Jeronimo e Castro citam preocupação com PEC da Segurança
Governadores do Rio e da Bahia justificam alto número de mortes de suas polícias com argumento de que o crime "evoluiu"
Os governadores do Rio, Cláudio Castro (PL), e da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), manifestaram preocupação com o texto final da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada pelo governo Lula (PT), e argumentaram que os dados elevados de mortes causadas pela polícia nos respectivos estados se explicam por evoluções do crime organizado na últimas décadas.
As declarações ocorreram durante a participação de Castro e Jerônimo na mesa de debates Diálogos O Globo, nesta quarta-feira (20), com mediação da colunista Vera Magalhães.
Rio e Bahia estão entre os estados com maiores índices de letalidade policial, segundo dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025. Castro, governador que faz oposição ao governo Lula, ressaltou que tanto seu estado, quanto o de Jerônimo — que é do mesmo partido que o presidente — também encabeçam as estatísticas de apreensão de armas no país.
— Se um governador do PL e outro do PT são o primeiro e segundo lugar em apreensão de armas e letalidade policial, quer dizer que esse não é um problema de direita e esquerda — argumentou Castro. — Há uma desatualização do modelo constitucional de segurança pública. É preciso um rearranjo. Se não houver integração (com o governo federal), o estado fica sozinho.
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Jerônimo disse concordar com a avaliação de Castro de que os atuais problemas de segurança ocorrem devido a uma evolução do crime organizado, que hoje atua de forma mais estruturada no contrabando de armas de fogo e se misturou em atividades empresariais e no sistema financeiro.
— O novo modelo do crime organizado é esse que o Cláudio (Castro) trouxe, então precisamos dar um passo à frente. Às vezes as pessoas dizem, "há 20, 30 anos não era assim", mas o crime mudou — disse Jerônimo.
Embora seja aliado de Lula, o governador da Bahia apresentou ressalvas à PEC da Segurança, apresentada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com o objetivo de ampliar o escopo de atuação do governo federal nessa área. Jerônimo afirmou que o objetivo da PEC é bem-vindo, mas mostrou preocupação com possíveis invasões às atribuições dos estados, crítica normalmente apresentada por governadores de oposição a Lula.
— Chamamos a atenção do ministro Lewandowski porque não pode colocar em xeque o lugar dos estados nisso. Os secretários estaduais fizeram críticas contundentes, mas também deixaram suas contribuições — disse Jerônimo.
Castro também disse que enxerga pontos positivos no texto de Lewandowski, mas criticou o que enxerga como "falta de vontade política" do governo Lula.
— Minha grande crítica é ser um processo via PEC. Esse sistema que estamos falando, o Sistema Único de Segurança, já existe desde 2018. Você dizer que para ser implementado precisa de PEC é na verdade criar um subterfúgio. Acho que depende muito mais de vontade política do que de PEC. Até porque a PEC você manda e não faz a menor ideia de como vai voltar, não tem opção de sanção ou veto. Então a gente se preocupa, falei isso com o ministro Lewandowski — disse Castro.
A série Diálogos O Globo reúne lideranças relevantes da política nacional para discutir as principais questões do presente e do futuro do país. A última edição, há duas semanas, reuniu o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que divergiram sobre a possibilidade de anistia a envolvidos na tentativa de golpe do 8 de Janeiro.
Antes, os governadores de Minas, Romeu Zema (Novo), e do Piauí, Rafael Fonteles (PT), apresentaram visões díspares sobre os efeitos e as razões do tarifaço anunciado pelo governo dos EUA sobre exportações brasileiras. No primeiro encontro da série, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), destoaram ao avaliar a performance do governo Lula.

