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Meio Ambiente

Licenciamento ambiental: representantes da indústria e do agro comemoram aprovação de projeto

As entidades defendem que a proposta é fundamental para garantir segurança jurídica aos produtores rurais, ao criar novas modalidades para adesão de licenças

Plenário da Câmara vota projeto que muda licenciamento ambiental Plenário da Câmara vota projeto que muda licenciamento ambiental  - Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados

Representantes da indústria e do agronegócio comemoraram a aprovação do projeto de lei do licenciamento ambiental, aprovado nesta quinta-feira (16) pela Câmara. As entidades defendem que a proposta é fundamental para garantir segurança jurídica aos produtores rurais, ao criar novas modalidades para adesão de licenças e simplificar processos para implantação de novos empreendimentos.

Do outro lado, ambientalistas veem a flexibilização como inconstitucional. O texto segue para sanção do presidente Lula (PT).

Representante dos serviços e trabalhadores rurais do Rio Grande do Norte (Sistema Faern/Senar), o presidente José Vieira foi um dos que estiveram na Câmara nesta quarta-feira para solicitar ao presidente da Casa, Hugo Motta, apoio para que o PL fosse incluído na pauta de votações.

A agenda contou ainda com a presença da Federação da Agricultura da Paraíba (Faepa), da Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul (Famasul) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Em nota, a CNA avaliou que o PL "moderniza, desburocratiza, garante a segurança jurídica e ambiental e evita perdas de competitividade para o país". O coordenador de sustentabilidade da confederação, Nelson Ananias, defende que a lei é importante porque no Brasil não existe uma regra geral que trate do licenciamento ambienta. Segundo ele, todo o arcabouço foi moldado com resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e legislações estaduais, tornando o procedimento diferente em cada estado.

— O texto aprovado atende aos anseios do setor produtivo, ao evitar retrocessos e estabelecer segurança jurídica e ambiental para o país e para a economia — disse.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) também comemorou a aprovação. Em nota, a instituição disse que a nova legislação representa um "marco histórico", ao estabelecer regras claras e simplificadas para empreendedores e gestores públicos, e negou que o PL abre mão da proteção ambiental.

"Atualmente, mais de 5.600 obras públicas estão paralisadas ou aguardando licenciamento em função da complexidade e insegurança dos processos. Com a nova lei, essas obras — muitas delas voltadas à saúde, saneamento e infraestrutura básica — poderão sair do papel, beneficiando diretamente a população brasileira", pontou o comunicado.

Licenças renovadas automaticamente
O Sistema FAEP, composto pela Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná (SENAR-PR) e pelos sindicatos rurais, ressaltou, em especial, a facilidade prevista no PL que prevê que as licenças ambientais possam ser renovadas automaticamente, por igual período, sem a necessidade de análise pelas autoridades, a partir de declaração do empreendedor em formulário disponibilizado na internet.

Esse procedimento autodeclaratório poderá ser realizado, desde que não tenham sido alteradas as características ou o porte do empreendimento, e que todas as condicionantes ambientais tenham sido cumpridas. Segundo ambientalistas, essa alteração é uma das mais problemáticas, justamente por afrouxar a fiscalização.

— É um projeto voltado para o desenvolvimento do país, que retira entraves para empreendimentos não só no setor agropecuário, mas também de outras obras estruturantes — afirmou o presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette.

O argumento foi defendido também por entidades como a Secovi-SP, conhecida pela casa do mercado imobiliário; a Associação das Empresas de Loteamento Urbano (Aelo); a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC); além da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).

Ambientalistas apontam retrocesso
Organizações ambientalistas lamentaram a aprovação do projeto de lei. Coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo afirma que o texto aprovado é um "crime histórico" contra a natureza e "uma vergonha para o Brasil, que intenta se colocar como um líder climático".

— O Congresso Nacional, refletindo uma visão negacionista da relevância da política ambiental, acaba de jogar pelo ralo dois de seus principais instrumentos: o licenciamento ambiental e a avaliação de impactos ambientais. Caminhamos para uma era de intenso descontrole ambiental e de desrespeito a direitos assegurados expressamente pela Constituição — diz Araújo.

Assessora de Advocacy do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Luiza Chaer diz que o projeto aprovado é "recheado de inconstitucionalidades, que fomenta a insegurança jurídica e a judicialização, fere o pacto federativo e nos coloca em risco de ultrapassar o ponto de não-retorno da Amazônia"

— Tudo isso às vésperas de recebermos o evento ambiental mais importante do mundo, a COP 30 em Belém. Com os alertas de especialistas e as demandas da sociedade civil ignorados, a votação aconteceu na calada da noite em um plenário vazio - o maior retrocesso da política ambiental brasileira em 40 anos — avalia Chaer.

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