Israel bombardeia Damasco e o sul da Síria, no quarto dia de confrontos em Sweida
Israel ameaçou intensificar seus ataques contra as forças governamentais, se elas não se retirassem de Sweida, onde mais de 300 pessoas morreram nos últimos dias
Israel bombardeou nesta quarta-feira (16) o quartel-general do Exército sírio em Damasco, após ameaçar intensificar seus ataques contra as forças governamentais, se elas não se retirassem de Sweida, cidade de maioria drusa no sul da Síria, onde mais de 300 pessoas morreram nos últimos dias.
O Exército israelense, por sua vez, diz que seus ataques tem como objetivo proteger a minoria religiosa drusa dos confrontos com combatentes de tribos beduínas.
Os confrontos começaram no último domingo entre combatentes drusos e tribos beduínas sunitas, após o sequestro de um comerciante de verduras druso, que desencadeou uma série de sequestros em retaliação, segundo a versão do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
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O OSDH, testemunhas e grupos drusos acusaram as forças públicas de inúmeros abusos, como execuções sumárias de civis e saques.
Segundo a ONG, mais de 300 pessoas morreram desde o início da violência. A maioria são combatentes de ambos os lados, bem como 28 civis drusos, dos quais 21 foram executados sumariamente pelas forças governamentais.
Na última segunda, as forças do governo sírio anunciaram sua intervenção para conter a violência e foram enviadas na terça-feira à cidade de Sweida, até então nas mãos de combatentes drusos.
A Presidência da Síria prometeu investigar os incidentes e “punir todos aqueles” que cometerem crimes contra os residentes de Sweida.
Israel, que ocupa e anexou a maior parte dos Montes Golã sírios – onde vive uma importante população drusa –, reiterou nos últimos dias que não permitirá qualquer presença militar no sul da Síria, perto de sua fronteira comum.
O Exército israelense ameaçou intensificar os bombardeios que vem realizando desde segunda-feira se as forças sírias não se retirarem da região.
O ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que “Israel não abandonará os drusos na Síria e aplicará a política de desmilitarização” no sul do país anunciada após a queda do ex-presidente sírio Bashar al Assad em dezembro.
O Exército israelense cumpriu sua ameaça e anunciou nesta quarta-feira que havia bombardeado a entrada do quartel-general do exército sírio em Damasco. A televisão estatal síria informou que duas pessoas ficaram feridas no centro da capital, sem precisar o local exato.
Já o Ministério da Saúde da Síria disse que os bombardeios israelenses deixaram pelo menos um morto e 18 feridos. Os ataques destruíram uma ala do edifício, de quatro andares e anexo ao Ministério da Defesa, segundo correspondentes da AFP.
A União Europeia pediu respeito pela soberania da Síria e instou “todas as partes” a proteger os civis, e a França pediu o fim dos “abusos contra civis” em Sweida.
'Salve Sweida'
Os drusos são uma minoria proeminente no Oriente Médio, cuja religião deriva do islamismo xiita. Estão presentes no Líbano, no sul da Síria e nos Golãs sírios ocupados por Israel.
Essa violência ilustra os desafios enfrentados pelo governo interino de Ahmed al Sharaa desde que ele e uma coalizão de grupos rebeldes sunitas derrubaram o presidente Bashar al Assad em dezembro, em um país marcado por quase 14 anos de guerra civil.
Em Sweida, onde as autoridades declararam na terça-feira um cessar-fogo que não foi respeitado, dois correspondentes da AFP ouviram tiros intermitentes na quarta-feira e um deles viu fumaça saindo de vários bairros.
— Estou no centro da cidade de Sweida, ao lado do prédio do governo (...) Não pretendo sair e, de qualquer forma, não há como escapar — disse um morador à AFP por telefone.
— Se eles chegarem aqui, estou morto. Há execuções sumárias nas ruas — acrescentou o homem, que não revelou sua identidade.
Na manhã de quarta-feira, um dos correspondentes da AFP viu cerca de trinta cadáveres estendidos no chão, alguns de membros das forças governamentais e outros de combatentes vestidos à civil, sem poder identificá-los. Outro viu as forças governamentais disparando projéteis de uma de suas posições.
O portal de notícias local Suwayda 24 informou sobre “intensos bombardeios de artilharia e morteiros” na cidade e arredores desde o amanhecer.
O Ministério da Defesa sírio afirmou que “grupos fora da lei retomaram os ataques contra o exército e as forças de segurança interna na cidade”, após a declaração do cessar-fogo, e pediu aos residentes que permanecessem em suas casas.
Na quarta-feira, um dos líderes religiosos drusos mais influentes, Hikmat al Hejri, fez um apelo ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “e a todos aqueles que têm influência no mundo”.
— Salve Sweida — disse ele. — Nosso povo está sendo exterminado e assassinado a sangue frio.
Os principais líderes religiosos drusos têm posições divergentes, e Hejri se distanciou na terça-feira, pedindo aos combatentes da minoria que não depusessem as armas.

