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RIO DE JANEIRO

Médico condenado por emitir falsos laudos para justificar cultivo de maconha é preso no Rio

Na prática, os documentos falsificados eram utilizados para mascarar atividades ilegais e obter vantagens financeiras indevidas

Polícia Civil do Rio de JaneiroPolícia Civil do Rio de Janeiro - Foto: Polícia Civil do Rio de Janeiro/Divulgação

A Polícia Civil do Rio, por meio da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), cumpriu, na manhã dessa quinta-feira (23), um mandado de prisão contra um médico condenado por envolvimento em um esquema de falsificação de laudos médicos voltados à liberação irregular do cultivo de maconha.

A prisão foi possível após levantamentos de dados do setor de inteligência da DRF, que identificou o paradeiro do condenado e realizou a captura.

O médico, que já havia sido preso preventivamente à época dos fatos, em 2023, era peça central de uma rede criminosa que utilizava a medicina como fachada para sustentar práticas ilícitas e contornar controles legais e sanitários.

O esquema consistia na emissão de laudos falsos, com diagnósticos simulados de doenças graves, a fim de justificar judicialmente o plantio doméstico de grandes quantidades de maconha, supostamente para “uso medicinal”. Na prática, os documentos falsificados eram utilizados para mascarar atividades ilegais e obter vantagens financeiras indevidas.

Durante a investigação, afirma a Polícia Civil, ficou comprovado também que o médico praticava o crime de extorsão, ligando para pacientes e familiares beneficiados por habeas corpus obtidos por meio dos laudos falsos, exigindo pagamentos e valores sob ameaças veladas, utilizando-se de sua posição e do medo de perda das autorizações judiciais para intimidar as vítimas.

As investigações à época revelaram extensa rede de manipulação documental e conivência profissional, com dezenas de pacientes falsamente diagnosticados e autorizações judiciais obtidas por meios fraudulentos.

A primeira prisão
O médico foi preso pela primeira vez no dia 11 de julho de 2023 durante a Operação Seeds, realizada pela 14ª DP, no Leblon. Com ele, foram detidos sua esposa, responsável pela parte financeira da quadrilha, um advogado criminalista e um biólogo.

Segundo a investigação da polícia, eles ofereciam um pacote para a plantação de skunk, droga mais potente que a maconha tradicional. Entre os serviços oferecidos pelo grupo, estavam a emissão de laudo e entrada com habeas corpus, além da estrutura para plantar as mudas. Para isso, eram cobrados de R$ 3 mil a R$ 50 mil dos compradores.

Pela Lei Antidrogas, é proibido plantar maconha em casa, mas se pode conseguir judicialmente autorização para produção e consumo de cannabis para fins terapêuticos. Nenhum dos casos investigados se relacionava a enfermidades que indicassem o uso.

Locais de trabalho do médico
Ele trabalhou em sete hospitais públicos e Unidade de Pronto Atendimento (UPAs) no Rio. Entre as unidades, destacam-se a Maternidade Fernando Magalhães, da rede municipal, onde ele atuou por cerca de seis anos, e o Hospital da Mulher Heloneida Studart, estadual, onde foi intensivista de 2019 a 2022, última rede pública do seu histórico profissional.

Ao todo, o médico trabalhou em quatro unidades municipais (UPAs do Complexo do Alemão, de Manguinhos e da Ilha do Governador, além do Fernando Magalhães), duas estaduais (Heloneida Studart e Adão Pereira Nunes) e uma federal (Cardoso Fontes).

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o último trabalho do médico em uma rede municipal de saúde foi em novembro de 2021. O contrato era por tempo determinado. Já a Secretaria Estadual de Saúde ainda não se pronunciou sobre o histórico do médico com as unidades estaduais.

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