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Desabamento Conjunto Beira Mar: moradores assustados e imóveis danificados

Defesa Civil do Paulista está no local para averiguar situação

Desabamento de prédio no Conjunto Beira Mar no Janga, PaulistaDesabamento de prédio no Conjunto Beira Mar no Janga, Paulista - Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

O desabamento parcial do bloco D-10, do Edifício Júlia, localizado no Conjunto Beira Mar, em Paulista, no Grande Recife, deixou moradores assustados e pelo menos 12 imóveis danificados, na manhã desta quarta-feira (30).

Embora não tenha havido vítimas no incidente, o cenário é tenso no local que foi desapropriado, porém alvo de tentativas de invasão.

O aposentado Severino Ramos, de 70 anos, ouviu fortes estrondos, por volta das 6h de hoje. “Eu ouvi uma zoada, igual um trovão. Quando cheguei aqui fora, parte do prédio tinha caído. Foi um susto grande. Quando eu cheguei aqui, vi tudo no chão, já derrubado. Ainda bem que não morava ninguém”, comentou, em meio à tensão.

Durante a entrevista, Ramos desabafou e confessou sentir uma sensação de impunidade ao presenciar o ocorrido e reviver um susto, quase dois anos após o desabamento do bloco D-7, que resultou em 14 mortos e sete feridos.

 

“É uma injustiça, porque isso aí era para estar tudo demolido, porque só vive caindo e prejudica muita gente. São muitas vidas que se perdem e comerciantes que se prejudicam”, complementou ele.

Wamberg Valente é proprietário de uma loja equipadora de veículos. O estabelecimento dele foi fortemente atingido pelos escombros do bloco.

“Eu recebi uma mensagem de um amigo, quando estava vindo abrir a loja. Ele [o amigo] disse que tinha caído um apartamento atrás da loja, porém não sabia se tinha pego no meu comércio. Eu corri para cá. Quando cheguei e abri, vi o estrago. Graças a Deus, ninguém aqui se acidentou. Ainda não tenho dimensão do prejuízo, mas perdi muita coisa”, contou ele, que é proprietário do imóvel que funciona no local há dois anos.
 

Desabamento de prédio no Conjunto Beira Mar no Janga, PaulistaDesabamento de prédio no Conjunto Beira Mar no Janga, Paulista. Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco


Vigilante se abriga num contêiner
O vigilante que atua no local pela madrugada estava abrigado numa estrutura de contêiner que, minimamente, possui ventilação.

“O profissional vigilante toma conta desses prédios para que não sejam ocupados por civis ou que alguém venha invadir para fazer moradia. Muitas vezes, a vida dele está em risco. Há cerca de um ano, cobramos das empresas e da seguradora a instalação de contêineres, afastados dos prédios, para evitar que os profissionais utilizassem o banheiro ou se abrigassem de sol e chuva dentro dessas edificações. Se não houvesse esse contêiner, hoje poderíamos estar chorando a morte de um pai ou mãe de família”, contou Clésio Sales, diretor administrativo Sindicato dos Vigilantes do Estado de Pernambuco.

Cadastro de moradores
Equipes da Defesa Civil do Paulista estiveram no local para averiguar a estrutura e isolar a área para evitar riscos aos moradores do local. Segundo Cíntia Silva, coordenadora do órgão no município, os agentes fizeram um levantamento dos imóveis afetados para prestar o devido apoio.

“Nós viemos conscientizar, inclusive, de que elas moram numa área de muito risco. É um prédio que já está interditado há algum tempo, além de já ter o histórico do D-7, há dois anos. A nossa preocupação é com essas pessoas, que têm residências e comércios. Elas não podem ficar aqui”, frisou ela.

“Vamos fazer um cadastramento na Defesa Civil, para reconhecermos quantas famílias foram afetadas e a situação de cada uma delas para a gente poder fazer os devidos procedimentos, lá na frente”, adiantou ela.

Previsão de demolição
Como relatado por Cíntia Silva, o complexo de condomínios é repleto de prédios-caixão.

O D-10, inclusive, faz parte do conjunto de prédios que seriam demolidos, num acordo firmado entre o Governo Federal, Caixa Econômica Federal, Poder Judiciário, Governo de Pernambuco, Ministério Público Federal, Procuradoria Geral de Justiça de Pernambuco e Confederação Nacional das Seguradoras.

Os blocos autorizados para demolição foram: C-09, C-10, C-11, C-12, C-13, C-15, D-01, D-04, D-05, D-06, D-07, D-08, D- 09, D-10, D-11, D-12, D-13 e D-14.

“Outros prédios estão na mesma situação, porque é o mesmo terreno, e a mesmo modelo de construção. A gente vai priorizar o entorno do D-10 e ver, junto ao Governo do Estado, como está a situação desse processo de indenizações e demolições, para podermos interditar aqui para evitar a presença de curiosos ou pessoas que queiram tirar grade, porta ou coisas do tipo. A gente não pode permitir, porque é uma questão de risco”, finalizou ela.

O que diz a Prefeitura do Paulista?
Consultada pela reportagem, a Prefeitura do Paulista ainda não emitiu reposta.

O que diz a Cehab?
Em nota, a Companhia Estadual de Habitação (Cehab) afirma que a demolição dos blocos do Conjunto Beira Mar faz parte do acordo firmado em junho de 2024 entre o Governo Federal, a Caixa Econômica Federal, o Poder Judiciário, o Ministério Público Federal, a Procuradoria Geral de Justiça de Pernambuco e a Confederação Nacional das Seguradoras. De acordo com esse entendimento, a responsabilidade pela demolição das edificações em situação de risco cabe à seguradora envolvida, enquanto o pagamento do auxílio financeiro aos moradores é de responsabilidade da Caixa Econômica Federal.  

"O Estado de Pernambuco reforça que sua atuação se dá posteriormente, apenas após a demolição dos blocos, quando os terrenos são repassados. Quanto aos estabelecimentos comerciais na área, é importante destacar que foram construídos de forma irregular, sem autorização dos órgãos competentes. A regularização dessas estruturas deverá ser conduzida pela prefeitura municipal, conforme as normas urbanísticas e de segurança aplicáveis. O Governo do Estado segue acompanhando a situação e permanece à disposição para colaborar dentro de suas atribuições", conclui o comunicado.

Nota da seguradora

"A Traditio (nova razão social da SulAmérica) lamenta o ocorrido no Conjunto Beira-Mar, em Paulista (PE), e esclarece que o prédio faz parte do plano de demolições acordado em colaboração à CEF/FCVS (Caixa Econômica Federal/Fundo de Compensações de Variações Salariais) e à Administração Pública.

A construtora responsável pela demolição foi contratada e o início dos trabalhos só não foi possível devido a ameaças sofridas pelos técnicos que foram ao local. Diante do ocorrido, a companhia reiterou às autoridades a urgência em executar o plano de ação e solicitou reforço policial em 5 de dezembro de 2024, para assegurar a integridade dos trabalhadores, o que foi autorizado, por decisão judicial, no dia 11 de dezembro de 2024 e que se encontra na iminência de implementação pelas autoridades públicas. 

A Traditio também reforça que, conforme expresso no acordo judicial, não é proprietária e nem seguradora desses imóveis, mas manteve vigilância no local, por determinação judicial e acordo com as autoridades, para evitar novas invasões. A companhia reitera seu compromisso com a segurança e bem-estar da comunidade e segue à disposição das autoridades para que o processo seja concluído de maneira responsável e segura para toda a população.”


 

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