PM faltou ao reconhecimento, diz suposta vítima de estupro; SDS afasta agente e pede desculpas
Segundo a mulher, policial apresentou atestado para faltar ao reconhecimento; um novo foi marcado para sexta-feira (17)
O agente do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) que seria identificado por suposta vítima de estupro faltou ao reconhecimento que seria feito, nessa terça-feira (14), no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Pernambuco, que fica no bairro do Derby, Centro do Recife.
Segundo a vítima, que terá sua identidade preservada, o policial teria apresentado atestado médico por ter sofrido um acidente de moto.
A mulher que teria sido obrigada a fazer sexo oral no agente, na última sexta-feira (10), após passar por blitz, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR), disse que o suspeito deve prestar depoimento, durante novo reconhecimento, nesta sexta-feira (17).
Ela disse ainda que não conseguiu reconhecer os outros dois colegas do agente que estavam do lado de fora do posto policial, no dia do fato.
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“Eu não fiquei observando os outros no momento [do suposto estupro]. Eu estava nervosa, sob pressão e com medo. Tinham cinco [agentes] na sala e eu só falei que não era nenhum deles”, relembrou ela à reportagem da Folha de Pernambuco.
Temendo represálias por parte do suspeito de ter cometido o crime, a vítima contou que tem enfrentado dias difíceis, por causa do medo, uma vez que ele tem os dados dela, que foram apresentados durante o que era para ser mais uma abordagem policial.
“Meu endereço está em todos os lugares. Estou afastada do trabalho, porém ele sabe onde trabalho, da minha profissão e conhece o meu carro. Inclusive estou querendo me desfazer desse veículo”, desabafou ainda.
SDS pede desculpas e afasta PM
Durante entrevista coletiva na terça-feira, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, pediu desculpas à vítima, em nome da pasta e da corporação.
O gestor chegou a dizer que o caso pode ser considerado como uma "exceção" e que posturas como estas dentro da instituição são "inaceitáveis".
Carvalho disse ainda que o PM foi afastado do cargo.
“É um fato inadmissível. Uma violência cometida por um agente do estado, no interior de uma repartição, mas eu quero dizer que isso é uma exceção. Nós repugnamos isso de forma veemente e todas as providências estão sendo tomadas. Ele já foi afastado, junto com a equipe que estava com ele na ocorrência das ruas”, comentou.
Ainda de acordo com o secretário, a pasta está prestando todo suporte necessário nos âmbitos da investigação pericial, que virou uma prioridade. As oitivas e reconhecimento pessoal serão agilizados, conforme explica ainda o secretário.
“Vamos trabalhar para que, comprovando o fato, ele seja encaminhado à justiça o quanto antes para responder pelos atos dele”, finalizou.
Relembre o caso
Eram 22h30 da última sexta-feira (10) quando a vítima, de 48 anos, passou perto de uma blitz de trânsito, num posto rodoviário da PE-60, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife. Ela estava num carro com uma amiga e duas crianças e trafegavam no sentido Gaibu.
Naquela ocasião, três policiais paravam carros e pediam as habilitações dos condutores. Após mostrar o documento, a mulher afirma que abriu ainda a mala do veículo e foi convidada pelo policial militar a sair do carro. Ele a mostrou débitos existentes referentes a licenciamento e uma multa.
“Eu comprei esse carro há pouco tempo. Ainda não transferi ele para o meu nome. Porém, o rapaz que me vendeu pagou apenas uma parcela do IPVA [Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] e não quitou o restante. Eu não sabia, de fato, que o carro estava atrasado [...]. Quando eu desci do carro, ele me chamou até o posto policial e eu fui acompanhá-lo. Sentamos do lado de fora. Tinha mais dois policiais sentados ao lado [na entrada do posto]”, disse ela, em entrevista recente à Folha de Pernambuco.
A vítima declarou ainda que o policial começou a questioná-la sobre sua profissão, onde morava e para onde estava indo. Posteriormente, ele avisou que o carro ficaria apreendido. Foi quando ela ligou para o vendedor do veículo. No viva-voz do celular, o rapaz disse que não poderia resolver a questão naquele momento, porque estava indisponível no final de semana, mas prometeu que entraria em contato com ela nessa segunda-feira (13).
“O policial ouviu toda a conversa. Após pegar as informações, ele tirou foto da minha CNH [Carteira Nacional de Habilitação] e do documento do carro. Depois ele virou para os colegas e falou: ‘Ela vai ali beber água’. Porém, eu estava muito nervosa, não solicitei qualquer água. Ele me direcionou para a parte interna do prédio”, relembrou.
Cenário de medo
Chegando ao pavimento, a mulher diz que viu um quarto com dois beliches. A partir de então, o agente policial teria apagado as luzes e começado a praticar os abusos sexuais contra ela.
“Ele tentou fazer penetração [vaginal] de diversas formas e eu resisti. Fechava as pernas e dizia: ‘Moço, eu estou com pessoas ali no carro. Tenho crianças’. Ele insistia, insistia... Não havendo sucesso, ele abaixou a minha cabeça concluiu o ato na minha boca [sexo oral]. Ao terminar, ele me deu uma toalha que estava em cima de um beliche, pediu para que eu limpasse a boca e, quando eu saí, tinha um bebedouro. Ele disse: ‘Beba água para tirar a g... da boca’”, relembrou.
A denúncia
Depois de ter bebido dois copos de água, a mulher saiu em direção ao carro e seguiu destino, nervosa. Por causa das crianças que estavam dentro do veículo, ela não contou o que aconteceu, mas, no dia seguinte, após largar do trabalho e ser incentivada por uma rede de apoio, procurou a Delegacia do Cabo de Santo Agostinho.
“Quando eu procurei outras pessoas, eu consegui uma rede de apoio que me direcionou e apoiou o dia inteiro. Eu estive acompanhada de todo um aparato para ir até o fim com essa denúncia. Quando eu prestei o B. O. [Boletim de Ocorrência], os policiais vieram até minha casa para recolher o vestido que eu estava [no dia do crime] para a perícia”, destacou.
Ainda na delegacia, durante depoimento, ela declarou que não reparou o nome do policial na farda, mas citou algumas características dele. Segundo a mulher, é um homem da cor branca, de aproximadamente 56 anos, e que tem 1,70m, com cabelos grisalhos. Ao analisar algumas fotos, ela conseguiu reconhecê-lo.
Agora, a vítima teme represálias, uma vez que o agente possui dados pessoais dela, inclusive sabe onde trabalha.
Prevenção contra doenças
Mesmo depois de ter denunciado, ela conta que passou no Hospital da Mulher para realizar os procedimentos de profilaxia pós-exposição (PEP). Ela fará uso de um remédio por 30 dias e espera resposta para que, de fato, o culpado pelo crime seja punido.
“Outras vítimas vão aparecer. Que isso não fique impune. É só isso que eu desejo”, complementou.

