Educação climática: a importância de tratar o aquecimento global com as crianças e adolescentes
Um estudo de 2022 da UNICEF alertou que as crianças e adolescentes são os mais expostos às mudanças climáticas; veja ações desenvolvidas no estado
A importância da educação climática para crianças e adolescentes não é mais um tópico do futuro. Principais afetados pelo aquecimento global, os mais jovens precisam ser alertados sobre as consequências das mudanças climáticas desde a escola.
A Folha de Pernambuco reuniu ações práticas desenvolvidas por instituições que buscam trabalhar na conscientização de como o modo de vida e de consumo causam danos reais na vida de todos.
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O que é educação climática?
A educação climática tem como objetivo levar compreensão dos impactos e das causas do aquecimento global e, consequentemente, das mudanças climáticas na vida, especialmente para os mais jovens.
De acordo com a professora do departamento de Ensino e Currículo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Catarina Gonçalves, o conceito de educação climática é recente.
"A ideia de educação ambiental é um conceito mais amplo, mas quando a gente está falando de educação climática é um conceito criado exatamente para dar mais ênfase a essa dimensão do clima e das alterações que provocam no clima, a partir da nossa relação com o ambiente, que trazem consequências muito grandes para a vida da sociedade”.
Um estudo de 2022 da UNICEF alertou que as crianças e adolescentes são os mais expostos às mudanças climáticas. A pesquisa indica que, até 2050, todas as crianças e adolescentes do mundo sofrerão com ondas de calor.
Ciente desses problemas, Catarina acredita que é necessária a difusão de projetos educacionais que ajudem esses jovens a constatar os impactos das alterações climáticas pelos efeitos dos nossos modos de vida.
"Precisa estar na escola na perspectiva da conscientização para que possamos repensar as nossas relações com o ambiente e os fatos que as nossas relações com o ambiente desempenham nas questões climáticas", analisou Catarina Gonçalves.
Ações em escolas
Escolas na capital pernambucana, sejam públicas ou privadas, buscam incluir ações de educação climática na rotina escolar.
A Escola Municipal de Tempo Integral Reitor João Alfredo, na Ilha do Leite, área central da cidade, desenvolve disciplinas eletivas sobre o tema.
Um dos projetos foi sobre os impactos das chuvas no Recife. Coordenador dessas ações, o professor de geografia, Pedro Cavalcanti, relaciona a importância de associar esses estudos com as vivências dos alunos.
"A escola está inserida num ambiente de muito alagamento. Então, os alunos vivenciam isso no dia a dia com aulas que são canceladas, porque não conseguem chegar aqui", expôs o docente, acrescentando que os próprios alunos também ajudam na construção do conhecimento.
"Sentimos esse grande engajamento deles e também aprendemos bastante porque, na verdade, eles são os principais impactados por esses problemas", completou o professor.
A aluna do 9º ano da escola, Livia Fernandes, deu exemplo de um curta-metragem feito sobre mangues como atividade de uma dessas eletivas no ano passado, que ajudou os alunos a observarem como o lixo descartado na rua influencia nestes problemas.
Livia Fernandes deu exemplo de curta-metragem sobre mangues feito"Na maioria das vezes sempre tem uma eletiva que fala sobre essa situação climática e o que pode causar. A gente acaba sempre tendo uma conversa, um debate para ver o que podemos fazer para conscientizar as pessoas", afirmou.
A secretária executiva de Gestão Pedagógica do Recife, Ana Selva, analisa que as mudanças climáticas são uma preocupação perene no Recife e o tema faz parte do cotidiano das unidades de ensino.
"O processo de cuidar desta temática vem ao longo de todos os anos e de todos os momentos. Faz parte da política de ensino da rede, para todas as etapas de ensino”.
Localizado no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, o Colégio Damas promove o projeto EcoDamas, baseado no tripé da sustentabilidade: cuidado ambiental, preservação e responsabilidade social.
Além de ações pontuais com impacto ambiental como produção de horta e conscientização sobre as formas corretas de descarte, o colégio busca trazer uma visão ampliada sobre os impactos das mudanças climáticas.
Coordenadora de projetos pedagógicos do Damas, Ana Patrícia Cavalcanti, exemplifica estudos que são feitos sobre a cidade do Recife, levando para as crianças os núcleos que são verdadeiras ilhas de calor.
"Trazemos a reflexão para o aluno na medida em que ele está vivenciando alguns projetos. Cada série tem seu projeto pedagógico. De acordo com aquele projeto pedagógico, a gente vê que perspectiva de formação cidadã e sustentável vamos poder abordar com aquele grupo", dissertou a coordenadora.
Outros exemplos
A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) é uma das principais instituições no estado relacionadas com o estudo das mudanças climáticas.
O trabalho de comunicação com a sociedade é fundamental para a Apac. Desse modo, a agência também participa de processos educativos sobre mudanças climáticas e aquecimento global.
Segundo a presidente da Apac, Suzana Montenegro, a instituição conta com o projeto "Apac nas escolas" em que especialistas visitam as unidades de ensino para abordar como os padrões de consumo afetam as emissões.
"A gente procura discutir com as crianças, fazendo elas entenderem que todos nós temos uma responsabilidade, não é só ação de governo, porque tudo que consumimos e que fazemos aqui, de certa forma, estamos contribuindo para esse padrão de emissões".
Ações da Apac com crianças. Foto: Éricka Melo/ Divulgação.A Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha (Semas-PE) também desenvolve ações de sensibilização sobre mudanças climáticas às crianças, como oficinas, palestras e jogos educativos.
Um exemplo desses projetos é a peça teatral "A Grande Viagem de Nati Natureza", que se apresenta de forma itinerante em equipamentos públicos, como o Parque Estadual Dois Irmãos, para, de forma descontraída, abordar como enfrentar as mudanças climáticas.
Ação de educação climática da Semas com crianças. Foto: Tarciso Augusto/SEMASOrganizações da sociedade civil compõem o grupo de atores envolvidos na educação climática. A ONG Massapê atua em diversas áreas e uma delas é de pedagogia urbana.
A ideia é levantar informações junto aos moradores de determinada localidade, para entender e desenvolver estratégias de mobilização.
Atualmente, dois projetos estão em destaque no trabalho de conscientização com adolescentes: EcoCoque e Rota.Ibura.
Isabela Neves, diretora de projetos da Massapê, considera que a colaboração entre os participantes do projeto, que também são moradores da área, favorece o desenvolvimento de práticas eficazes.
“Quando a gente constrói dados junto com as pessoas do território, temos a possibilidade de entender quais iniciativas locais existem e o que as pessoas estão fazendo para para atuar e se adaptar às mudanças climáticas”, explicou.
Educação climática e consumo
A professora Catarina Gonçalves reflete que uma educação climática eficiente precisa passar por uma abordagem interdisciplinar, que esteja relacionada com questões de formas de consumir.
“Eu penso que não tem como desarticular a discussão da educação climática para a discussão da educação para o consumo. É um caminho necessário para a gente reduzir o consumo. "Entender que é possível consumir e estar neste mundo de uma maneira ativa, mas mitigando os impactos que a gente promove no ambiente”, concluiu.

