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Tuberculose mata mais de 1,2 milhão de pessoas por ano, aponta OMS

Relatório também estima que o tratamento contra a tuberculose tenha salvado 83 milhões de vidas desde 2000. Em 2024

Tuberculose mata mais de 1,2 milhão de pessoas por ano, aponta OMSTuberculose mata mais de 1,2 milhão de pessoas por ano, aponta OMS - Foto: Eduardo Gomes - ILMD/Fiocruz Amazônia

Em relatório global divulgado nesta quarta-feira, 12, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reafirma que a tuberculose permanece entre as doenças infecciosas mais letais do mundo: no ano passado, causou cerca de 10,7 milhões de novos casos e mais de 1,2 milhão de mortes.

Segundo a OMS, 87% das novas infecções em 2024 se concentraram em 30 países, oito deles responsáveis por 67% do total global: Índia (25%), Indonésia (10%), Filipinas (6,8%), China (6,5%), Paquistão (6,3%), Nigéria (4,8%), República Democrática do Congo (3,9%) e Bangladesh (3,6%).

Transmitida pelo ar, a tuberculose se espalha principalmente em ambientes com aglomeração. A doença afeta especialmente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos e sistemas, como rins e sistema nervoso. Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas mais frequentes incluem tosse com secreção, cansaço excessivo e emagrecimento acentuado. Em casos graves, ela pode causar complicações como a destruição do tecido pulmonar, levando à insuficiência respiratória.

"O fato de a tuberculose matar mais de um milhão de pessoas por ano, apesar de ser prevenível e curável, é simplesmente inadmissível. A OMS está trabalhando com os países para acelerar o progresso e alcançar a meta de eliminação da doença até 2030", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da entidade, em nota.

Algumas regiões, porém, apresentam sinais de melhora. Entre 2015 e 2024, o continente africano registrou redução de 28% na incidência e de 46% nas mortes por tuberculose. Na Europa, as quedas foram de 39% e 49%, respectivamente. Nesse período, mais de 100 países conseguiram diminuir as taxas de incidência em pelo menos 20%, e 65 registraram queda de 35% ou mais nas mortes relacionadas à doença.

A recuperação global, no entanto, ainda ocorre de forma lenta. Entre 2023 e 2024, a taxa mundial de novos casos caiu apenas 2%, enquanto as mortes diminuíram 3%. A OMS alerta para desafios de financiamento e desigualdades no acesso ao diagnóstico e ao tratamento.

O relatório estima que o tratamento contra a tuberculose tenha salvado 83 milhões de vidas desde 2000. Em 2024, 8,3 milhões de pessoas foram diagnosticadas e iniciaram tratamento, o equivalente a 78% dos que adoeceram no período. No mesmo ano, 5,3 milhões de indivíduos com alto risco receberam terapia preventiva, acima dos 4,7 milhões de 2023.

A OMS também divulgou, pela primeira vez, dados sobre proteção social nos 30 países com alta carga da doença - estratégia que busca mitigar os determinantes sociais relacionados ao quadro. A cobertura varia de 3,1% em Uganda a 94% na Mongólia, e 19 países têm níveis inferiores a 50%. O levantamento decorre de compromissos assumidos em reunião de alto nível da ONU sobre tuberculose, em 2023.

Fatores de risco
O relatório também chama atenção para fatores de risco que impulsionam a epidemia, como desnutrição, HIV, diabetes, tabagismo e consumo de álcool, além de questões estruturais, como pobreza e dificuldade de acesso a serviços de saúde. No Brasil, embora o País não esteja entre os que concentram mais casos segundo a OMS, foram registrados 84.308 novos diagnósticos no último ano. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou que quase 40% das infecções no país têm origem em transmissões iniciadas no sistema prisional, o que evidencia a importância de enfrentar desigualdades estruturais.

"O que vemos nas prisões são, em sua maioria, pessoas negras e pardas, de baixa renda e escolaridade, que acabam expostas a condições que aumentam o risco de adoecimento", disse o infectologista Julio Croda, um dos responsáveis pelo estudo brasileiro, em entrevista ao Estadão no último ano.

Financiamento
Nesse ponto, o cenário é preocupante. O investimento global está estagnado desde 2020 e, em 2024, apenas US$ 5,9 bilhões foram destinados à prevenção e ao diagnóstico e tratamento, abaixo da meta anual de US$ 22 bilhões prevista para 2027. A OMS alerta que a manutenção desse subfinanciamento pode levar a até 2 milhões de mortes adicionais e 10 milhões de novos casos entre 2025 e 2035.

A pesquisa também sofre com falta de recursos. Em 2023, o financiamento para inovação em tuberculose atingiu apenas 24% da meta definida pela OMS, chegando a US$ 1,2 bilhão. A organização afirma liderar esforços para acelerar o desenvolvimento de novas vacinas.
 

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