EUA e Israel discutem plano de envio de palestinos para países africanos após guerra em Gaza
Segundo fontes ouvidas pela Associated Press, proposta teria sido apresentada ao Sudão, Somália e ao território autodeclarado independente de Somalilândia, mas foram negadas ou não confirmadas
Os Estados Unidos e Israel entraram em contato com três governos africanos para discutir um possível plano de reassentamento de palestinos deslocados da Faixa de Gaza após o fim da guerra sob um plano proposto pelo presidente americano, Donald Trump, disseram fontes anônimas à agência Associated Press.
A ideia de um reassentamento palestino, que enfrenta forte oposição internacional, prevê que o enclave seja transformado em um projeto imobiliário, ou uma "riviera", administrado pelos EUA, enquanto seus mais de 2 milhões de habitantes seriam realocados para outros lugares.
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Segundo a reportagem, foram abordados os governos do Sudão, Somália e Somalilândia (território autodeclarado independente da Somália).
O Sudão confirmou à agência americana que rejeitou tal proposta, enquanto os governos da Somália e de Somalilândia afirmaram não ter sido abordados por Washington.
O presidente americano propõe que os EUA deveriam assumir o controle de Gaza e realocar permanentemente toda a população palestina do enclave.
Ele sugere que o reassentamento deveria ser similar aos projetos imobiliários que marcaram sua carreira antes da política, com a construção de "lugares realmente bons" para os civis.
— Todo mundo com quem conversei amou a ideia de os EUA ocuparem aquele pedaço de terra — disse Trump em uma de suas primeiras declarações sobre o assunto, afirmando que a iniciativa "desenvolveria e criaria milhares de empregos com algo que seria incrível".
O plano de reassentamento foi duramente criticado por países árabes e grupos de direitos humanos, que alertam para a possibilidade de crimes de guerra caso os palestinos sejam forçados ou pressionados a sair de sua terra natal.
O grupo terrorista Hamas, que controla Gaza desde 2007, também já rejeitou a proposta publicamente e a classificou de "racista".
"A posição racista americana está alinhada com a da extrema direita israelense e consiste em deslocar o nosso povo e erradicar a nossa causa", afirmou em um comunicado o porta-voz Abdel Latif al-Qanu.
Previamente, o alto funcionário do grupo Sami Abu Zuhri condenou as falas de Trump, afirmando que significaria a "expulsão [dos palestinos] de suas terras": "É uma receita para gerar caos e tensão na região, porque o povo de Gaza não permitirá que tais planos sejam aprovados".
Mesmo diante das críticas, autoridades dos EUA e de Israel continuam a explorar maneiras — financeiras, diplomáticas e de segurança — para convencer esses outros governos a aceitarem uma proposta nesse sentido.
Esse modelo, cita a reportagem, segue a lógica dos Acordos de Abraão, nos quais Trump, em seu primeiro mandato na Casa Branca, negociou a normalização de relações entre Israel e quatro países árabes em troca de benefícios econômicos e políticos.
No caso do Sudão, que já participou dos Acordos de Abraão, os EUA ofereceram incentivos como alívio da dívida e assistência militar contra grupos paramilitares, mas a proposta foi prontamente rejeitada.
Segundo a reportagem, uma das fontes familiarizadas com o assunto afirmou que os contatos com o governo começaram antes mesmo da posse de Trump, com ofertas de assistência militar contra o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), ajuda na reconstrução pós-guerra civil e outros incentivos.
No entanto, o general Abdel-Fattah Burhan declarou publicamente que o Sudão não aceitará a transferência de palestinos "sob nenhuma circunstância".
Crime contra a Humanidade
Desde o início da ofensiva militar de Israel em Gaza, em outubro de 2023, dois grandes fluxos de deslocamentos forçados ocorreram em direção ao sul do enclave. Inicialmente, as operações do Exército israelense se concentraram na metade norte do território, e autoridades ordenaram que os moradores se deslocassem para o sul.
Mas após o término do primeiro cessar-fogo entre o Hamas e Israel em 1º de dezembro do mesmo ano, a ofensiva terrestre israelense se estendeu para essa metade sul, forçando dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais já haviam fugido nas primeiras semanas, a escaparem para regiões próximas, como o Egito.
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Estima-se que 1,8 milhão de pessoas em Gaza, aproximadamente 85% da população total, estejam deslocadas internamente, o que representa o maior deslocamento de população palestina desde o êxodo maciço causado pelo estabelecimento do Estado de Israel em 1948, de acordo com a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA).
A expulsão de uma população de seu território é proibida pelas Convenções de Genebra, que constituem o núcleo do Direito Internacional Humanitário, e os estatutos do Tribunal Penal Internacional (TPI) designam a "deportação ou transferência forçada de uma população" como um crime contra a Humanidade.

