Ex-major entendeu pedidos de Netto para atacar comandantes como 'choradeira de perdedor de campanha'
Em depoimento ao STF, o réu no processo da trama golpista Ailton Barros disse que não quis contrariar general porque queria o seu apoio político
O ex-major do Exército Ailton Barros, réu no processo da trama golpista, afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (24) que entendeu os pedidos do general Braga Netto de ataques aos comandantes das Forças Armadas como “choradeira de perdedor de campanha”.
O diálogo dos dois consta na investigação da Polícia Federal e é um dos elementos que incluiu Ailton no processo, como integrante do núcleo de desinformação da organização criminosa.
— Na primeira mensagem, quando Braga Netto me envia aquela [mensagem de] cabeça aos leões, o entendimento que eu tive ali era de que era lamúria, choradeira de perdedor de campanha. Entendi naquele momento como desabafo, porque eu não tinha todo o contexto que os senhores têm, que teve reunião, porque eu nunca fiz parte do governo —afirmou Ailton, que é advogado.
A conversa entre os dois ocorreu em 14 de dezembro de 2022, após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas urnas. Conforme investigação da Polícia Federal, houve atuação de um núcleo golpista para pressionar os ex-comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, e do Exército, Freire Gomes, a aderirem o plano de golpe.
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No inquérito, consta que Ailton enviou a Braga Netto uma captura de tela com uma mensagem enviada ao general Freire Gomes, então comandante do Exército, em que o texto pedia uma ação por parte dos militares. “Ou você toma uma ATITUDE de PATRIOTA urgentemente ou todos nós MILITARES amargaremos pelo resto de nossas vidas a marca da DESONRA, da COVARDIA e seremos considerados TRAIDORES da PÁTRIA!”, diz um trecho.
Braga Netto, então, responde dizendo: “Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do Gen FREIRE GOMES. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”. Em resposta, Ailton Barros sugere pressionar o militar e escreve: “vamos oferecer a cabeça dele aos leões”. O ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, então, afirma: “Oferece a cabeça dele. Cagão”.
Agora ao STF, Ailton afirma que não possui relação alguma com Braga Netto e que só manteve conversas com ele por interesse de apoio político em eleições no Rio de Janeiro. Em 2022, ele foi candidato a deputado estadual.
— Ele não é meu amigo, não é meu colega. Nunca tive oportunidades de conversar com ele — disse. O ex-major afirmou que começou a ter “contatos visuais” com Braga Netto a partir do primeiro turno de 2022, quando disputou a eleição. Ailton contou que chegou a pedir ao general que gravasse um vídeo de campanha para ele, mas o então candidato a vice-presidente negou alegando motivos particulares.
O ex-major disse, ainda, que a primeira mensagem que enviou a Braga Netto foi enviada de maneira equivocada. No entanto, para buscar se aproximar dele, não quis contrariá-lo, e por isso mandou uma resposta falando em entregar a cabeça de Freire Gomes “aos leões”. “Vamos oferecer a cabeça dele aos leões”, escreveu Ailton na época.
— Não dei uma resposta para contrariá-lo porque eu queria me aproximar do general Braga Netto, era interessante para mim politicamente contar com ele, porque no Exército eu era escanteado, ninguém me dava espaço para nada — justificou.

