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CPI: comissão aprova quebrar sigilo sobre visitas de Careca do INSS em ministério

Oposição tenta mapear ligações políticas, cronologias de encontros e canais de influência,

Careca do INSSCareca do INSS - Foto: Reprodução

A CPI do INSS aprovou, nesta quinta-feira (28), um requerimento para levantar as movimentações de entrada e saída de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “careca do INSS”, no ministério da Previdência. Ele é apontado como operador central, responsável por intermediar as relações entre associações fraudulentas e servidores públicos. Um outro requerimento, que visava quebrar o sigilo em relação às idas dele ao Senado, entretanto, não foi votado pelos parlamentares. 

Relatórios da PF indicam que Antunes movimentou R$ 53 milhões em valores oriundos de entidades sindicais e empresas relacionadas, muito acima da renda mensal de R$ 24 mil que declarava oficialmente. Parte desses recursos teria sido usada para comprar presentes a dirigentes do INSS, como um veículo Porsche de R$ 500 mil transferido para a esposa de um procurador do órgão.

O colegiado se reúne nesta quinta para ouvir seus primeiros depoimentos, enquanto governo e oposição ainda afinam suas estratégias de atuação. Com o mapeamento das visita de Careca, a oposição tenta mapear ligações políticas.

A pauta também inclui pedidos de registros de entrada e saída para identificar a circulação de dirigentes de entidades investigadas e personagens do caso em gabinetes do Senado e da Câmara, no Ministério da Previdência e no próprio INSS. A ideia é traçar cronologias de encontros e canais de influência, abrindo uma trilha de relacionamentos que possa embasar novas oitivas.

A oposição também colocou em pauta uma série de requerimentos para ampliar o acesso a dados relacionados às investigações. Entre eles estão relatórios internos da CGU, peças da AGU sobre estratégias de ressarcimento, inquéritos da PF e informações da Dataprev sobre a segurança do portal Meu INSS.

Enquanto isso, para tentar evitar novas derrotas, o governo também se mobilizou nos últimos dias para trocar integrantes da CPI. Senadores como Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL) deixaram o colegiado, e aliados do Planalto trabalham para garantir ao menos 18 votos fiéis à base. A avaliação entre governistas é de que parte das dificuldades até agora ocorreu porque a oposição conseguiu surpreender com a inclusão de requerimentos em sessões que seriam, em tese, apenas para ouvir depoimentos.

O primeiro depoimento é da defensora pública Patrícia Bettin Chaves, coordenadora do setor previdenciário da Defensoria Pública da União (DPU). Patrícia fez alertas sobre descontos em aposentadorias antes do início das investigações da PF. 

Depois dela, a Comissão ouvirá o delegado Bruno Bergamaschi, responsável pelo inquérito sobre o uso indevido de dados de beneficiários para a cobrança de mensalidades e serviços não solicitados. Esta reunião será fechada.

Estratégias traçadas
De um lado, a oposição tentará explorar possíveis conflitos de interesse da investigação conduzida pela Polícia Federal, que, na visão de parlamentares, pode ter poupado pessoas ligadas ao atual governo. Do outro, a base aliada do Palácio do Planalto faz uma ofensiva para ter maioria no colegiado para evitar novas derrotas, como a sofrida na disputa pelo comando do grupo.

Um dos depoimentos previstos nesta quinta-feira é o do delegado da Polícia Federal Bruno Oliveira Pereira Bergamaschi, responsável pela Operação Sem Desconto. O depoimento dele será sigiloso. Opositores pretendem questioná-lo sobre um contrato firmado pelo escritório do advogado Enrique Lewandowski, filho do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap), entidade investigada por fraudes no INSS. O ministro da Justiça nega conflito e que tenha ocorrido interferência do escritório do filho na pasta que comanda.

Em outra frente, a oposição também deve insistir na convocação de Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Frei Chico, contudo, não consta entre os investigados.

Na segunda-feira, um acordo costurado entre governistas e oposicionistas deixou de fora a convocação de Frei Chico. Membros da oposição, como o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), negam que houve um pacto para blindar o irmão de Lula. Mas, na prática, prevaleceu o entendimento de que seriam convocados apenas presidentes das entidades investigadas — o que automaticamente retirou da lista o dirigente sindical, que ocupa a vice-presidência do Sindnapi.

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