Bancada do PL discute reação à possibilidade de punição por motim
Em reunião a portas fechadas, parlamentares discutiram estratégia após Mesa Diretora enviar denúncias contra 14 parlamentares para a Corregedoria
A bancada do PL se reuniu na terça-feira para discutir estratégias diante da possibilidade de punição a 14 deputados bolsonaristas denunciados por participação no motim na Câmara na semana passada. A portas fechadas, parlamentares acusaram a cúpula da Casa de "pinçarem" alguns nomes do grupo que bloqueou o plenário e impediu votação.
O deputado Daniel Freitas (PL-SC) era um dos mais exaltados. Aos correligionários, disse que não poderiam "ficar olhando na janela" enquanto colegas poderiam ser punidos. Ele avaliou que a cúpula da Cãmara pode tentar equilibrar a narrativa punindo também nomes da oposição, como a petista Camila Jara (PT-MS).
— Daqui a pouco eles pegam o Zé Trovão (PL-SC) que barrou a entrada do Hugo (Motta, presidente da Câmara) e pegam a Camila Jara do outro lado. É um de cada lado. E o Zé Trovão vai ser punido e cada um de nós vai ficar olhando pela janela? Então eu acho que a gente tem que ter uma estratégia para isso — disse Freitas.
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Camila Jara foi alvo de representação apresentada pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante, que a acusa de ter agredido o colega Nikolas Ferreira (PL-MG) durante a confusão que marcou a retirada dos manifestantes da Mesa. Imagens mostram ela empurrando o deputado, que caiu do plenário. A petista nega ter agredido Nikolas, diz que apenas reagiu à pressão física no empurra-empurra.
Durante a fala de Freitas, o deputado Bibo Nunes (PL-RS) interrompeu: — Eu quero ser, com muita honra, sancionado — disse ele.
A reunião ocorreu logo após a reunião de líderes da Câmara, na qual o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro nem chegou a ser discutido — fato que irritou ainda mais os bolsonaristas. Entre as queixas, Freitas também disse ter sido excluído da escala de presença no plenário nesta semana, apesar de ter participado da ocupação que paralisou os trabalhos.
O motim, que durou cerca de 30 horas, começou após o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decretar prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Deputados da oposição ocuparam as mesas da Câmara e do Senado, bloqueando votações e pressionando pela análise de pautas como a PEC que põe fim ao foro privilegiado.
A crise interna se aprofundou porque o acordo que encerrou a ocupação foi costurado pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), sem participação do atual, Hugo Motta (Republicanos-PB). Aliados dizem que Motta viu sua autoridade testada e reagiu defendendo “punições pedagógicas” aos envolvidos.
Na segunda-feira, o corregedor Diego Coronel (PSD-BA) anunciou que seguirá o rito previsto em ato de 2009, que prevê até 50 dias úteis para análise dos casos, com cinco dias para defesa. As penalidades vão de advertência à suspensão do mandato por seis meses. O prazo mais longo, segundo defensores, reduz o risco de acusações de parcialidade e abre espaço para negociações políticas. No PL, no entanto, a leitura é oposta: o prolongamento mantém a pressão sobre os investigados e dá margem para manobras que possam enfraquecer a defesa.
Para dirigentes da legenda, suspender um número alto de deputados de uma só vez traria custos políticos elevados e poderia travar votações importantes — risco que o partido quer evitar. Enquanto isso, o caso Camila Jara permanece no radar como possível ferramenta de barganha para influenciar o desfecho do processo contra os bolsonaristas.

