando foram confirmados os primeiros casos de Covid-19 no Estado, e fevereiro de 2021 foram realizadas 822 cirurgias da especialidade.

Ele explica que já existia um rigor com as medidas sanitárias, pois as infecções decorrentes de cirurgia podem ser causadas por vírus, bactérias e fungos, mas houve um aprimoramento das ações. Se antes usava-se máscaras cirúrgicas convencionais passou-se a utilizar as do tipo N95 ou semelhantes. Face shield e óculos de proteção também fazem parte dos itens de prevenção.

"As mudanças de protocolos foram sendo implantadas para controle da transmissão e para melhoria do atendimento. O medo sempre existiu, mas precisamos estar presentes. Por isso, reforçamos os cuidados. Se alguém da equipe médica apresenta sintoma gripal é imediatamente afastado, por exemplo", comenta Lago.

A atenção é redobrada antes mesmo dos procedimentos cirúrgicos. "Quando atendemos pacientes da emergência em situação crítica trabalhamos no escuro. Em alguns casos, como trauma de face, fratura aberta, lábios e língua cortados, temos que levá-los para cirurgia. Se ele tem Covid ou não vai ser visto depois. Outros com traumas que podem aguardar um dia para ser operado têm a oportunidade de fazer o teste", afirma Lago.

Atenção aos sintomas

O coordenador do Programa de Residência em cirurgias bucomaxilofacial do HR, Belmiro Vasconcelos, ressalta que há uma atenção maior no histórico e na sintomatologia do paciente. "Passamos a monitorá-los mais de perto, fazer um exame clínico mais apurado, avaliando tudo que ele sente ou deixa de sentir, seja na emergência, na enfermaria, internado ou em casa. Em alguns casos até demos nossos números de celular para que pudéssemos falar diretamente com o paciente após a alta hospitalar", disse Vasconcelos. Os dois médicos atribuem a estes e outros cuidados o fato de não ter sido registrada nenhuma morte entre os pacientes operados no setor durante a pandemia.

Ainda assim, não foi possível evitar que ambos e outros membros da equipe fossem contaminados pelo coronavírus, mostrando o quão perigoso é o vírus. "Estamos vivendo uma terceira guerra mundial que nos levou a ter um comportamento mais rigoroso fora e dentro do hospital. Fomos obrigados a nos ajustarmos, treinar os colegas e passar isso para os estudantes e a população em geral", avalia Belmiro Vasconcelos.

Busca por capacitação

Já para Carlos Lago a Covid-19 também serviu para que profissionais de saúde buscassem cada vez mais capacitação. "A Covid-19 está associada a outras situações clínicas e isso nos obrigou a estudar mais, ler mais, buscar novas informações. Nós médicos e professores já tínhamos esse hábito, mas com a pandemia conseguimos passar essa rotina para os colegas", acrescenta o chefe do setor de bucomaxilofacial do HR.

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