Formação de professores discute protagonismo indígena e afro-brasileiro na história do Brasil
Nova edição do Projeto "Era uma vez BRASIL" promove capacitação no Recife e em Belo Jardim e prepara estudantes da rede pública para intercâmbio em Portugal, fortalecendo vínculos entre passado e presente nas duas margens do Atlântico
Buscando valorizar as raízes das histórias indígenas e afro-brasileiras, a partir de 23 de abril, o Projeto Cultural “Era uma vez… BRASIL” realiza mais uma edição em 2025, reafirmando seu compromisso com uma educação que valoriza a diversidade e reconta a história do país sob novas lentes.
Entre os meses de março e junho, o projeto promove uma etapa especial de formação continuada para professores de História do 8º ano da rede pública, reunindo 70 educadores — sendo 48 no Recife e 22 no município de Belo Jardim, no Agreste de Pernambuco. A ação tem como foco o tema “Quem conta a nossa história – A participação indígena e afro-brasileira na formação do Brasil”, convidando os docentes a refletirem sobre o papel dessas populações na construção da nossa nação, para além da lógica colonial que por muito tempo foi hegemônica no ensino da História.
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Para os professores do Recife, a capacitação acontece na Escola de Formação de Educadores do Recife Professor Paulo Freire, na Madalena, nos dias 23 e 30 de abril, 21 de maio e 4 de junho. Já em Belo Jardim, os encontros serão realizados no Instituto Conceição Moura, nos dias 24 e 29 de abril e 8 de maio, reunindo educadores em uma jornada de troca, escuta e ressignificação de saberes históricos.
Mais do que um curso, trata-se de uma vivência. Uma jornada pedagógica que parte de uma abordagem transdisciplinar e sensível ao contexto histórico e social dos sujeitos — professores, estudantes, comunidades.
A proposta é analisar as formas de resistência, existência, criação e transformação dos povos indígenas e afro-brasileiros, valorizando seus saberes, tecnologias, espiritualidades, expressões artísticas e modos de vida. O projeto busca, assim, ampliar a percepção dos professores e alunos sobre a importância dessas culturas para o Brasil que somos hoje, reconhecendo sua influência direta na arte, na ciência, na política, na economia e nos valores que nos constituem.
Para Marici Villa, diretora executiva do projeto, a formação de professores é um dos pilares mais relevantes da iniciativa. “A formação contínua dos professores é fundamental para resgatar a pluralidade de nossa história. Esta capacitação representa uma oportunidade ímpar para ampliar o olhar sobre as contribuições indígenas e afro-brasileiras na construção do Brasil, preparando nossos educadores para transformar o ensino e promover uma cultura de respeito e valorização das diversidades.”
O “Era uma vez… BRASIL” é um projeto de arte-educação voltado para estudantes e professores do 8º ano do ensino fundamental da rede pública, com o objetivo de colaborar com o conhecimento e a difusão da cultura nacional, promovendo a aprendizagem por meio do contato com diferentes linguagens artístico-culturais, intercâmbios e vivências em territórios quilombolas e indígenas. A cada ano, o projeto escolhe um recorte temático que provoca novas reflexões sobre a história do Brasil e sua diversidade.
ETAPAS
O percurso pedagógico é dividido em quatro grandes etapas que se interligam e culminam em transformações individuais e coletivas. Na primeira etapa, chamada Fatos Históricos, os professores participam de seis encontros presenciais de formação, onde são apresentados a novas metodologias, narrativas contra-hegemônicas e experiências de ensino inovadoras.
Ao longo do processo, os educadores trabalham o conteúdo com suas turmas, e os estudantes são convidados a produzir histórias em quadrinhos autorais, desenvolvendo suas interpretações sobre os temas abordados e exercitando a criatividade, a leitura crítica e o protagonismo.
Na segunda fase, o projeto realiza o Campus de Arte-Educação, uma imersão cultural que acontece durante o recesso escolar. Até 100 estudantes da rede pública de cada cidade participam de uma intensa programação como oficinas de Interpretação, Roteiro, Fotografia e Som, além de experiências sensoriais e simbólicas em territórios indígenas e quilombolas. É nesse espaço de convivência e troca que os jovens passam a perceber suas próprias histórias como parte de um processo maior — coletivo, diverso e potente.
A terceira etapa é o Intercâmbio Cultural, que leva um grupo de estudantes selecionados para uma vivência de 10 dias em Portugal, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre os laços históricos entre os dois países e promover a troca com estudantes portugueses. Nessa viagem, os jovens brasileiros apresentam os produtos culturais desenvolvidos durante o ano, visitam locais emblemáticos da história colonial e participam de rodas de conversa, oficinas e visitas pedagógicas.
Por fim, o projeto chega à etapa Comunidade, em que os participantes retornam aos seus territórios e são estimulados a pensar ações concretas que impactem positivamente suas realidades locais, com base no aprendizado e nas experiências vividas ao longo do projeto. Essa última fase reforça o compromisso com a transformação social, incentivando os estudantes a se tornarem multiplicadores de conhecimento, consciência e cidadania.
“Com uma metodologia humanizada, crítica e afetiva, o “Era uma vez… BRASIL” vai muito além da sala de aula: ele se propõe a reconstruir memórias, fomentar pertencimento e formar agentes de mudança capazes de reimaginar o país que queremos ser. Ao valorizar a história de quem sempre esteve presente, mas raramente foi escutado, o projeto reconta o Brasil a partir de um lugar de justiça, reconhecimento e esperança”, finaliza Marici Vila.
Sobre o projeto
O “Era Uma Vez… Brasil”, criado em 2016 pela Origem Produções, é patrocinado, pelo nono ano, em Belo Jardim, pelo Grupo Moura, através do Instituto Conceição Moura, e conta com o apoio da Secretaria Municipal de Educação e do Ministério da Cultura, via Lei Rouanet. No Recife tem o apoio da Prefeitura da cidade.

