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Justiça

Tribunal da Romênia ordena recontagem das eleições em meio a denúncias de interferência russa

Segundo a Presidência, candidato de extrema direita pró-Moscou que venceu o primeiro turno recebeu 'tratamento preferencial' no TikTok e apoio de rede de desinformação russa

Eleição presidencial na Romênia mostrou força da extrema direitaEleição presidencial na Romênia mostrou força da extrema direita - Foto: Daniel Mihailescu/AFP

O Tribunal Constitucional da Romênia ordenou nesta quinta-feira a recontagem dos votos do primeiro turno das eleições presidenciais após a surpreendente vitória do candidato de extrema direita pró-Moscou, Calin Georgescu, no domingo. A medida, decidida por unanimidade, ocorre em meio a denúncias de ataques cibernéticos e influência de redes de desinformação russa no país, que além de ser membro da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é vizinho da Ucrânia. Paralelamente, a Presidência romena denunciou que o TikTok, por onde Georgescu alcançou grande parte do seu eleitorado, deu "tratamento preferencial" aos conteúdos do candidato.

A decisão de recontar os votos foi tomada depois que o presidenciável Cristian Terhes contestou o resultado das urnas, alegando que um dos partidos extrapolou o tempo de campanha permitido na internet. Analistas, no entanto, acreditam que a medida pode afetar a credibilidade das instituições pouco antes de duas votações importantes: o segundo turno presidencial, em 8 de dezembro, e a eleição para o Parlamento, no próximo domingo (1º).

Em um primeiro momento, Terhes também pediu que a Corte anulasse o resultado da eleição. O tribunal optou por adiar esta decisão para sexta-feira, mas concordou com o pedido de recontagem. Conservador e ligado à extrema direita, Terhes ficou em nono lugar na votação de domingo e obteve apenas 1% dos votos.

De acordo com Terhes, a violação do tempo de campanha permitiu que a candidata Elena Lasconi, prefeita centrista de uma pequena cidade do país, disputasse o segundo turno contra Georgescu. Lasconi derrotou o atual primeiro-ministro, Marcel Ciolacu, por uma diferença de 2,7 mil votos. Ao todo, 9,46 milhões de eleitores votaram no pleito.

A vitória de Calin Georgescu surpreendeu o país de 19 milhões de habitantes que, até então, havia resistido ao avanço do nacionalismo que tomou conta de nações como Hungria e Eslováquia. Georgescu chamou políticos fascistas romenos da década de 1930 de heróis e mártires nacionais, criticou a Otan e a posição da Romênia em relação à Ucrânia, afirmando que o país deveria se aproximar da Rússia, não desafiá-la.

Com uma campanha baseada em conteúdos virais no TikTok, Georgescu contou com o forte apoio do eleitores jovens e da diáspora para vencer o primeiro turno. A rede social está no centro do imbróglio envolvendo a eleição, que entidades acusam de ter sido vítima de desinformação russa.

Em um comunicado emitido nesta quinta-feira após uma reunião do Conselho Supremo de Defesa Nacional, principal órgão de segurança do país, a Presidência romena disse que o TikTok deu "tratamento preferencial" a Georgescu. Sem citá-lo diretamente, o texto afirma que ele "se beneficiou da exposição maciça devido ao tratamento preferencial" dado pela rede social "ao não marcá-lo como candidato político", acrescentando que "medidas necessárias" devem ser tomadas com urgência.

Na quarta-feira, um funcionário sênior do órgão regulador de telecomunicações da Romênia pediu que o TikTok fosse suspenso enquanto o possível papel da plataforma na eleição é investigado. O TikTok rejeitou as acusações alegando que a maioria dos candidatos fez campanha em sua plataforma, bem como em outras redes sociais.

O comunicado disse, ainda, ter detectado "ataques cibernéticos com o objetivo de influenciar a correção do processo eleitoral".

Em outubro, o Tribunal Constitucional proibiu um político de extrema-direita de concorrer à eleição presidencial em uma decisão que, segundo analistas, grupos de direitos civis e alguns partidos, extrapolou seus poderes.

O resultado eleitoral na Romênia representa um banho de água fria na UE, que há poucos dias comemorava a iminente adesão total do país ao espaço Schengen como um sinal pró-europeu. Nas capitais da Europa, os resultados das eleições de domingo estão sendo lidos como mais um sinal — depois da Moldávia e da Geórgia, há apenas algumas semanas — de que a propaganda russa está se infiltrando em cada vez mais lugares, apesar dos insistentes avisos de Bruxelas para que se protejam contra essa interferência.

Embora ninguém queira dar o alarme ainda publicamente, porque ainda há eleições legislativas e o decisivo segundo turno presidencial, não há dúvida nos órgãos europeus ou nos corredores diplomáticos de que existe uma ligação direta entre as campanhas de desinformação russas e o aumento de candidaturas antiocidentais na UE e em seus vizinhos.

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