Tratamento com terapia genética restaura audição de 5 crianças que nasceram surdas
Os participantes também experimentaram melhor percepção da fala e adquiriram a capacidade de localizar e determinar a posição do som
Cinco crianças que nasceram surdas tiveram a função auditiva restaurada em ambos os ouvidos depois de experimentarem uma nova terapia genética desenvolvida para combater a surdez hereditária. Os participantes também experimentaram melhor percepção da fala e adquiriram a capacidade de localizar e determinar a posição do som.
O estudo, o primeiro ensaio clínico do mundo a administrar terapia genética em ambos os ouvidos (bilateralmente), foi liderado por investigadores do Mass Eye and Ear e Eye & ENT Hospital da Universidade Fudan, em Xangai, e os resultados foram publicados na Nature Medicine.
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“Restaurar a audição em ambos os ouvidos de crianças que nasceram surdas pode maximizar os benefícios da recuperação auditiva. Esses novos resultados mostram que esta abordagem é muito promissora e justifica ensaios internacionais maiores”, disse o principal autor do estudo, Yilai Shu MD, professor e diretor do Centro de Diagnóstico e Tratamento de Perda Auditiva Genética afiliado ao Eye & ENT Hospital da Universidade Fudan em Xangai.
Mais de 430 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas por perda auditiva incapacitante, das quais a surdez congênita constitui cerca de 26 milhões delas. Até 60% da surdez infantil é causada por fatores genéticos. Crianças com DFNB9 nascem com mutações no gene OTOF que impedem a produção da proteína otoferlina funcional, necessária para os mecanismos auditivos e neurais subjacentes à audição.
“Os resultados desses estudos são surpreendentes. Continuamos a ver a capacidade auditiva das crianças tratadas progredir dramaticamente e o novo estudo mostra benefícios adicionais da terapia genética quando administrada em ambos os ouvidos, incluindo a capacidade de localização da fonte sonora e melhorias no reconhecimento da fala em ambientes ruidosos”, explica coautor sênior do estudo, Zheng-Yi Chen, cientista associado dos Laboratórios Eaton-Peabody em Mass Eye and Ear.
Duas das crianças participantes do projeto adquiriram a capacidade de apreciar música, um sinal auditivo mais complexo. O ensaio continua em andamento e os participantes continuam sendo monitorados.
“Nosso estudo apoia fortemente o tratamento de crianças com deficiência auditiva em ambos os ouvidos, e nossa esperança é que este estudo possa se expandir e que essa abordagem também possa ser analisada para surdez causada por outros genes ou causas não genéticas”, acrescentou Chen, que também é professor de Otorrinolaringologia – Cirurgia de Cabeça e Pescoço na Universidade de Harvard.
Atualmente, não existem medicamentos disponíveis para tratar a surdez hereditária, o que abriu espaço para novas intervenções, como terapias genéticas.
Os autores afirmam que são necessários mais trabalhos para estudar e refinar a terapia. O estudo bilateral requer mais consideração em comparação ao estudo unilateral (uma orelha), pois as operações em ambas as orelhas dobram o tempo cirúrgico. Segundo os pesquisadores, são necessários mais pacientes, bem como um acompanhamento mais longo e a análise contínua de terapias genéticas e implantes cocleares em ensaios randomizados maiores.