Vovós alemãs se mobilizam contra a extrema direita no país
Grupo nasceu na Alemanha em 2018 e reúne idosos ao redor de todo país
As “avós contra a extrema direita” estão se mobilizando para proteger a democracia e lutar contra os discursos nacionalistas e antimigrantes que dominam a campanha para as eleições parlamentares na Alemanha.
Sua missão: proteger a democracia para as gerações futuras. Seu emblema: gorros de lã, em sua maioria feito à mão, que permitem que elas se distinguem e se identifiquem nas manifestações que reuniram centenas de milhares de pessoas em diversas cidades alemãs nas últimas semanas.
Os protestos foram convocados contra os possíveis recordes de votos que o partido de extrema direita AfD pode obter nas eleições antecipadas de 23 de fevereiro.
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O “Omas gegen Rechts” (seu nome em alemão), no entanto, não esperou chegar à reta final das eleições para se mobilizar. “Só porque você é idoso não significa que deve ficar calado”, eles vêm dizendo há sete anos.
Em seus sessenta, setenta e até noventa anos, esses ativistas, que cresceram nas décadas do pós-guerra marcadas pela memória do Holocausto, sentem que têm um dever.
— Tive a sorte de viver em paz e democracia por 58 anos — diz Gabi Heller, que dirige um grupo ‘Omas’ em Nuremberg, uma grande cidade no sul da Baviera. — É isso que quero preservar para meus três netos.
— Culpar os fluxos migratórios por todos os males é uma solução fácil, mas é um completo absurdo — acrescenta ela, com uma bandeira do Omas pendurada no ombro.
Origem do grupo
Eva-Maria Singer aderiu ao movimento há três anos.
— Éramos ingênuos demais — declara a senhora de 73 anos em uma manifestação em Nuremberg.
— Minha geração, os chamados “sessentistas”, que saíram às ruas contra a velha classe nazista e fascista, achava que a tínhamos erradicado, mas não é verdade, ela está crescendo novamente — analisa ela.
O partido de extrema direita AfD pode conquistar o segundo lugar nas eleições parlamentares, embora suas chances de chegar ao poder sejam nulas devido à falta de aliados.
O movimento “Omas” nasceu na Alemanha em 2018, inspirado em iniciativas semelhantes na Áustria. Na época, o AfD, fundado em 2013, tinha acabado de entrar no parlamento alemão, o que foi uma verdadeira ruptura na vida política do país.
O grupo cresceu ao longo dos anos e agora tem cerca de cem núcleos locais em toda a Alemanha.
— No ano passado, organizamos ou participamos de mais de 80 manifestações — explica Maja, uma ativista de 72 anos entrevistada em Berlim, sendo muitas delas contra o antissemitismo.
Seu compromisso tem raízes muito pessoais: “Minha avó teve que deixar a Alemanha com meu pai” porque era judia, diz ela. Alguns de seus netos são de origem “do Oriente Médio” e “não quero que eles tenham que deixar a Alemanha, por isso entrei para a Omas”, confessa.
Inspiração
O primeiro congresso do “Omas” foi realizado neste verão na Turíngia, na região central da Alemanha. Nas últimas eleições regionais realizadas nessa área, o AfD ficou em primeiro lugar.
— Ficamos surpresos com o tratamento que recebemos — confessa Heller. Em Nuremberg, “ainda não é assim, posso andar na rua com a placa ‘Omas’ sem ter medo”, aponta.
Para Nicole Büttner, de 46 anos, que se manifestou com eles em Berlim no início de fevereiro, o compromisso desses veteranos é uma inspiração.
— São pessoas mais velhas, algumas das quais provavelmente viveram a guerra — afirma.
— Eles estão se mobilizando contra o racismo, a discriminação e a misantropia. Isso é muito importante e muito encorajador — diz ela.

