Só sabonete resolve? Mitos e verdades sobre como limpar a vulva para mantê-la limpa e saudável
Especialistas afirmam que assim como o pH da vagina muda, os produtos também devem mudar conforme a idade da mulher
Não faz muito tempo que o mercado de higiene feminina disparou em criar marcas que apostam em atrair os millennials e a Geração Z para cuidar da saúde íntima, fazendo uso não só de nomes sugestivos, mas também de designs atrativos pensados para que produtos que antes eram tabu não fiquem mais escondidos no fundo da gaveta, mas sim expostos com orgulho no banheiro.
A principal agência de previsão de tendências de consumo WGSN garante que a indústria da saúde íntima será avaliada em 38 mil milhões de dólares até 2026, e é por isso que as marcas não se preocupam apenas com a sua formulação, mas também com a sua embalagem.
Quais produtos usar e como limpar a vulva
Embora em mais de uma ocasião alguém se levante contra a utilização de determinados produtos específicos para a higiene íntima feminina, a verdade é que se deve ter em conta que se trata de produtos concebidos para a zona íntima e que mantêm o ph da vulva adequado para a idade da mulher que o usa.
“Uma menina, uma mulher na menopausa ou em idade fértil não é a mesma coisa. O pH vaginal muda e temos que lembrar que tudo o que fazemos na vulva pode alterar o equilíbrio dentro da vagina. Por isso, é necessário escolher toalhas, produtos de limpeza ou géis vulvares que mantenham o pH adequado à idade da mulher”, explica Maite Fernández, especialista em ginecologia funcional e cirurgia vulvar.
Por sua vez, Diana Montesinos, fundadora da Pansy , marca de géis e óleos que tem como objetivo normalizar os cuidados íntimos, garante que o principal na hora de escolher o produto ideal é que ele respeite o corpo, pois influencia diretamente o nosso bem-estar.
“Tem que ser formulado com ingredientes naturais e de qualidade que respeitem a barreira natural externa da nossa zona íntima. Na realidade, os produtos de higiene íntima proporcionam bem-estar e conforto extra numa das zonas mais sensíveis do nosso corpo. Há realmente uma diferença tangível entre usá-los ou não. Esses produtos são aplicados na região genital externa. A vagina possui mecanismo próprio de limpeza por fluxo, e a limpeza do local deve ser limitada à parte externa, ou seja, à vulva”, afirma Montesinos.
Mitos e verdades
“A higiene vulvar excessiva pode causar alteração da flora vaginal, porque também se perdem as bactérias que estão na entrada da vagina. Um dos grandes mitos é que é preciso lavar muito: uma vez por dia é o suficiente”, diz Fernández. “O passo a passo ideal para lavar a vulva é fazê-lo uma vez ao dia com um gel íntimo, de preferência adequado à idade da mulher, e depois aplicar um creme hidratante, principalmente em mulheres depiladas. Também é importante usar calcinha de algodão e evitar ou não usar absorventes, pois também altera a flora vaginal”, explica.
Como podemos constatar, a limpeza da vulva sempre esteve rodeada de mitos, e a Diretora do Instituto Médico Integral Políclinico HM e chefe da equipe de ginecologia, Marta Sánchez-Dehesa, analisa alguns deles.
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“A ducha não é necessária e pode interferir no equilíbrio natural das bactérias na vagina, aumentando o risco de infecções. Deve-se evitar produtos perfumados para limpar a vagina, pois podem irritar a pele e alterar o pH natural dela, o que também aumenta o risco de infecções. Um mito comum é a crença de que é preciso limpar o interior da vagina, ela é capaz de se limpar naturalmente, não se deve colocar nenhum tipo de produto de limpeza no interior dela”, ressalta.
Sem spas, sem remédios rápidos
Especialistas na área investigam como é simples ter uma higiene ideal. “É um procedimento polêmico e envolve sentar em uma cadeira contendo um recipiente com água quente e ervas medicinais. O vapor resultante deve entrar na vagina e no útero, com a finalidade de limpeza. Esta técnica não é apoiada por evidências científicas sólidas e pode até representar riscos como queimaduras, irritações ou desequilíbrios na flora vaginal”, alerta Sánchez-Dehesa.
Bárbara Fernández del Bas, especialista em Ginecologia e Medicina da Longevidade do Longevity Hub da Clinique la Prairie Madrid, indica que os órgãos genitais femininos têm um pH muito específico que, em caso de qualquer alteração, pode modificar a microbiota vaginal e gerar infecções.
“Por isso sugiro às minhas pacientes que evitem qualquer tipo de ducha vaginal, e caso apareça corrimento de quantidade diferente do habitual ou caso apareça algum sintoma como ardor e/ou coceira, procure o seu ginecologista assim que possível e tente não se automedicar. Muitas vezes, por questão de tempo, vamos à farmácia buscar um remédio rápido e nos tratamos com algo que não é específico do que temos”, afirma.
Limpeza sexual
Maite Fernández enfatiza a importância de urinar após a relação sexual para que as bactérias que possam ter entrado em contato durante a relação sexual não subam e causem uma infecção. “A urina funciona como uma lavagem da uretra e faz com que as bactérias saiam. É importante urinar sempre e, se costuma haver problemas fúngicos ou infecções em decorrência da relação sexual, recomendamos também fazer uma lavagem vulvar com gel íntimo; de preferência uma espuma, que seja mais agradável ao toque”, esclarece.
Em seu livro, chamado de In Praise of pubes (Exaltação dos pubes), a atriz Cameron Diaz dá conselhos para abraçar uma vida mais saudável e feliz e dedica um capítulo inteiro à defesa dos pelos pubianos e critica a depilação brasileira.
Na verdade, os ginecologistas concordam com ela e indicam que o objetivo dos pelos pubianos é proteger a região de fricções e infecções.
“Do ponto de vista fisiológico, os pelos protegem a nossa região genital, por isso recomendo evitar a depilação total, deixando pelo menos um ou dois centímetros de pelos, como proteção”, afirma a Bárbara Fernández del Bas.
“A questão do cabelo é uma questão de moda: não está comprovado que haja risco aumentado de ter infecções. Porém, a verdade é que o cabelo isola da fricção e a pele fica mais exposta e desprotegida quando não há fricção. Da mesma forma que quem tem o cabelo raspado terá que hidratar a pele da cabeça, precisamos usar um gel íntimo e um creme hidratante na vulva, principalmente nesses casos”, explica Maite Fernández.

