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AMÉRICA DO SUL

Greve geral contra Milei tem adesão parcial na Argentina

Paralisação é a terceira que o governo enfrenta

Vista aérea da Avenida 9 de Julio durante greve de 24 horas, exceto ônibus, convocada pelos sindicatos de trabalhadores contra as políticas econômicas do presidente Javier Milei, em Buenos Aires, em 10 de abril de 2025Vista aérea da Avenida 9 de Julio durante greve de 24 horas, exceto ônibus, convocada pelos sindicatos de trabalhadores contra as políticas econômicas do presidente Javier Milei, em Buenos Aires, em 10 de abril de 2025 - Foto: Juan Mabromata/AFP

O governo do presidente Javier Milei enfrenta uma batalha contra os sindicatos argentinos, com mais uma greve geral convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) nesta quinta-feira, enquanto seu governo aguarda um crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI) para sustentar seu plano econômico.

A paralisação é a terceira desde que o líder ultraliberal assumiu a Casa Rosada em dezembro de 2023 e marca uma deterioração no clima social após dezenas de milhares de demissões e 15 meses consecutivos de queda no consumo. Sua adesão, porém, foi parcial.

Bancos, escolas públicas e privadas, hospitais e todas as repartições públicas amanheceram fechados. Mais de 250 voos nacionais e internacionais também foram cancelados, devido à adesão do pessoas de terra nos aeroportos. Mas muitas empresas abriram suas portas e trabalhadores autônomos saíram de suas casas para ganhar o dinheiro do dia.

Sem trens ou metrôs operando, a paralisação está sendo fortemente sentida nas ruas, onde longas filas para pegar ônibus se formaram logo pela manhã e carros e motos particulares encheram as avenidas. Ao contrário das greves de janeiro e maio do ano passado, o principal sindicato dos motoristas de ônibus não aderiu à medida, pois foi obrigado a trabalhar devido a uma conciliação obrigatória emitida pelo Ministério do Trabalho em uma ameaça de greve anterior.

— Este será o terceiro ônibus que pegamos hoje, e todos para chegar [ao bairro] La Boca — disseram a faxineira Natalia Aranda e o pedreiro Juan Molinari ao jornal argentino La Nación. — Entendemos que há coisas erradas no país, mas não temos dinheiro suficiente para sustentar isso. Não podemos parar. Hoje já gastamos mais do que havíamos planejado. O café da manhã será um sanduíche compartilhado no ônibus, para que tenhamos dinheiro para o almoço.

Uma mulher de cabelos curtos e jaqueta preta levantou a voz enquanto atravessava a fila no ponto de ônibus:

— Essas pessoas são preguiçosas! É sempre a mesma coisa! Eu tenho que ir trabalhar, quem me paga o dia se eu não chegar? Ninguém! — declarou ao La Nación. — Eu nunca paro, sabe? Eu trabalho na limpeza de uma casa a partir das cinco da manhã. Levanto às três horas todos os dias, e agora? Por que tenho que ficar aqui na chuva esperando um ônibus que nem sei se vai passar? Aqui há pessoas que não têm alternativa. Se não trabalharem, não comem. E eles, os que fazem greve, vão para casa tranquilamente. Ninguém pensa em nós que não temos um salário fixo ou um sindicato.

A ação sindical de 36 horas começou na quarta-feira com uma manifestação em frente ao Congresso para acompanhar a marcha semanal dos aposentados, os mais atingidos pelos cortes de Milei, e continuou com a greve que durará até a meia-noite de sexta-feira.

— A greve é maciça, todos os escritórios estão fechados — disse Rodolfo Aguiar, secretário geral da Associação dos Trabalhadores do Estado, à estação de rádio La Red. — É a medida de força mais consensual em rejeição às políticas do governo nacional.

A estatal Aerolíneas Argentinas, a principal companhia aérea do país, informou que 20 mil passageiros foram afetados pelo cancelamento de 258 voos, 17 deles para rotas internacionais, o que representa um custo estimado de US$ 3 milhões para a empresa.

— Essa greve foi na quarta-feira, mas esse presidente deveria sair imediatamente, a verdade é que é uma vergonha — disse à AFP Gustavo Cortez, de 48 anos, que teve que viajar duas horas de ônibus para chegar ao trabalho.

Na quarta-feira, a Casa Rosada minimizou a greve, que descreveu como “política” e que acredita que “exporá a casta”, o termo usado por Milei para rotular aqueles que se opõem às suas políticas. O chefe de Gabinete, Guillermo Francos, fez uma ameaça velada aos sindicatos ao antecipar uma reforma da lei trabalhista para tornar o mercado de trabalho mais flexível:

— Temos certeza de que as pequenas reformas trabalhistas que fizemos ainda não são suficientes para resolver as dificuldades geradas pela lei de contratos de trabalho na Argentina — afirmou.

A greve deixa o governo na expectativa depois que o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou na terça-feira que o acordo técnico com a Argentina, no valor de US$ 20 bilhões (R$ 121 bilhões), está pronto para ser examinado pela diretoria do organismo multilateral “nos próximos dias”.

Por meio da contenção dos gastos públicos, o presidente reduziu a inflação de 211% em 2023 para 118% no ano passado, o que contribuiu para que a pobreza voltasse aos níveis de 2023 (38%), depois de tê-la levado a 52,9% na primeira metade de seu governo.

 

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