Sex, 05 de Dezembro

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PAPA FRANCISCO

Entenda a relação especial de Francisco com ícone da basílica onde pediu para ser sepultado

Jesuíta expressou vontade de ter um sepulcro simples, sem ornamentos especiais, diante de imagem que teria sido pintada por São Lucas Evangelista

Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora Salus Populi Romani Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora Salus Populi Romani  - Foto: Vatican Media

Em seu testamento, o Papa Francisco determinou como gostaria de ser sepultado: com a mesma simplicidade que marcou o seu pontificado. O chefe da Igreja Católica, morto aos 88 anos nesta segunda-feira, pediu que seus restos mortais fossem colocados num sepulcro simples, sem ornamentos especiais, na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma.

Francisco pediu que o túmulo ficasse no corredor ao lado da Capela Paulina, onde há um importante ícone mariano, a Salus Populi Romani. Diz a tradição que a imagem foi pintada por São Lucas Evangelista, padroeiro dos pintores, numa representação de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços.

 

Ligada à própria identidade de Roma, a imagem tem especial relação com Francisco e outros Papas. Relatos apontam que a Salus Populi Romani foi levada em procissão pelas ruas de Roma durante três dias. Teria sido diante dela que o Papa Gregório I (590-604) rezou pelo fim da peste. Além disso, outros Pontífices — Clemente VIII (1592-1605) a Gregório XVI (1831-1846) e Pio XII (1939-1958) — ofertaram coroas e joias ao ícone. O Papa Paulo V (1605-1621) determinou a construção da basílica para que a imagem tivesse um suntuoso lar, a Capela Paulina.

Já o Papa Francisco afirmou ter marcado o início e o fim de suas viagens apostólicas com pedidos de proteção à Salus Populi Romani. Tratava-se, aliás, do respeito do argentino a uma tradução jesuíta. Desde a fundação da Companhia de Jesus, religiosos da ordem de Francisco eram especialmente devotos ao ícone mariano.

O que estará escrito na lápide do Papa Francisco?
No testamento, o Papa Francisco definiu exatamente como desejava ser enterrado. Ele pediu que, em seu túmulo, houvesse apenas uma inscrição: "Franciscus", seu nome sacerdotal em latim.

Entre as determinações do Pontífice, que morreu na madrugada desta segunda-feira, dia 21 de abril, aos 88 anos, está, ainda, que os custos de seu sepultamento serão cobertos por um benfeitor — e não pelo Vaticano, como tradicionalmente é feito.

Francisco ordenou que fosse usado apenas um caixão, feito de madeira e zinco. E indicou que um benfeitor arcaria com os custos do sepultamento. O benfeitor é um doador anônimo, alguém que ofertou uma quantia destinada pelo Papa à sua sepultura.

Embora não se saiba se esta é a primeira vez que um Papa ordena que o Vaticano se abstenha dos custos do enterro, a decisão é rara, sem precedentes recentes, e indica que Francisco preferiu que as despesas não recaíssem sobre a Santa Sé.

Francisco não quis ser sepultado na Basílica de São Pedro e nem nas grutas sob o Vaticano — onde a maioria de seus antecessores foi enterrada —, mas em uma Basílica localizada do outro lado da cidade de Roma.

Relação com a Basílica de Santa Maria Maggiore
Ele sempre demonstrou afeto pelo local, dedicado a Maria, por onde passava para orar sempre após internações, antes de ir e ao retornar de viagens. Sua última passagem por lá foi feita após a sua internação no hospital Gemelli, em 23 de março.

Apenas outros cinco Papas tiveram seus restos mortais enterrados no local: Clemente VIII, Clemente IX, Paulo V, Sixto V, Pio V, Nicolau IV e Honório III. A Basílica de São Pedro, por sua vez, abriga quase 100 Pontífices, incluindo o Papa Bento XVI, antecessor de Francisco, que renunciou em 2013 e morreu em 2022. Assim como os Papas anteriores, Bento XVI foi sepultado em três caixões: um de cipreste, um de zinco e um de olmo, encaixados uns dentro dos outros.

Leia o testamento de Francisco na íntegra:

“Em nome da Santíssima Trindade. Amém.

Sentindo que se aproxima o ocaso da minha vida terrena e com viva esperança na Vida Eterna, desejo expressar minha vontade testamentária unicamente no que diz respeito ao local da minha sepultura.

Minha vida e o ministério sacerdotal e episcopal confiei sempre à Mãe do Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que meus restos mortais repousem, na espera do dia da ressurreição, na Basílica Papal de Santa Maria Maior.

Desejo que minha última viagem terrena se conclua justamente neste antiquíssimo santuário mariano, onde eu ia rezar no início e no fim de cada Viagem Apostólica, para confiar com fé minhas intenções à Mãe Imaculada e agradecer-Lhe pelo cuidado dócil e materno.

Peço que minha tumba seja preparada no lóculo da nave lateral entre a Capela Paulina (Capela da Salus Populi Romani) e a Capela Sforza, da mencionada Basílica Papal, conforme indicado em anexo.

O sepulcro deve ser na terra; simples, sem ornamentos especiais, e com a única inscrição: Franciscus.

As despesas com a preparação da minha sepultura serão cobertas com a quantia do benfeitor que determinei transferir para a Basílica Papal de Santa Maria Maior e da qual providenciei instruções apropriadas a Dom Rolandas Makrickas, Comissário Extraordinário do Capítulo Liberiano.

Que o Senhor conceda a devida recompensa àqueles que me quiseram bem e que continuarão a rezar por mim.

Ofereço ao Senhor o sofrimento que se fez presente na última parte da minha vida, pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.”

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