Sáb, 06 de Dezembro

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Paternidade

Dia dos Pais: pais solo relatam histórias de conexão com os filhos e os desafios

Minoria nas estatísticas, os homens que criam seus filhos de forma monoparental reforçam a importância da paternidade ativa

Thiago Camargo é pai solo de quatro crianças Thiago Camargo é pai solo de quatro crianças  - Foto: Cortesia

Este domingo (10) marca o Dia dos Pais no calendário de 2025. Nos últimos anos, os debates sobre o homem assumir e exercer a paternidade ativa estão em alta.

Ainda minoria na realidade brasileira, o grupo dos pais solo simboliza os indivíduos que não abandonam suas obrigações.

Nesta data de celebração, a Folha de Pernambuco traz histórias de pais que, por diferentes situações, passaram a cuidar dos filhos num contexto de monoparentalidade.

Segundo dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo Demográfico 2022, 16,5% das residências brasileiras são compostas por responsáveis solo. Desse total, o número de domicílios comandados por pais solo é seis vezes menor que os chefiados por mães solo. 

Apesar da diferença, o levantamento apontou os pais solo como os responsáveis pela chefia de 1.614.739 de casas no país.

“Descobrimos forças”
O arquiteto paulista Thiago Camargo formou com sua companheira, Rayssa Oliveira, uma família com quatro filhos: Dante, 7 anos, Cauê, 5, e os gêmeos Zay e Chloé, 3. As crianças foram fruto de um relacionamento que iniciou na faculdade e durou 16 anos. 

O cenário da família mudou drasticamente quando os mais novos estavam perto de completar 2 anos de idade. Aos 36 anos, Rayssa descobriu um câncer no estômago e em três meses foi a óbito. 

"Foi algo bem complexo na mente para entender tudo o que estava acontecendo. Em pouco tempo, eu precisei me reinventar com praticamente nenhum dia de luto para enfrentar esse desafio", relembra Thiago.

Mesmo ciente das dificuldades que teria para criar as quatro crianças sozinho, Thiago reforçou que nunca cogitou abandonar o papel de pai. Inclusive, ele buscou transmitir esta segurança nas últimas conversas com Rayssa. 

"Abandonar as crianças foi algo que nunca passou pela minha cabeça. Eu não ia conseguir pôr a cabeça no travesseiro e dormir em paz se eu fizesse um negócio desse. É justamente nesses momentos mais difíceis que descobrimos forças que a gente nunca imaginou que teríamos".

A curiosa situação de uma casa com quatro crianças motivou Thiago a se reinventar no momento de dor. Três meses após se tornar pai solo, ele passou a compartilhar vídeos com os filhos nas redes sociais e acumula 1 milhão de seguidores no Instagram (@pai.solo.thiago). 

Thiago, que não tinha o hábito de usar as redes sociais, ficou surpreso com os resultados positivos. "Fui aprimorando e comecei a trazer rotina, dia a dia e a conta continuou crescendo".

Muitas pessoas, principalmente nas redes sociais, questionam como Thiago consegue manter uma rotina e cuidar sozinho dos quatro filhos. O influenciador argumenta que o dia a dia das crianças já era bem organizado. 

“Uma coisa que me ajudou muito é que a gente já tinha uma rotina bem regrada em casa. Quando a criança fica muito solta, não tem horário para dormir, por exemplo, fica muito mais complexo lidar com toda essa situação”, reforçou.

Thiago Camargo e os filhos Thiago Camargo mostra a rotina com os quatro filhos em seu perfil (@pai.solo.thiago). Foto: Cortesia.

No senso comum, há a ideia de que o pai teria dificuldade numa ocasião de paternidade solo por não possuir o chamado "instinto materno" da mãe. 

De acordo com a psicóloga clínica, especialista em saúde coletiva e da família, Malu Freire, esse conceito não tem respaldo científico, uma vez que muitas mulheres optam por não exercer a maternidade, e que os homens podem desenvolver esses cuidados com as crianças.

"Num caso em que a mãe foi embora ou faleceu e o pai está com aquele contato mais próximo com a criança, não há nada que impeça ele de desenvolver pelo filho um amor incondicionalmente como a mãe faria. Ele também fará um papel muito importante na vida desse filho", explicou.

Importância da rede de apoio 
O pernambucano Emerson Santos também é pai solo e viveu uma situação parecida com a de Thiago. Dono de uma produtora de vídeo, ele é pai de Melinda Lima, de 3 anos. A menina nasceu a partir do relacionamento com Elizama Lima. 

Emerson Santos e a filha, Melinda Lima Emerson Santos e a filha, Melinda Lima. Foto: Matheus Ribeiro/Folha de Pernambuco. 

Quando Melinda tinha 1 ano e três meses, a mãe descobriu uma trombose, passou dez dias na UTI e faleceu aos 31 anos de embolia pulmonar. 

Com o luto inesperado, Emerson tomou a decisão de voltar a morar com os pais e conta com o apoio da mãe para criar a filha. 

“Eu deixo na escola, venho para o trabalho, pego na escola e a gente passa o restante do dia junto. Final de semana, conto 100% com a ajuda da minha mãe para poder tomar conta dela, porque eu preciso estar presente nos eventos, mas sempre que eu não estou trabalhando é com Melinda que estou", disse.

Ainda antes de se tornar pai solo, Emerson viveu a paternidade de forma intensa desde o início. Pela possibilidade no trabalho, ele passou um ano trabalhando de casa e valorizou os primeiros momentos da vida de Melinda. 

"Fiz questão de acompanhar cada passo que ela dava no seu crescimento, acompanhando 24 horas de perto. Quando estou no trabalho, estressado, eu respiro e penso ‘quer saber, eu vou para casa brincar com minha filha que é melhor’. Minha filha é um refúgio, estar com ela é o meu ponto de paz", completou.

Preocupação
O psicólogo e psicanalista sócio do CPPL, Miguel Gomes, tranquiliza os homens que estão na condição de pais solo sobre a necessidade de buscar uma figura feminina para as crianças. 

Segundo o especialista, essa procura não precisa ser feita, já que esses personagens são escolhidos pelas próprias crianças. A preocupação do pai deve ser na promoção da socialização geral do indivíduo. 

"A gente não consegue criar esse vínculo artificialmente. É a criança quem vai escolher essas pessoas. E ela vai encontrar pessoas ao longo da vida que vão ocupar esses espaços. Seja o próprio pai ou a própria mãe, familiares, vizinhos ou professores", detalhou Miguel.

Emerson Santos e a filha, Melinda LimaO pai tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança. Foto: Matheus Ribeiro/Folha de Pernambuco. 

Relação de amizade
O barista Anderson Santana chegou ao estado de paternidade solo de uma forma diferente em relação aos outros dois. Pai de João Miguel, de 11 anos, ele cria o menino sozinho desde que ele tinha 1 ano e quatro meses.

Após a separação, a mãe do garoto se mudou para São Paulo quando a criança tinha oito meses de vida. De acordo com Anderson, ela passou por dificuldades e o menino voltou a morar no Recife com o pai. 

Apesar dos obstáculos, principalmente pela necessidade de trabalhar, Anderson celebra que tem uma relação muito próxima com o filho. 

"Além de filho, nós somos amigos. Tudo que ele quer, ele conta comigo, fala para mim, me procura. Eu não vou dizer que sou a melhor pessoa do mundo, no caminho a gente erra e aprendemos com os erros. A gente não é perfeito. Mas, assim, a conexão é tão grande que a gente se comunica pelo olhar".
 

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