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Abin usou e-mail espião para acessar dados da Presidência e Congresso do Paraguai, diz agente à PF

Itamaraty afirma que ação, autorizada no governo Bolsonaro, foi suspensa no início da gestão de Lula

No depoimento à PF, o servidor da Abin afirmou que usou uma ferramenta para desenvolver um aplicativo capaz de invadir os computadores do governo paraguaio.No depoimento à PF, o servidor da Abin afirmou que usou uma ferramenta para desenvolver um aplicativo capaz de invadir os computadores do governo paraguaio. - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) utilizou um e-mail espião para invadir o computador de autoridades paraguaias, incluindo da Presidência e do Congresso do país.

A ação foi narrada por um agente do próprio órgão em depoimento à Policia Federal, como parte da investigação sobre uso indevido do aparato de inteligência federal, revelado pelo jornal O Globo em março de 2023.

No depoimento à PF, o servidor da Abin afirmou que usou uma ferramenta para desenvolver um aplicativo capaz de invadir os computadores do governo paraguaio.

O objetivo do órgão era obter informações sobre a negociação envolvendo a venda da energia pela usina de Itaipu, que é dividida entre Brasil e Paraguai.

As declarações do agente à PF foram reveladas pelo portal UOL e confirmadas pelo Globo.

O servidor afirmou ainda que foram invadidos “o Congresso Paraguaio, Senado, Câmara e Presidência da Republica”.

Entre os alvos, segundo o integrante da Abin, estavam “presidente do Paraguai, Presidente do Senado e autoridades relacionadas diretamente a negociação e os valores a serem cobrados por megawatt”, medida da taxa de produção ou consumo de energia.

Veja trecho do depoimento:
A ação da Abin se deu em um momento em que os dois países discutiam o reajuste no valor pago pelo Brasil sobre a parte da energia produzido em Itaipu que é de responsabilidade paraguaia.

O acordo entre os dois países prevê a compra do excedente não usado pelo Paraguai.

O novo valor, abaixo do que os vizinhos pediam, foi acordado em 2023.

O depoimento do agente faz parte do inquérito aberto após reportagem do Globo revelar o uso da ferramenta espiã FirstMile para monitorar ilegalmente adversários políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A ação, segundo o agente da Abin, ocorreu com autorização do chefe do órgão no governo de Jair Bolsonaro, mas também obteve aval posterior do atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, que assumiu o cargo em 2023.

Procurada, a Abin não se manifestou.

Em nota, o Itamaraty diz que a ação de inteligência que previa a invasão de computadores de autoridades do Paraguai havia sido autorizada em junho de 2022, no governo Bolsonaro, e suspensa em março de 2023, no início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.

"O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria. A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da ABIN em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato", afirma o Itamaraty.

O ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Ruben Ramirez Lezcano, afirmou por meio de nota que "o Paraguai não tem nenhuma evidência de que o Brasil tenha atacado seus sistemas de informática para obter informações".

"Temos a tranquilidade de saber que as informações que administramos no âmbito de nossas negociações internacionais estão protegidas", disse o integrante do governo paraguaio.

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