Seg, 08 de Dezembro

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Dor 'o tempo todo': a luta dos sobreviventes do desabamento de boate na República Dominicana

As vítimas e seus familiares apresentaram 38 processos judiciais contra os proprietários da casa noturna em Santo Domingo

Boate 'Jet Set' após desabamento do teto, em Santo Domingo, República DominicanaBoate 'Jet Set' após desabamento do teto, em Santo Domingo, República Dominicana - Foto: Folheto / Serviço de Imprensa 911 / AFP

Jeniré tem pela frente uma longa reabilitação para voltar a andar e Carmen toma medicamentos para dormir e fugir do trauma. Os sobreviventes do desabamento da boate Jet Set na República Dominicana há um mês, que deixou 233 mortos, lutam com as sequelas.

As vítimas e seus familiares apresentaram 38 processos judiciais contra os proprietários da casa noturna em Santo Domingo.

O teto desabou na madrugada de 8 de abril durante uma apresentação do cantor de merengue Rubby Pérez, que morreu na tragédia. Os ex-jogadores de beisebol Octavio Dotel e Tony Blanco também estão entre os falecidos.

Flores, centenas de velas e fotos das vítimas estão nas ruínas do que foi esta famosa boate, formando uma espécie de memorial.

"Suas vozes se calaram, mas suas memórias gritam", "Exigimos condenações, não desculpas", lê-se em cartazes.

As autoridades buscam estabelecer responsabilidades, mas não foram anunciados resultados conclusivos. O proprietário do local, o empresário Antonio Espaillat, disse estar à disposição para colaborar com a Justiça.

"Não sentia as pernas" 
"Quando me deito, quando me levanto, quando tomo banho, quando caminho, o tempo todo sinto dor", relata à AFP Jeniré Mena, de 40 anos, uma figurinista venezuelana que ficou presa por cinco horas nos escombros da Jet Set.

"Estou com a medula espinhal inflamada, uma fratura na escápula, lesão em um joelho, em uma mão, múltiplas lacerações, pontos na cabeça... e posso continuar", enumera. "Não sentia as pernas (...), comecei a mexer as pernas no terceiro dia", acrescenta sobre sua hospitalização.

Ela havia ido à boate para celebrar seu aniversário. Mãe solo e já de alta, Jeniré sabe que passará por uma reabilitação lenta, com três sessões de fisioterapia por semana, embora espere poder voltar ao seu trabalho no cinema, teatro e televisão.

"Se eu não trabalho (...), o que acontece?", questiona-se. "Graças a Deus, meus amigos e familiares me ajudaram, mas sabemos que isso não é algo que vai perdurar no tempo. Preciso começar a trabalhar", afirma em sua casa, onde se desloca com um andador.

"Não posso caminhar muito, canso, sinto muita dor, mas vou melhorando a cada dia", consola-se.

Tem pesadelos, por exemplo, com o teto de sua casa caindo em cima de seu filho.

Diz que planeja juntar-se aos processos. "Sem dúvida alguma (...). Não posso fazer nada e meu trabalho depende de minhas pernas e de minhas mãos", alega, mas também se agarra à esperança: "Tenho que demonstrar todo dia ao meu filho que é possível".

"Não consigo dormir" 
No caso da obstetra Carmen Guante, de 62 anos, as sequelas não são físicas, mas emocionais.

"Não consigo dormir, porque ouço vozes quando tento dormir", conta à AFP. "Morreram amigas minhas próximas" na tragédia, acrescenta.

Carmen relata que viu um pedaço do teto cair e que, embora não imaginasse que toda a estrutura colapsaria, decidiu sair. Isso, acredita ela, salvou sua vida.

"Quando tomei a decisão e peguei minha bolsa (...), o estrondo me empurrou. Foi tão rápido que me empurrou para trás", diz. "Uma amiga minha que veio de Nova York e os demais tinham morrido. (...) Eu apenas tenho contusões” na cabeça, mas descartaram sequelas com uma ressonância.

Seu desafio é recuperar sua saúde mental. "Estou em tratamento (...). Me deram um medicamento para relaxar" e "vou a cada 15 dias" receber atendimento psicológico, continua.

"Eu me deitava cedo, agora tento ficar acordada o mais tarde possível (para forçar o sono) e quando tomo meu remédio, ouço como se alguém me chamasse; não sei se é pela mesma ansiedade que tenho ao não conseguir dormir", lamenta.

Sua família é seu apoio: "Dizem para mim que renasci".

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