Seg, 22 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
BRASIL

Corrida para o Senado em 2026 opõe ministros e aliados em ao menos quatro estados

Interesses pessoais esbarram em costuras com a base, e Lula pode ser chamado para decidir

O ministro Rui Costa (à dir.) e Jaques Wagner (à esq.) querem concorrer pelo PT-BA, mas podem desagradar Ângelo Coronel, aliado do PSD (ao centro) O ministro Rui Costa (à dir.) e Jaques Wagner (à esq.) querem concorrer pelo PT-BA, mas podem desagradar Ângelo Coronel, aliado do PSD (ao centro)  - Foto: Assembleia Legislativa da Bahia

Além de enfrentar dissidências em partidos do Centrão que ocupam ministérios, o governo lida agora com disputas internas no PT que vêm embaralhando as articulações para candidaturas ao Senado. Quatro ministros petistas desejam buscar mandatos na Casa, parte dos planos de Lula de evitar um controle bolsonarista na próxima legislatura, mas esbarram em obstáculos no próprio partido e em siglas aliadas.

Esse diagnóstico a pouco mais de um ano da eleição fez o Palácio do Planalto passar a temer o enfraquecimento dos palanques, com eventuais reflexos na governabilidade, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sucesso no plano de reeleição. Os conflitos se concentram, por ora, em Sergipe, Paraná, Pará e Bahia, todos estados com expectativa de disputa acirrada com integrantes da oposição.

No último dia 3, durante o encontro nacional do PT, Lula reclamou da divisão interna. Segundo o presidente, “picuinhas pessoais” não podem rachar a sigla.

— O PT não pode ter a divisão de agora. A CNB (grupo majoritário do partido) tem três correntes em um estado. Isso tem que acabar. Nós precisamos eleger a maioria dos senadores.

 

Em Sergipe, a pré-candidatura do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT), gerou atrito com o líder do partido no Senado, Rogério Carvalho, que tentará a reeleição. Embora haja duas vagas em disputa, os projetos de cada ala seguem caminhos distintos. O grupo de Macêdo defende uma aliança com o PSD e articula uma chapa junto ao governador Fábio Mitidieri, o que inviabilizaria duas candidaturas petistas.

Divisão de votos
Carvalho, por sua vez , reitera que vai buscar mais oito anos de mandato e tenta demover o ministro de concorrer para que não haja divisão de votos. Recentemente, venceu as eleições internas do diretório estadual do PT, o que reforçou o argumento de que deve ter prioridade.

— Sou pré-candidato à reeleição. É uma prerrogativa natural de quem já ocupa o cargo e foi confirmada pelo presidente Lula — afirma o senador.

Nos bastidores, cresce a percepção de que Lula pode ser chamado a arbitrar o impasse e, eventualmente, abençoar uma solução de acomodação para os dois. A hipótese de que Macêdo ajude a coordenar a campanha presidencial vem sendo ventilada. Procurado, o ministro não se manifestou.

Na Bahia, o foco da disputa é a montagem da chamada “chapa dos governadores”, que pretende lançar ao Senado o ministro Rui Costa (Casa Civil) e o líder do PT na Casa, Jaques Wagner, ambos ex-chefes do Executivo local. A proposta, costurada por grupos do PT nacional, contraria a engenharia política da base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que já assumiu compromisso com a tentativa de reeleição de Ângelo Coronel (PSD).

— O nosso partido é o maior do estado e não pode abrir mão de uma posição que já tem — rebateu Coronel, que tenta segurar o apoio do PT.

No Paraná, a tensão envolve a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), ex-presidente do PT, e o deputado federal Zeca Dirceu , filho do ex-ministro José Dirceu. Ambos ensaiam candidaturas ao Senado e recentemente se enfrentaram em uma disputa interna que resultou em uma eleição apertada: Zeca perdeu o controle do diretório estadual por apenas 1% para o deputado estadual Adilson Chiorato , aliado de Gleisi.

Em público, os dois adotam tom conciliador. Zeca afirma que sua candidatura dependerá de consenso:

— Só vou disputar se o PT quiser, precisar e me der as condições para ganhar.

Gleisi, por sua vez, tem dito a aliados que só entrará na corrida se tiver chances reais. Caso contrário, deve buscar a reeleição para a Câmara, onde acredita ter capital consolidado. Procurada, ela não se manifestou.

Costuras ameaçadas
No Pará, o ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), intensificou nas últimas semanas articulações locais com setores empresariais e políticos para se lançar ao Senado. A movimentação desagradou ao grupo do governador Helder Barbalho (MDB), que já havia reservado a vaga majoritária para o presidente da Assembleia Legislativa do estado, Chicão Melo (MDB).

Sabino conta com o incentivo do próprio presidente Lula, que deseja garantir um segundo nome aliado ao lado de Helder. O governador, no entanto, resiste à ideia e prefere uma chapa puro-sangue do MDB.

Até agora, o Planalto evita intervir diretamente. A orientação é deixar que as costuras avancem até 2026, mas há a percepção de que, se os embates se intensificarem, Lula terá que agir para preservar a unidade da base.

Veja também

Newsletter